Carne bovina: Mercado exige organização, qualidade e rastreabilidade

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O Seminário sobre as perspectivas para o mercado da carne bovina no Paraná realizado hoje na Ocepar, mostrou que embora haja espaço para crescimento das exportações brasileiras, o mercado é restrito, coberto por cotas e barreiras, mas que pode ser ampliado se o setor produtivo brasileiro se organizar para produzir de acordo com os padrões de qualidade e sanidade exigidos pelos importadores. Promovido pela Seab, Ocepar, Faep e demais instituições ligadas à pecuária de corte, o seminário teve a participação de mais de cem pessoas. Foi aberto às 9 horas pelo presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski e pelo secretário da Agricultura Orlando Pessuti. O ex-secretário Antonio Polloni representou, na solenidade de abertura, o presidente da Faep, Ágide Meguette, estando presentes ainda o delegado do Ministério da Agricultura no Paraná, Valmir Kovaleski, o presidente da Apras, Pedro Zonta, o representante da Emater, Luiz Fernando Brondani, o diretor do Sindicarne, Gustavo Fanaya e o coordenador da comissão de pecuária da Faep, Rogério Berger, entre outros representantes da cadeia produtiva da carne.

Capacidade produtiva - Ao abrir o seminário, o presidente da Ocepar João Paulo Koslovski afirmou que o Paraná tem, "sem sombra de dúvida e sem demérito para qualquer outro estado, a melhor tecnologia em termos de produção agropecuária do país. Temos um trabalho de pesquisa fantástico, um trabalho de extensão rural e privado dos melhores, uma condição estrutural que não se compara a muitos estados da federação. Certamente temos competência para que esse setor deslanche efetivamente". Koslovski lembrou que o Brasil pode ocupar novos mercados de carne que estão se abrindo entre os 90 países aos quais vendemos produtos agropecuários, desde que o setor se organize para avançar em termos de sanidade e qualidade. Elogiou a liderança do secretário Pessuti na condução das discussões do setor e apelou para que as instituições continuem comprometidas "com um trabalho que levará o Paraná a ser um grande produtor de carne".

Desenvolvimento do setor - O secretário da Agricultura Orlando Pessuti enfatizou que o seminário era a seqüência de várias ações, reuniões e seminários que vêm sendo realizados objetivando dar uma dinâmica maior ao grupo que vem discutindo por abrir caminhos para uma pecuária de corte muito mais eficiente. Disse que apesar dos avanços na produtividade, ainda não se chegou ao ideal, que está sendo buscado pelas várias instituições que lutam pela sanidade animal "nos níveis que a que chegamos, para que sirvam de referência para os mercados que buscamos". Pessutti discorreu sobre o trabalho conjunto realizado pela Seab, Ocepar, Faep e outras instituições, na busca dos ajustes necessários à obtenção da melhor produtividade e qualidade no setor de carnes, tendo em vista a conquista e manutenção dos mercados externos.

Exigência dos mercados - O diretor de exportação do grupo Torlin Amambaí Indústrias Alimentícias, João Martins Rodrigues Jr, mostrou, em palestra, as exigências e dificuldades do mercado externo. Martins, que atua com exportações de carnes há 15 anos, deixou bem claro que o mercado externo é muito protegido com cotas e barreiras econômicas, alimentares e culturais. Uma das dificuldades do Brasil para ampliar seu mercado é o limite de participação nas cotas. Na Hilton, por exemplo, o Brasil tem apenas 5 mil toneladas do total de 56.300 toneladas, ficando bem atrás da Argentina (38 mil toneladas), apesar do rebanho bovino argentino ser menos de 1/3 do brasileiro. O pequeno Uruguai, por exemplo, tem uma cota de 6.300 toneladas, portanto maior que a brasileira. A sanidade e a qualidade dos rebanhos teriam sido fundamentais no estabelecimento dessas cotas..

Em busca do ideal - Apesar das restrições dos mercados da Europa e Estados Unidos, novos mercados estão se abrindo e precisam ser conquistados pelo Brasil. Mas, para isso, os exportadores precisam ganhar confiança dos exportadores através da qualidade dos produtos exportados, atendendo as exigências que são peculiares a cada comprador. Martins aproveitou para elogiar o encontro promovido em Curitiba, pois contribui para discutir problemas que afetam toda a cadeia produtiva, como a rastreabilidade, que trará novas oportunidades de abertura dos mercados. Frisou que os produtores conhecem bem, na cadeira pecuária, a produção, e agora precisam aprender se conduzir em termos de exigências dos mercados. Chamou a atenção para a necessidade de profissionalização do setor, condição para melhorar o padrão dos animais, aumentando a produtividade e a qualidade dos produtos.

Projeto carnes da Corol - No período da tarde, o presidente da Corol, Eliseu de Paula, fez uma apresentação sobre o "Projeto Carnes" que está sendo idealizado pela cooperativa. Com a experi6encia adquirida com a cana-de-açúcar e a laranja, Eliseu explicou que a proposta é adotar o modelo integrado par carnes, em especial com bovinos, para num segundo momento investir em aves e suínos. O projeto, disse, é um tripé formado por segurança, liquidez e rentabilidade. Entre as justificar para entrar no mercado da carne, Eliseu utiliza os números da demanda, destacando que entre 2000 e 2003 o consumo per capta de frango no Brasil passou de 29,9 kg para 36,6 kg/ano; da carne bovina de 35,8 kg para 36,5 kg; e suína de 10,5 kg para 13,4 kg. Outro ponto importante, é que na área de abrangência da cooperativa existem 7.450 propriedades rurais, com um rebanho bovino de 514.703 mil cabeças.

Cooperativa e produtor - Para viabilizar a atividade, o projeto da Corol define obrigações tanto para a cooperativa como ao produtor cooperado. A cooperativa vai garantir assistência técnica, financiar insumos, receber a produção, fazer o adiantamento do custo produção, industrializar, comercializar, apurar resultados, abater custos operacionais e fazer a complementação de preço. Do outro lado, o produtor se compromete em produzir de acordo com os padrões de marcado, seguindo orientações técnicas e adotando o sistema de rastreabilidade, tem o compromisso da entrega dos animais programados e na época determinada e assinar contrato de financiamento pelo prazo mínimo de amortização do investimento. De acordo com Eliseu, a idéia é fazer com que o produtor participe de toda a cadeia produtiva.

Exportação - Toda a produção de carnes da Corol será voltada ao mercado externo. A cooperativa vai buscar um parceiro internacional, com o objetivo de formar uma joint-venture. Na avaliação de Eliseu, é uma maneira de desenvolver uma atividade transparente, situação que segundo ele não é possível no mercado interno, que atua com uma política muito informal.

Carne bovina na Coopavel - O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, fez um relato dos trabalhos desenvolvidos pela cooperativa na área de carnes, com as atividades nas áreas de suínos e aves, e também sobre o projeto bovino, que deve começar a operar no próximo ano. Baseando sua apresentação em números, ele mostrou o avanço do mercado de frango, falou das dificuldades comerciais da carne de suíno e sugeriu que o abate e a industrialização de bovinos ainda é uma atividade pouco rentável e de uma política comercial e mercadológica muito difícil. Apesar disso, ele explicou que a Coopavel está iniciando nesse setor por acreditar no crescimento desse mercado, interno e externo, e também porque o governo federal tem incentivado investimentos no setor do agronegócio.

Números - Os dados que revelam o investimento necessário para a implantação de um frigorífico, repassados por Grolli, chegam a impressionar. Disse, que um frigorífico tipo exportação custa hoje R$ 8 milhões, para uma capacidade de 500 cabeças/dia, com a possibilidade de ampliar para 1000 cabeças/dia. O custo operacional também é alto, destaca o presidente da Coopavel, chegando a R$ 300 mil por mês. Grolli também falou da dificuldade de se colocar o produto no mercado interno, em especial nas grandes redes de supermercado. Os acordos comerciais para se tornar fornecedor de um supermercado acabam onerando os custos produção e diminuindo significativamente as margens de lucro. Mesmo com uma realidade de mercado como a vivida hoje, Grolli se diz otimista, levando em consideração que o Brasil é o 3o mercado exportador de carne bovina do mundo. Explicou, que o Brasil pode aumentar a oferta, mas é preciso reduzir custos.

Produtores - Ao final do encontro, a discussão foi sobre a visão dos produtores sobre o mercado da carne bovina, com a participação da comissão técnica da bovinocultura de corte da Faep. Na apresentação da Corol e da Coopavel, Edia Sander, produtor da Aliança Mercadológica de Guarapuava, relatou a experiência do grupo no setor de carnes e as alternativas e ações integradas encontradas para se viabilizar no mercado.

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