Brasil precisa sofisticar a sua pauta de exportações

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O jornal Valor Econômico deste final de semana (17 a 19.09.04) traz em seu espaço de opiniões um excelente artigo alertando sobre a necessidade de aperfeiçoarmos ainda mais os mecanismos internos para exportarmos cada vez mais. Publicamos na íntegra este artigo para você também possam ter a oportunidade de refletir sobre o tema:

“O Relatório sobre o Comércio Mundial da Organização Mundial do Comércio traz boas notícias no curto prazo para o Brasil e motivos de preocupação sobre o futuro das exportações do país. O comércio global deve aumentar 7,5% em 2004, o dobro do crescimento da produção mundial. Há espaço para o avanço das vendas brasileiras, a exemplo de 2003, quando elas evoluíram 21%, acima do porcentual de expansão dos países asiáticos (17%) e da média da América Latina (9%). Por outro lado, parte significativa dos produtos que o país comercializa no exterior ou não estão entre os mais dinâmicos ou se encontram em declínio.

Segundo o estudo da OMC, os bens que mais crescem nas transações mundiais são os equipamentos para escritório (computadores etc) e para telecomunicações, ao lado dos alimentos processados. A participação brasileira no primeiro grupo, de alta tecnologia, é irrisória, ao passo que, na contramão de todos os exportadores agrícolas relevantes, vem perdendo participação no segundo grupo. Em 1990, 47% das vendas externas brasileiras de produtos agrícolas eram de processados, fatia que encolheu para 40% em 2001-2002. Apenas o Chile seguiu o mesmo caminho do Brasil. Nova Zelândia, Austrália e China foram na direção contrária, com a particularidade chinesa de que o país está importando bens agrícolas não processados e vendendo cada vez mais produtos de maior valor agregado.

A parcela dos produtos processados subiu de 42% para 48% do total do comércio mundial de bens agrícolas. A tendência a favorecer esses produtos têm vários motores. O crescimento da renda em vários mercados, segundo a OMC, leva o consumidor a ter condições e querer ampliar seu leque de escolhas, que pode ser atendido pela diferenciação dos produtos. Os bens processados permitem esta diferenciação, além da óbvia vantagem de ter um valor agregado maior que os não-processados. Há também um maior número de lares com menos pessoas e aumento da participação feminina na força de trabalho, o que mesmo nos países em desenvolvimento, justifica um consumo maior e crescente dos processados.

Se a fatia dos produtos agrícolas processados vem se expandindo consistentemente, a da agricultura como um todo no comércio mundial tem declinado ao longo do tempo. Ela foi de 9,3% em 2002, após ter chegado, para comparação, a 29% em 1963. Entre 1990 e 2002, o comércio agrícola cresceu em valores nominais 40%, cerca de 4% ao ano , abaixo da média de expansão dos manufaturados e dos serviços. O avanço é desigual entre os produtos do campo não processados. Crescem abaixo da média as vendas de cereais e carnes e acima da média as de bebidas, os peixes e as flores. O relatório aponta para a tendência à elevação do grau de processamento de produtos como carnes, café e cacau, entre outros.

Outros itens importantes da pauta brasileira de exportações, a exemplo dos bens agrícolas, apresentam quedas quando o cenário utilizado é o de longo prazo. Apesar da excepcional valorização dos preços dos metais, as vendas de produtos minerais têm crescido abaixo da média mundial, e, entre 1990 e 2002, isso foi especialmente verdadeiro para os produtos de ferro e aço e os têxteis. A análise da OMC só corrobora com números o que já se consolidou como objetivo de boa parte dos principais concorrentes do Brasil - a busca incessante por agregação de valor. Ainda que a agricultura brasileira tenha dado saltos espetaculares de produtividade, ao incorporar tecnologias de vanguarda, o mercado mundial pede ainda um novo esforço e premia os produtos processados. Não há motivos para que o Brasil não possa avançar nesta direção a médio prazo, desde que concentre esforços para isso.

A maior parte do relatório da OMC lista fatores que podem dar coerência a uma política econômica e comercial e potencializar seus efeitos. Uma das conclusões que serve de alerta para o Brasil é a de que a "criação de conhecimento é um ponto central nas explicações do crescimento de longo prazo das nações". Quarenta por cento do crescimento dos países da OCDE são atribuídos à produtividade de suas economias. O estudo aponta ainda que a infra-estrutura faz a diferença, assim como a qualidade das instituições, resumidas como eficiência do governo, garantias legais e controle da corrupção, que ampliam os efeitos de políticas macroeconômicas saudáveis. Nestes pontos o Brasil ainda tem muito a avançar.” (Jornal Valor Econômico)

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