Brasil prefere evitar conflito com a China
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As ameaças do setor privado de contestar na Organização Mundial do Comércio (OMC) as barreiras da China às importações de soja brasileira não foram levadas oficialmente ao governo e dificilmente terão acolhida em Brasília. Os Ministérios da Agricultura e de Relações Exteriores preferem tratar diplomaticamente das divergências com o país que é o terceiro maior comprador de produtos do Brasil, e que acusa, com razão, os exportadores brasileiros de terem incluído indevidamente sementes tratadas com fungicidas em cargas de soja. Desde abril, o país rejeitou cinco cargas de soja brasileiras, que saíram dos portos do Rio Grande e de Santos, alegando contaminação. Segundo um diplomata que acompanha o assunto, desde o ano passado a China vem alertando os exportadores que sua política para a soja é de "tolerância zero". O embarque de sementes impróprias ao consumo humano em meio à carga é reconhecido pelos próprios produtores como uma possível tentativa de algum exportador, de livrar-se indevidamente de grãos proibidos pela legislação brasileira. O tema provoca constrangimento entre as autoridades, que se dizem com poucos argumentos para rebater as queixas dos chineses. Para o Itamaraty, a questão da soja foi levantada pela China como um "problema técnico", e é assim que o governo brasileiro tem maior chance de tentar uma solução, sem transformar a divergência em um conflito que possa se estender a outros aspectos da relação comercial entre os dois países.
Balança comercial - O saldo comercial do Brasil com a China, no ano passado, foi de quase US$ 2,4 bilhões em favor do Brasil. Mais de 70% das vendas à China são de outros produtos. A soja em grão representou quase 29% das exportações brasileiras para a China no ano passado, quando as vendas do produto cresceram 80%, e, nos primeiros quatro meses deste ano, as exportações de soja somaram totalizaram US$ 355,7 milhões, 23% do total valor vendido aos chineses. Para o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, o problema pode interferir nas relações entre os Brasil e China e, por isso, há o interesse comum de que o embargo às exportações de soja seja tratado como "uma questão técnica". Ontem, ele participou de uma reunião convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do qual participaram também os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para discutir o assunto. "Não é um assunto político, é eminentemente técnico. Mas é evidente que isso preocupa o governo brasileiro. Esse incidente, de certa maneira, perturba essa intenção de ambos os governos de ampliar essas relações (políticas e comerciais)". O ministro revelou que o Palácio do Planalto está avaliando se há a necessidade de promover uma conversa por telefone entre Lula e o presidente da China, Hujintao. O Ministério convocou uma reunião da Câmara Setorial da Soja hoje, para debater o tema.