Entrevista: Micheletto fala sobre lei da biossegurança e do seguro rural
- Artigos em destaque na home: Nenhum
Ao participar da reunião da diretoria da Ocepar, na última segunda-feira (8), o deputado federal pelo Paraná e presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo, Moacir Micheletto (PMDB/PR), concedeu uma entrevista ao Paraná Cooperativo. Na oportunidade ele falou sobre a Lei de Biossegurança, projeto este que foi aprovado pela Câmara dos Deputados durante a convocação especial (05.02.04), que estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre cultivo, produção, pesquisa e comercialização de organismos geneticamente modificados (OGMs) e que agora deverá ser apreciada pelo Senado. Outro tema abordado pelo deputado é com relação ao seguro rural (lei 10.823), projeto este já foi aprovado pelo Congresso Nacional e que falta apenas o Ministério da Agricultura definir sua regulamentação. Confira a seguir esta entrevista:
Paraná Cooperativo - Deputado, qual é sua avaliação sobre o projeto de biossegurança que deverá ser apreciado pelo Senado nos próximos dias?
Micheletto - Em primeiro lugar, temos um caminho muito importante a ser percorrido. Nós lutamos muito para que este projeto fosse aprovado pela Câmara e houve avanços extraordinários, embora eu tenha votado contra, pois entendi que o setor produtivo não foi prestigiado, pois no artigo 13º fala que no plantio da soja, vou dar o exemplo da soja por ser a grande discussão que se trava no estado e no País, onde este artigo determina que para plantar esta leguminosa é preciso ter o laudo de impacto ambiental fornecido pelo Ibama. Nós achamos isto um absurdo, por uma razão simples, se o CNTBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprova que aquele cultiva aprova que aquele cultivar não tem problema nenhum ao meio ambiente, porque o Ibama tem que autorizar novamente, fato este que acabará engessando, como engessou até agora toda a política de transgenia dentro da pesquisa.
Paraná Cooperativo - Quais serão os próximos passos da Frencoop para discussão do projeto no Senado e quem sabe melhorar ainda mais a proposta?
Micheletto - Estamos mobilizados dentro do Senado Federal, contamos com o apoio do próprio Governo, não um apoio explícito mas um entendimento de que o Ministério da Agricultura esta encabeçando esta proposta e nós pretendemos derrubar naquela Casa este artigo, pois ele cria de fato um problema sério ao campo, não ao laboratório ou a pesquisa. Temos que impedir esta exigência absurda que é o laudo. O trabalho está sendo bem adiantado, mobilizamos diversos senadores, como nosso colega paranaense e defensor do campo, senador Osmar Dias, Jonas Pinheiro e tantos outros. Acredito que ainda no mês de março o projeto irá para votação em regime de urgência e venha ser aprovada a Lei de Biossegurança. É lógico que se houver mudança no Senado este projeto volta para a Câmara e já firmamos um pacto entre os deputados de que não iremos mexer mais no texto. Sabemos que temos alguns parlamentares, principalmente aqueles ligados a bancada evangélica e que discutem a parte do projeto que trata da célula tronco, mas estamos negociando para chegarmos a um entendimento nesse caso também. Nossa idéia é que já no mês de abril o presidente já sancione a lei e ela seja regulamentada.
Paraná
Cooperativo - Aprovação da Lei de Biossegurança acabará
com o conflito que existe hoje na questão dos transgênicos?
Micheletto - Olha, correto está o governador do Paraná em ter
a sua posição e correta está a Assembléia, principalmente
pelo fato de existir um vazio jurídico por não existir uma lei
maior. O Brasil é um País federativo e não confederativo,
se não acionarmos a Carta Magna, uma lei maior continuaremos com este
conflito, onde produtores de alguns estados podem plantar e outros estados não.
Críamos um conflito jurídico, técnico e científico.
O positivo neste governo é que existe a determinação de
se aprovar definitivamente uma Lei de Biossegurança e isto é uma
realidade. Quanto ao Paraná esta existindo um conflito entre o governo
e as entidades produtivas em decorrência de uma lei que foi aprovada no
vazio, no vácuo jurídico, por isso defendemos também a
aprovação urgente no novo Código Florestal, próximo
projeto que estamos trazendo à tona para ser discutido e aprovado. Se
a legislação estadual e a legislação federal esta
conflitando é por falta de uma lei maior que já esta a caminho.
O projeto irá acabar com este vazio e permitirá que instituições
importantes como CNTbio possa trabalhar, produzir, os centros de pesquisa como
a Coodetec, Embrapa possam trabalhar, afinal, esta questão de transgenia
não deve ser briga de ministro, de um técnico, nem de governo
é uma briga, uma solução que deve ser encaminhada pelo
Congresso Nacional, ele que tem que resolver as questões de legislação
no País.
Paraná Cooperativo - Outro projeto e que teve o seu empenho e da própria bancada da Frencoop é a Lei do Seguro Rural. O que ainda falta para ela se tornar realidade?
Micheletto - Estamos tentando resolver esta questão desde o governo passado, quando Pratini era ministro da Agricultura. Formamos uma Comissão Especial na Câmara, coordenada pelo ex-ministro Alisson Paulinelli, quando visitamos diversos países para ver como é que se aborda o assunto, como o México que tem uma fisionomia agrícola parecida com a nossa, aonde 98% dos agricultores mexicanos utilizam-se deste importante instrumento. Aprovamos este projeto, que teve como relator o deputado Luiz Carlos Heins do Rio Grande do Sul, já foi aprovado pela Câmara e pelo Senado o presidente Lula já sancionou e falta apenas a regulamentação por parte do Ministério da Agricultura. Nós da Frente Parlamentar do Cooperativismo e da Agricultura estamos atuando junto ao Mapa para que estas regras venham ser estabelecidas o mais rápido possível.
Paraná Cooperativo - O projeto pode ser considerado um avanço para o setor rural brasileiro?
Micheletto -
Sem sombra de dúvidas, esta lei fará com que as grandes seguradoras
do Brasil e do mundo constituam um pool. Consta na lei que 30% do prêmio
deverá ser bancado pelo Governo Federal, já estamos incluindo
isto no orçamento da república e o Paraná e Minas Gerais
serão os dois estados que serão beneficiados de imediato com esta
lei, principalmente para o plantio da próxima safra de inverno, principalmente
para a agricultura familiar. Estamos avançando neste campo, lembramos
também que haverá a necessidade da contratação de
aproximadamente 2 mil técnicos de nível superior para acompanhar
o tema junto aos produtores. Com medidas como iremos proporcionar o agricultor
tranqüilidade para que possa produzir cada vez mais e fazer do Brasil uma
verdadeira potência agrícola.