Empresários se vestem de preto contra a carga tributária
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O protesto contra a alta carga tributária brasileira, promovido no fim da tarde de ontem (19) por diversas entidades empresariais, sob a liderança da Associação Comercial do Paraná (ACP), pintou de preto boa parte do calçadão da Rua XV de Novembro, por onde os manifestantes desfilaram em passeata. Cerca de 400 empresários e representantes de diversos setores da economia, segundo dados da própria ACP, vestiram camisetas pretas e faixas de luto para um protesto bem humorado inspirado na Inconfidência Mineira, movimento resultou no enforcamento do alferes Joaquim José da Silva Xavier, no dia 21 de abril de 1792, motivado pela derrama, um imposto extra criado pela Coroa Portuguesa.
Manifesto - O grupo, que contou com a presença do superintendente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken percorreu boa parte da Rua XV, em direção à Praça Tiradentes, tendo à frente um ator que representava o mártir às vésperas do enforcamento. Um caixão e uma banda tocando marcha fúnebre completavam o clima do protesto. A forte chuva que começou logo no início do trajeto, no entanto, espantou boa parte dos manifestantes. No fim da passeata, pouco mais de 100 pessoas se reuniram no palco montado em frente à Catedral Basílica Metropolitana para assistir à encenação da história de Tiradentes e ouvir a argumentação dos manifestantes. O objetivo do evento, segundo o vice-presidente e coordenador do conselho político da ACP, Antônio Azevedo, era conscientizar os contribuintes sobre a quantidade de tributos pagos. “Queremos demonstrar para a população que o empresariado está disposto a lutar por seus direitos e que as altas cargas tributárias inibem o desenvolvimento econômico”. Segundo Azevedo, há 10 anos os tributos correspondiam a 23% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e hoje chegam a quase 40%.
Insuportável - Para o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Gilberto Amaral, que apoiou o evento, a carga tributária brasileira atingiu um nível insustentável. “Prova disso é o alto índice de inadimplência, tanto de pessoas físicas como de empresas, que não estão agüentando arcar com tantos impostos”, comentou. Segundo Amaral, mais de 2 milhões de empresas têm dívidas com o Fisco. “É um exagero. O movimento contra a Medida Provisória 232 (que aumentaria a carga tributária das empresas prestadoras de serviço) conseguiu reunir toda a sociedade e mostrar para o contribuinte que ele pode ser ouvido”, disse. O empresário da construção civil José Eduardo Sarmento, que participou da passeata, acredita que esse tipo de movimentação é a única saída contra a “tendência de aumentos” criada pelo governo federal. “Temos um contato próximo com deputados e parlamentares e eles levam muito a sério o clamor da população e do empresariado”, comenta.
Contraponto - Para o deputado federal pelo PT-PR, Dr. Rosinha, no entanto, o protesto foi oportunista. “Além de ter um caráter oportunista, essa manifestação é baseada numa falsa premissa. Ao contrário do que ocorreu no governo anterior, a relação entre impostos e PIB vem caindo no governo Lula”, afirma. O presidente do IBPT diz que realmente houve uma queda na carga tributária em 2003, primeiro ano do governo Lula, em relação a 2002, mas ela foi novamente recuperada no ano passado. Segundo dados do instituto, a carga tributária brasileira representava, em 2002, 35,84% do PIB e passou para 35,54% em 2003. No ano passado, no entanto, os tributos alcançaram 36,74%. (Com informações do jornal Gazeta do Povo)