CRISE NA AGRICULTURA: Para Ocepar, medidas anunciadas são insuficientes
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Os produtores rurais estão concluindo o cultivo de inverno sem ter resolvido os problemas da última safra, a de verão. Passados seis meses do ano, o preço internacional dos commodities continua em baixa, a taxa de câmbio continua desfavorável e, por conta da estiagem, que castigou as lavouras entre os meses de janeiro e março, os agricultores continuam sem condições de honrar com seus compromissos financeiros. Diante da caótica situação vivida pelo setor do agronegócio, em especial no estados do Sul, o governo federal adotou algumas medidas para tentar amenizar o impacto financeiro dessa conjuntura desfavorável. O fato, porém, é que os instrumentos adotados, sejam eles políticos ou econômicos, ainda não foram suficientes para resolver os problemas registrados na safra 2004/2005, e que deverão se refletir na próxima safra também. Os prejuízos que ocorreram na safra de verão terão reflexo no cultivo de inverno. Descapitalizados e sem recursos para um novo plantio, os agricultores investem menos em tecnologia e a preocupação maior passa a ser com o resultado da safra de inverno, que pode vir a ter sua produção e produtividade comprometida.
Recursos insuficientes - João Paulo Koslovski, presidente da Ocepar, lembra que o governo federal prorrogou o vencimento dos contratos de custeio e dos investimentos. Mas o problema, ressalta, é que essa decisão contempla apenas o crédito rural, enquanto que a maior parcela do plantio é custeada com recursos de mercado. “O que o governo fez foi no âmbito do financiamento agrícola, os demais produtores ficaram descobertos. Precisamos ter, o mais rápido possível, liberação de recursos suficientes para que atendam tanto aos produtores como as cooperativas”, lembra Koslovski. Duas das principais medidas anunciadas pelo governo federal também tem sua eficácia questionada pela Ocepar. Uma delas diz respeito ao financiamento para integralização da cotas partes das cooperativas. Trata-se de um financiamento para capitalização e que proíbe a sua utilização para o pagamento dos débitos dos cooperados. A questão é que o produtor continua com débitos vencidos e os agentes financeiros alegam não ter recursos financeiros disponíveis para essa linha de crédito.
FAT - A segunda medida, que consiste na utilização de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), disponibilizados apenas para municípios em estado de emergência, que no Paraná são apenas 40. O governo liberou recursos do FAT para que os fornecedores de insumos possam prorrogar o prazo para a quitação das dívidas dos produtores. Porém, enquanto o produtor teria mais prazo, até 2 anos, para pagar sua dívida com juros de 8,75% ao ano, o fornecedor estaria pagando 9,75%, mais TJLP e o spread bancário. E o fornecedor resiste em arcar com o ônus da equalização desses juros e do spread. O dirigente ressalta que tanto as cooperativas como também os produtores não têm recursos para sustentar o preço dos produtos, por falta de crédito para a comercialização da safra. O próprio ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues tem se aborrecido com a demora da liberação de recursos para sua pasta. Durante reunião realizada na última quarta-feira (15) na Câmara dos Deputados ele criticou o baixo orçamento do Ministério da Agricultura. "Estamos na contramão da importância sócio-econômica que o setor representa para o País", reclamou.
Manifestação – Com o objetivo de demonstrar ao poder público e a sociedade os problemas enfrentados pelo setor do agronegócio, produtores rurais de todo o Brasil planejam uma marcha a Brasília. Será um protesto contra a falta de ações e de apoio contra a crise que atinge atualmente a agropecuária brasileira. A manifestação está marcada para o dia 29 de junho. Batizada de "Tratoraço - Marcha a Brasília", acontecerá com uma grande carreata pelo Eixo Monumental, passando pelo Palácio do Planalto e chegando em frente ao Congresso Nacional. No dia 27, segunda-feira, as máquinas começam a chegar na Capital Federal onde ficarão estacionadas em quatro pontos estratégicos da cidade. Na terça-feira, 28, os tratores entram na cidade onde à tarde ocorrem as primeiras manifestações, culminando com a marcha no dia seguinte.
Carta do Paraná - No dia 31 de maio ocorreram manifestações em 12 estados, inclusive no Paraná, que reuniu mais de 12 mil produtores em Londrina, chegando a 70 mil o número de produtores mobilizados em vários pontos do País. As reivindicações estão relacionadas aos efeitos da seca, desvalorização do dólar e queda nos preços das commodities agrícolas, além de recursos escassos para o crédito agrícola. Durante a manifestação em Londrina foi aprovada a "Carta do Paraná", documento que aponta medidas urgentes para enfrentar a crise no campo. Entre as reivindicações dos produtores, a principal é o refinanciamento das dívidas da categoria junto às cooperativas e fornecedores de insumos. Caso isso não aconteça, os produtores ficarão inadimplentes e não terão condições de plantar a próxima safra com o nível tecnológico necessário. Os fornecedores de insumos, por sua vez, não conseguirão financiar a sua parte em complemento ao escasso crédito rural.