Em busca de novos mercados

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Ministro da Agricultura defende promoção comercial e investimentos em produtos de maior valor agregado para que o país conquiste mais espaço no comércio internacional. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, gosta de repetir uma frase, durante suas viagens internacionais, para convencer investidores a operar no Brasil. ‘‘O Maracanã onde será jogada a partida final na Copa do Mundo da agricultura e da alimentação é o Centro-Oeste brasileiro. E vamos ganhar essa partida. Quem quiser aparecer na foto de campeão, venha se aliar a nós’’. A afirmação de Rodrigues, que em geral arranca gargalhadas das platéias, resume a empolgação do governo com as perspectivas de crescimento para a região Centro-Oeste. Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, o ministro destaca os esforços do governo para garantir o escoamento da safra, crédito aos produtores e condições vantajosas nas negociações comerciais com outros países. A seguir, os principais pontos da entrevista.

CORREIO BRAZILIENSE — Qual o papel do Estado como indutor para que as expectativas em relação ao desenvolvimento do Centro-Oeste se concretizem?
Roberto Rodrigues — Em primeiro lugar, o Estado tem de se preocupar com a abertura de mercados. Portanto, três ou quatro ações são essenciais neste caminho.

CORREIO — Quais são?
Rodrigues — Primeiro, o das negociações internacionais. Ter uma posição ambiciosa, seja na Organização Mundial do Comércio (OMC) na Alca, nas relações européias com o Mercosul ou nas negociações bilaterais, como fizemos com a China agora, quando conseguimos um grande êxito para a agricultura, na área da carne, especificamente. A segunda coisa é promoção comercial. Embora seja um assunto de responsabilidade do setor privado, que tem de fazer o marketing das coisas que quer vender, o governo pode ajudar muito colocando especialistas nas embaixadas de alguns países essenciais, para participarmos de feiras, exposições e debates mostrando a ação do agronegócio no Brasil. Será uma espécie de adido agrícola. Esse trabalho passa por promoção em artigos, revistas etc. Quem vai tomar a decisão sobre o que vai comprar é a dona de casa. Em vez de fazer artigo sobre o Brasil em revista de bordo, é melhor fazer nas revistas que as mulheres de Boston, Sant Louis e Paris lêem. Vamos convencer as donas de casa de que somos os melhores do mundo. O terceiro ponto é o tema de agregação de valor. Não basta cuidar de vender matéria-prima. Se fosse uma coisa singela, todo mundo já teria feito. Por que não é singelo? Porque todo mundo quer dar emprego no seu país, e não no país de origem da matéria prima. O alemão compra o nosso café, torra e mói e se transforma no maior exportador mundial de café torrado e moído, e nós exportamos menos de 1% do café mundial torrado e moído e temos um terço da produção de café do mundo. Então, por que isso não é fácil? Porque o alemão vai dar emprego na torrefação e moagem no país dele. E depois, o café torração e moído tem de ser produzido para redes de supermercados diretamente. Você não pode pegar esse café e sair oferecendo para quem quiser. Isso não existe. É preciso ter parcerias com as redes de distribuição de produtos. E nisso o governo pode ajudar bastante. Esses três pontos são essenciais: negociações, promoção comercial e agregação de valor via parcerias.

CORREIO — A produção agrícola brasileira tem crescido muito nos últimos anos. Como fazer frente a esse aumento de produção com tantos problemas de infra-estrutura que dificultam o escoamento da safra?
Rodrigues — Temos trabalhado para reduzir os gargalos, mas os recursos são escassos. Mandei para o Ministério dos Transportes um estudo com todas as estradas brasileiras com dificuldades de tráfego e a tonelagem de grãos que passa por cada uma delas. Com isso, estabeleci uma prioridade para elas serem cuidadas, de acordo do maior volume de tonelagem. Com base nesse trabalho é que o ministro Alfredo Nascimento (Transportes) decidiu as ações tomadas hoje.

CORREIO — E na área de armazenagem?
Rodrigues — Fizemos dois projetos. O Moderinfra, que está financiando armazém nas fazendas. O Brasil tinha, quando assumimos o governo, 5% de armazenagem nas fazendas. Para se ter idéia de como é isso, os Estados Unidos têm 40% e a Argentina, 25%. Estamos muito atrás e isso é ruim. Ao armazenar na própria fazenda, o produtor fica dono da própria produção. Não depende do armazém onde está guardada a produção. Ele vende na hora que quiser, na condição que quiser. E ainda pode trabalhar o produto dele e fazer uma commodity. Em março do ano que vem teremos 10% de armazenagem de fazenda. Ainda é pouco, mas dobramos. Estamos também com o Provercoop, um programa de apoio ao cooperativismo para armazenagem e agregação de valor. A verdade é que os recursos do governo são escassos. O que precisamos é aprovar as parcerias público-privadas. Quando isso acontecer, vamos criar condições de investimento não só interno mas também externo.

CORREIO — O que está sendo feito na área de escoamento da produção?
Rodrigues — Com a ferrovia Norte-Sul descendo até Goiás, como é o nosso plano, e uma ligação da Ferronorte, teremos um escoamento férreo da região norte do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul fantástico, somando-se a Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e vai criar uma grande expectativa de escoamento.

CORREIO — O governo tem elevado o volume recursos para financiamento da safra. A tendência é de volumes maiores nos próximos anos?
Rodrigues — O crédito deve ser cada vez mais direcionado ao pequeno produtor. Assim como assistência técnica. E acho que as coisas têm de ser casadas. Assistência técnica tem a ver com o crédito. E precisa de uma grande articulação através de cooperativa para isso acontecer. Vejo repasses a bancos cooperativos como um grande elemento para isso. Muito mais do que o crédito direto do governo. O governo pode repassar recursos para os bancos cooperativos porque eles sabem onde o calo aperta de fato.

CORREIO — Mas o governo está empenhado nisso?
Rodrigues — Sim. Na outra mão, criei um conjunto de novos papéis de crédito rural modernos, que tem a ver com a própria comercialização. São mecanismos mais ágeis. O assunto está para ser decidido pelo Congresso. Esses papéis todos juntos, somados ao seguro rural, que também será implementado este ano, darão uma grande mudada na cara da agricultura comercial brasileira, de maneira profissional e competitiva. Vamos criar mecanismos de crédito acoplados à comercialização.

CORREIO — Como conciliar o aumento de áreas plantadas para atender a uma demanda mundial crescente por alimentos com pressões sociais como a do Movimento dos Sem-Terra e ambientalistas? O Brasil vai manter o título de maior exportador mundial de grãos com grandes danos ao meio ambiente?
Rodrigues — Isso não existe. É uma falácia. Dois números que destroem esse argumento. O primeiro é o seguinte: a área plantada no Brasil nos últimos 15 anos cresceu 24%. A produção física em toneladas de grãos cresceu 111%. Isso significa que, se tivéssemos hoje a mesma tecnologia e produtividade que tínhamos há 15 anos, a área plantada teria de ser duas vezes e meia o que é hoje. Aí sim é que ela seria agressiva em termos ambientais. O padrão tecnológico que a agricultura brasileira está utilizando é altamente preservacionista. O segundo número é pasto. Temos hoje quase 200 milhões de hectares de pastagens. Não é floresta amazônica nem cerrado, é pastagem, área já conquistada. Os dados de que dispomos hoje são de que, nos próximos 15 anos, 30 milhões de hectares de pastagens serão oferecidos para agricultura. Portanto, zero de agressão ambiental. É zero. É lógico que continuam derrubando a floresta amazônica. Mas isso é um problema de polícia. Se observamos as imagens de satélites hoje, as grandes aberturas que estão sendo feitas na Amazônia são oficiais e autorizadas pelo Ibama. O problema é o pequeno produtor rural da Amazônia. Porque esse é um pobre, miserável e que corta uma árvore a cada semestre para viver daquela árvore. Isso não aparece no satélite. E são milhares de pequenos produtores. Por isso vamos de criar um mecanismo de renda para ajudar o pequeno produtor da região da Amazônia. Vai ficar pronto daqui a um ou dois meses.

CORREIO — Os transgênicos vieram mesmo para ficar?
Rodrigues — O governo tem uma divisão nesse assunto. O transgênico é um capítulo da biotecnologia. Temos de olhar a biotecnologia como ciência. A transgenia, como um resultado da biotecnologia. O que a biotecnologia pode produzir via transgênicos? Produtos resistentes à seca. Agora que dominamos o genoma do café, por exemplo, se usarmos a transgenia ou a biotecnologia no café podemos criar um produto resistente à geada. Produtos resistentes à seca já existem. Então podemos criar produtos mais ricos em proteínas ou menos ricos em aminoácidos. A terceira onda da transgenia nos Estados Unidos é a medicamentosa. São produtos alimentares com medicamento. Em vez de tomar remédio, a pessoa come um produto com um medicamento natural. A transgenia é um avanço da ciência. É irreversível e irrecorrível. Não há como fugir disso. A discussão é técnica e científica. Criar mecanismos da biotecnolgia e da transgenia que não sejam agressivos ao meio ambiente. Essa é a questão. Mas você não pode fazer isso sem abrir a pesquisa. Se não fica naquela história de que quem defende os transgênicos quer royalties para a Monsanto. Só alguém desinformado pensa isso. Quero abrir a transgenia no Brasil exatamente para não dar royalties para a Monsanto. É para eu desenvolver a minha pesquisa no Brasil sem depender dos outros. Precisamos acabar com essa falácia. A legislação de biossegurança que estamos propondo no Congresso é para dar condições de nacionalizar a ciência da biotecnologia no Brasil. Com isso teremos condições de competir igualmente com os países que hoje detêm a biotecnologia e nós não podemos tê-la porque está vetada a pesquisa no Brasil. (Correio Braziliense)

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