FÓRUM DE PRESIDENTES VI: Crise atual é a mais grave desde a grande depressão, diz professor
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As macrotendências da economia mundial e o Brasil neste contexto turbulento pelo qual o mundo vem passando foi o assunto tratado pelo professor de Economia da USP (Universidade de São Paulo) e do Instituo de Ensino e Pesquisa, Eduardo Gianetti da Fonseca, na manhã desta terça-feira (31/07), no Fórum de Presidentes das Cooperativas Paranaenses, evento realizado na sede do Sistema Ocepar, em Curitiba. PhD em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), Gianetti é membro do Conselho Consultivo da Febraban e autor de diversos artigos e livros. “Meu papel é mostrar como está o cenário internacional para depois tratar da realidade brasileira, das nossas perspectivas a curto, médio e longo prazo”, disse o professor, ao explicar que a dinâmica da sua palestra seria falar do geral para o particular, ou seja, fazer uma ampla análise do que houve de errado para desencadear a grave crise financeira que abalou os mercados em escala mundial, e como o Brasil recebeu o impacto e se adaptou à situação. Gianetti também falou do presente, ou seja, o que está sendo feito, não apenas no Brasil, mas também na Europa e em países como Argentina e Estados Unidos, e abordou o futuro, para “onde vamos, dentro do que é realista esperar daqui pra frente considerando as várias hipóteses acerca da situação econômica internacional”.
A crise – Na avaliação do professor, a atual crise é a mais grave desde a segunda guerra mundial e foi causada pelo que ele chamou de “hipertrofia do sistema financeiro”. “Não é todo dia que aparece uma crise dessa gravidade e dessa amplitude, eu diria que uma situação dessa acontece uma vez a cada geração. Não se trata de uma simples recessão. Trata-se do que propriamente vem sendo chamado de uma grande contratação”, explicou. Segundo ele, o que houve de errado no mundo é que a partir do início dos anos 2000, surgiu um fenômeno, que já tinha ocorrido no início no século 20 e que culminou na grande depressão dos anos 30, que é uma hipertrofia do sistema financeiro. “O mundo das finanças começou crescer de maneira desordenada e desconectada da economia real - a produção de bens e serviço cujo valor é socialmente reconhecido”, completa o professor.
Endividamento – Alguns números ilustram esta hipertrofia que, na sua opinião, precisa ser desfeita para que mundo volte ter uma normalidade de crescimento. O volume total de ativos financeiros em todo o mundo, por exemplo, que em 2002 era na ordem de US$ 96 trilhões, saltou para US$ 167 trilhões em 2008. “Um crescimento de 75% e que é injustificável”, frisa Gianetti. Segundo o professor, o endividamento total no mundo, principalmente nos Estados Unidos agravou ainda mais a situação de crise. “Como regra, entre 1950 e 1980, o endividamento total nos EUA ficou estável ao redor de 150% do PIB. No entanto, nesse período de hipertrofia do sistema financeiro saltou para 300% do PIB”, contou.
Dívida soberana– De acordo com Gianetti, assim que se percebeu que os ativos financeiros não eram sólidos e que os valores que estavam por trás deles não davam sustentação, “o mercado financeiro desequilibrou-se da tábua e caiu”. “E por muito pouco não embarcamos numa nova grande depressão. O que mudou foi a percepção. Aí vieram os governos e colocaram redes de proteção, ou seja, no lugar de assistir passivamente, fizeram pacotes heróicos de socorro, para que a situação não repetisse a vivida nos anos 30. O problema é que a crise de dívida privada virou uma crise de divida soberana e de incertezas em relação a capacidade dos governos em arcar com os compromissos que assumiram ao estatizar e socializar as perdas”, disse.
Futuro – Na opinião do professor, a crise ainda está em andamento, apesar de que há um esboço de uma solução mais permanente para a situação europeia, na medida em que o banco central europeu está se convencendo de que terá que ser um emprestador em última instância. “Mas isto é algo que está mais prometido do que feito. Passou o susto, passou o momento de beira de precipício, mas a gente ainda não pode dizer que esta página está virada. Esta novela de crise internacional ainda tem capítulos para acontecer”, disse.
Brasil - Segundo ele, o Brasil colheu os frutos da maturidade econômica e sofreu menos os impactos da crise, comparado a outros países. “A economia brasileira deve ter um reaquecimento na segunda metade deste ano, não vai ser nada espetacular e não poderia ser de outra maneira, mas esperamos retomar nossa velocidade de cruzeiro e crescer em torno de 3,5% a 4% este ano”, concluiu.
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