Em discurso proferido na última quarta-feira (06/11), no Senado Federal,
o senador Osmar Dias fez um apelo para que seu Projeto de Lei do Cooperativismo,
que está três anos naquela casa, seja finalmente apreciado. O
senador destacou a importância do sistema cooperativista e da necessidade
de se aprovar uma legislação que atenda as necessidade do setor,
que para continuar produzindo, gerando emprego, divisas e riquezas ao País
precisa do apoio do governo e do Congresso Nacional. A seguir, a íntegra
do discurso.
Srªs e Srs. Senadores,
na segunda-feira desta semana, participei de um evento muito importante, a
que estavam presentes algumas autoridades do Rio Grande do Sul, Estado do
Senador Pedro Simon. Estávamos em Curitiba, comemorando os 100 anos
de existência do Sistema de Crédito Cooperativo do Brasil, o
Sicredi, que, hoje, só no Paraná, já tem mais de uma
centena de agências e tem como meta, até o ano de 2005, estar
instalado em todos os Municípios do Paraná, financiando, em
especial e com prioridade, pequenos e médios agricultores.
É claro que a presença dos gaúchos naquele evento se
deu porque esse sistema de crédito foi criado no Rio Grande do Sul,
em 1902, portanto há 100 anos, por um padre europeu que trouxe a experiência
do crédito cooperativo para o Brasil e instalou a primeira cooperativa
de crédito, evidentemente em instalações rudimentares.
A credibilidade do sistema cooperativo brasileiro ajudou a consolidar esse
sistema de crédito para financiar a agricultura brasileira.
Não tenho dúvida de que, como acontece nos países europeus
mais desenvolvidos, onde, aliás, o cooperativismo começou, teremos,
em alguns anos, o crédito cooperativo, o Sicredi, sendo sustentáculo
econômico das cooperativas brasileiras. Também não tenho
dúvida de que o Governo, que se afasta há algumas décadas
do financiamento da produção agropecuária do País
vai transferir, aos poucos, essa responsabilidade para a iniciativa privada,
em especial para as cooperativas organizadas com o seu banco de crédito,
o Sicredi.
Isso é muito importante, porque, se há uma dificuldade evidente
do Governo Federal em financiar a produção agropecuária,
é preciso que algum instrumento moderno o substitua. O Governo, principalmente
por intermédio do Banco do Brasil, financiava o plantio, a comercialização
das safras e o sistema produtivo nacional, em especial o da agropecuária.
Nós temos mesmo que comemorar esse aniversário de 100 anos do
sistema de crédito.
Mas, Sr. Presidente, quero falar também sobre o Projeto de Lei do Cooperativismo,
de minha autoria, que há quase três anos está no Senado
Federal e ainda não teve seu relatório sequer apreciado. Num
primeiro instante, houve a designação do relator, Senador Francelino
Pereira, que, por algumas razões pessoais, não fez o relatório
e passou essa responsabilidade para o Senador Leomar Quintanilha.
Sr. Presidente fiz questão de falar, hoje, desta tribuna, para fazer
um apelo ao Senador Leomar Quintanilha: que S. Exª apresente seu relatório,
porque existem três projetos que modernizam a legislação
cooperativista no Senado Federal - o projeto de minha autoria, o projeto de
autoria do Senador José Fogaça e o projeto de autoria do Senador
Eduardo Suplicy.
É claro que defendo o meu projeto, e tenho uma razão muito especial
para considerá-lo o mais apropriado e oportuno: é que ele foi
escrito pelas cooperativas brasileiras dentro do espírito que inspirou
a sua criação.
Pelo princípio de que as cooperativas brasileiras é que entendem
melhor qual é o verdadeiro espírito do cooperativismo e qual
deve ser o caminho a ser seguido pelas cooperativas de produção,
de trabalho, pelas cooperativas médicas, enfim, pelas cooperativas
prestadoras de serviço, é que estou defendendo que o meu projeto
seja apreciado urgentemente pelo Senado Federal. Se esse projeto tivesse sido
transformado em lei, não estaríamos agora sendo obrigados a
lutar pela isenção do PIS e do Cofins. Inclusive, a Câmara
dos Deputados deve votar hoje a medida provisória que tem como um dos
objetivos isentar as cooperativas brasileiras e a exportação
da agroindústria brasileira do PIS e Cofins, porque há hoje
o entendimento no Brasil de que se não aumentarmos o volume das exportações,
não faremos a economia crescer e, por conseqüência, não
vamos criar os empregos necessários para abrigar o enorme contingente
de trabalhadores desempregados que hoje aguardam uma solução
para este que é o maior problema do Brasil, o desemprego.
Se há a consciência de todos os Partidos, tanto dos Partidos
que hoje estão no Governo quanto dos Partidos que estarão no
Governo a partir do dia 1º de janeiro, de que é preciso fazer
que a economia cresça, de que é preciso abrir novos mercados,
de que é preciso dar ao Brasil poder de competir com mais eficiência,
é preciso considerar que devemos aprovar a medida provisória
que contém a proposta de isenção do PIS e Cofins. Só
que isso se tornou necessário porque não se votou a tempo o
projeto de lei que apresentei para modernizar a legislação cooperativista
em nosso País.
Defendo, no meu projeto, não apenas a isenção do PIS
e Cofins para as cooperativas, mas que as cooperativas de trabalho e as cooperativas
médicas também sejam isentas do pagamento dos 15% de seguridade
social que hoje praticamente retiram a sua capacidade de competir, porque,
evidentemente, as empresas da iniciativa privada que não estão
organizadas em cooperativas e que não pagam os 15% de seguridade social
acabam sendo beneficiadas e as cooperativas que deveriam ser estimuladas a
se organizar são desestimuladas e muitas delas, inviabilizadas.
Eu defendo a aprovação deste projeto como forma de estabelecermos
um novo patamar de desenvolvimento das nossas cooperativas. Não é
possível ignorar que foram as cooperativas brasileiras as responsáveis
pelo desenvolvimento agroindustrial do nosso País, porque 60% da produção
agropecuária dos Estados do Sul e uma boa parcela da produção
agropecuária do Brasil são, hoje, comercializadas por cooperativas;
portanto, são produzidas por cooperados ligados a um tipo de cooperativa
no Brasil.
Devemos reconhecer a importância deste modelo cooperativista que se
instalou para desenvolver, ao lado do cooperativismo de crédito, o
cooperativismo da produção e do trabalho, para que tivéssemos
este avanço significativo que a agricultura brasileira experimentou,
especialmente nos últimos anos.
Lembro que, no início dos anos oitenta, o Brasil plantava a mesma área
que planta hoje e a produção era a metade da atual, o que significa
que, praticamente, duplicamos a produtividade em função do alto
nível de tecnologia que hoje temos na nossa agricultura. Devemos isso,
sem nenhuma dúvida, a este instrumento muito poderoso que representa
o cooperativismo brasileiro.
Por essa razão, Sr. Presidente, faço um apelo ao Senador Leomar
Quintanilha, para que elabore o relatório a respeito do meu projeto
de lei que tenta modernizar a legislação do cooperativismo,
de modo que os Senadores possam votá-lo. Solicito também à
Mesa que participe deste esforço, a fim de que votemos ainda nesta
legislatura o projeto de minha autoria, porque, se ingressarmos no próximo
ano com todas as reformas a serem apreciadas nesta Casa, dificilmente teremos
oportunidade de votar a proposição atinente ao cooperativismo.
Peço a atenção da Mesa, do Senador Leomar Quintanilha,
Relator do projeto, e dos Senadores que presidem as Comissões nas quais
tramita este Projeto de Lei do Cooperativismo. Aqui está o Senador
Lúcio Alcântara, membro da Comissão de Assuntos Econômicos,
a quem faço um pedido especial: que coloque o Projeto de Lei do Cooperativismo
na pauta da reunião de terça-feira da próxima semana,
a fim de que a Comissão o aprecie, e nós possamos pedir urgência
para votá-lo aqui no plenário. É o que solicito ao Senador
Leomar Quintanilha, que já deveria ter apresentado o relatório,
mas que, por alguma razão, ainda não o fez.
Pretendo fazer, na próxima semana, um requerimento. Caso este relatório
não seja apresentado, vou pedir que o projeto venha diretamente ao
plenário do Senado, para que seja apreciado aqui, porque há
mais de dois anos estou aguardando o relatório para votarmos o Projeto
de Lei de Modernização do Cooperativismo brasileiro.
É o apelo que faço a todos aqueles que têm a responsabilidade
de proporcionar ao cooperativismo brasileiro uma lei que permitirá
o seu fortalecimento, que implicará também o fortalecimento
da agricultura e da agroindústria brasileiras, setores fundamentais
para a criação de empregos e para o enfrentamento do enorme
desafio do desemprego em nosso País.