Discurso de Lula no Dia Internacional do Cooperativismo

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Palácio do Planalto - 04.07.2003


Meu caro companheiro Roberto Rodrigues, Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
Meu companheiro José Dirceu, Ministro-Chefe da Casa Civil,
Minha companheira Dilma Roussef, Ministra de Minas e Energia,
Meu companheiro Jaques Wagner, Ministro do Trabalho,
Meu companheiro Miguel Rossetto, Ministro do Desenvolvimento Agrário,
Meu companheiro Olívio Dutra, Ministro das Cidades,
Meu companheiro Márcio Lopes de Freitas, Presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras,
Membros do Parlamento brasileiro,
Senadores e Senadoras aqui presentes,

Eu quero começar prestando uma homenagem ao Dia Mundial do Cooperativismo. E essa homenagem, não sei se o coral está preparado, mas vocês tinham ensaiado uma música - "Aquarela do Brasil" - e vocês não vão sair daqui sem cantar "Aquarela do Brasil". Eu pediria que vocês cantassem, agora, numa homenagem ao Dia Internacional do Cooperativismo. Se não estavam preparados, que se preparem.

(Apresentação do Coral)

Eu tinha pedido para eles cantarem "Triste Partida", mas eles não tinham ensaiado. Então, fica para outra vez.

O cooperativismo é lembrado quase sempre como um setor da economia miúda, perdido na escala das grandes e megaempresas.
Ele pode ser visto assim. Pode ser visto também como um pequeno escudo de defesa. Mas eu acredito que, acima de tudo, o cooperativismo é uma importante alavanca de conquista de um desenvolvimento mais equilibrado para o Brasil.

Exatamente por isso, este governo está trabalhando para fortalecer sua presença no país, com medidas que modernizem o sistema cooperativo, credenciando-o a desempenhar um papel relevante na coordenação da economia nacional.

Foi por isso que autorizamos recentemente a criação de cooperativas abertas de crédito, que estavam vetadas pelo Banco Central desde 1999.

Elas vão ampliar o braço financeiro do setor, dar um fôlego indispensável à sua consolidação e expandir sua influência no mercado.

Foi por isso também que criamos uma linha de crédito para agregar valor à produção, o Prodecoop, fundamental à expansão da agroindústria cooperativa.

É para isso, ainda, que estamos determinando a criação de um grupo, uma força-tarefa interministerial, que vai propor alterações para atualizar a Lei das Sociedades Cooperativas, de 1971.

Esse mesmo grupo vai detalhar ações para desobstruir gargalos econômicos e técnicos que ainda dificultam a expansão do cooperativismo entre nós, bem como agilizar programas de apoio às exportações e à capitalização do sistema, através de fundos com recursos mais baratos do nosso querido FAT.

Nossa intenção é muito clara.

Fortalecer a estrutura do cooperativismo é parte indissociável de uma política de desenvolvimento comprometida com a solidariedade e a justiça social.

Significa dizer que o modelo econômico que perseguimos visa, além do bom desempenho de indicadores convencionais, recolocar o país na rota do crescimento.

E estamos trabalhando duro para que isso aconteça de forma consistente e sustentável.

Porque nós queremos que o bolo já cresça sendo repartido, longe da aritmética da exclusão que reserva fatias generosas a poucos e a raspa da assadeira para a maioria.

A maneira de produzir, todos nós sabemos, determina o jeito de viver.

A distância existente entre economia e sociedade nada mais é do que a escolha errada da fôrma que tem condicionado o desenvolvimento brasileiro nos últimos anos.

Por isso queremos fortalecer e expandir também o cooperativismo. Porque ele atende a duas urgências cruciais deste país, neste momento: voltar a crescer e fazê-lo com igualdade social.

A economia solidária surgiu no mundo exatamente para isso.

Para ajudar a superar condições políticas e econômicas que têm deixado fora dos benefícios do progresso a grande maioria do povo. Surgiu como ferramenta de auto-proteção social. Mas acabou provando sua importância como instrumento de desenvolvimento - porque introduz na economia uma lógica redistributiva que regula o mercado, desbloqueia as oportunidades, barateia custos e democratiza os lucros.

E isso tudo, sem abrir mão da eficiência, que até cresce - e cresce muito.

Basta dizer que hoje, no Brasil, um agricultor cooperado tem uma produtividade média 20% superior à do mercado.
É exatamente do que o país mais precisa neste momento: de uma economia eficiente, a favor do ser humano.

O Estado sozinho não tem recursos nem capacidade para injetar essa dinâmica retificadora na trajetória do crescimento.
Por isso, a parceria com um sistema cooperativo sólido e massivo ocupa espaço nobre na agenda do nosso governo.
As cooperativas brasileiras já haviam provado na prática sua relevância social e a competência produtiva.

Mais que um exemplo de eficiência, elas ofereciam um caminho diferente para o desenvolvimento nacional.

O cooperativismo congrega mais de cinco milhões de brasileiros em 13 setores diferentes, como já foi dito pelo Márcio e pelo Roberto.

Temos a maior cooperativa de consumo da América Latina, em Santo André, com um milhão de associados.

No campo, o sistema cooperativo reúne 25% da economia agrícola e 20% dos produtores;

Responde por 115 mil quilômetros de rede de energia elétrica;

Produz 29% da soja brasileira;

62% do trigo brasileiro;
45% do leite brasileiro; e
39% do algodão;

E o que é mais importante: 55% dos cooperados rurais são pequenos proprietários com até 50 hectares de terra.

Tudo isso é sabido há muito tempo. Mas permanecia ignorado na agenda do país - Por quê?

Porque o reconhecimento de uma opção estratégica como essa pressupõe a disposição política de se buscar um desenvolvimento com face humana.

É justamente disso que se trata agora.

Em muitos municípios onde se instalam, as cooperativas rapidamente se transformam na mais importante empresa econômica, no maior empregador e no principal gerador de receitas do lugar. Melhor que isso: fortalecem de tal forma a identidade regional que sua população passa a ter cacife político e social para planejar o seu próprio futuro.

Vejam o exemplo da Cocamar, em Maringá, que ganhou mercado até de grandes multinacionais. No mesmo Estado do Paraná, 55% do agronegócio estão ligados ao cooperativismo.

Portanto, não estamos falando apenas de uma eficiente máquina de produção, mas de uma plataforma de fortalecimento do poder local e nacional.

Apoiá-la é apenas uma questão de coerência deste governo.

O país não pode se conformar em ter sua economia entre as 15 maiores do mundo, enquanto o povo ocupa o sexagésimo-nono lugar na lista de desenvolvimento humano entre as nações.

Nós queremos que o princípio organizador da nossa economia passe a ter na justiça social a sua maior referência.

É por isso que escolhemos o cooperativismo como um parceiro preferencial nessa caminhada.

Muito obrigado. Boa sorte! E viva o cooperativismo!

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