Brasil abastecerá mercado mundial de soja, dizem pesquisadores
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O Brasil abastecerá o mercado mundial de soja. Esta é uma realidade que o mercado agrícola norte-americano está assimilando, de acordo com o pesquisador Harold Kauffman, da Universidade de Illinois (EUA), participante da 7.ª Conferência Internacional de Pesquisa em Soja, que reúne 1.300 autoridades no assunto em Foz do Iguaçu. Kauffman diz que a comunidade científica norte-americana "tira o chapéu" para a evolução brasileira em produção de soja na última década. "Não podemos competir no mesmo nível do Brasil. O país fez um tremendo trabalho e mostrou que a América do Sul pode oferecer competição aos Estados Unidos", afirma. O pesquisador da Universidade de Illinois diz ainda que os empresários do campo dos Estados Unidos terão de buscar novas opções - como a venda de commodities de alta qualidade ou a produção de orgânicos - para competir com o Brasil. "Vamos buscar a qualidade, pois a quantidade de produção estará com o Brasil", comenta. Kauffman, que visita o Brasil constantemente há cerca de três décadas, diz ter ficado bem impressionado com a evolução da agricultura local. "A soja tem tido muito sucesso. Foi uma mudança muito grande, pois há 20 anos o arroz era o principal produto do país. À medida que o mercado de futuros se desenvolver no Brasil, os produtores também vão poder controlar melhor o preço do produto", afirma.
Transgênicos - A produção de soja transgênica entra em uma segunda fase no mundo inteiro, de acordo com o pesquisador. Ele diz que os produtos modificados até agora beneficiaram somente os produtores - que conseguiram cortar custos. Essa segunda geração de transgênicos traria adição de vitaminas, proteínas e aminoácidos para os consumidores, além de possibilidade de crescimento de pesquisas de combustíveis alternativos. Kauffman afirma que o consumidor dos Estados Unidos, ao contrário do que ocorre na Europa e na América Latina, aceita bem os produtos geneticamente modificados. "Há uma boa relação entre a sociedade e a comunidade científica, uma relação de confiança construída durante muitos anos", comenta. Pelo entendimento de que não há perigo para a saúde da população, o pesquisador diz que os produtos geneticamente modificados não são rotulados em território norte-americano. Um mercado que deve crescer nos próximos anos, conforme Kauffman, é o de soja orgânica. "Hoje, cerca de 5% da população prefere os orgânicos, mas a preocupação com uma alimentação saudável deve crescer nos próximos anos", comenta. O pesquisador prevê que os rótulos dos produtos norte-americanos, que hoje trazem informações sobre colesterol e calorias, devem ganhar a menção de produção orgânica nos próximos anos.
Área maior
- O Brasil pode ganhar mais 50 milhões de hectares de área
plantada com soja nas próximas décadas. Essa é a previsão
do pesquisador Amélio Dall'Agnol, pesquisador da Embrapa-Soja e vice-presidente
da comissão organizadora da 7.ª Conferência Internacional
de Pesquisa em Soja. Segundo ele, o país tem a capacidade de usar as
áreas de Cerrado, na Região Centro-Oeste - hoje usadas com pastagem
ou não aproveitadas pela agricultura -, caso o mercado consumidor de
soja aumente e os preços internacionais continuem bons. "Seremos
capazes de produzir 200 milhões de toneladas de soja sozinhos, abastecendo
o mundo inteiro", afirma. Dall'Agnol afirma que as perspectivas são
animadoras. O mercado chinês, que tem 1,3 bilhão de consumidores,
compra cada vez mais soja. No ano passado, o país importou 30 milhões
de toneladas, das quais 7 milhões (ou 23%) saíram das lavouras
brasileiras. "A soja, para eles (os chineses), é como o feijão
para nós", comenta. "A China e a Índia têm grandes
mercados consumidores, mas capacidade zero para aumentar a produção,
por causa do espaço territorial." Com a entrada da China na Organização
Mundial de Comércio (OMC), o pesquisador diz que as negociações
para a exportação de soja processada ficaram mais fáceis.
"Antes, a China não tinha taxação para os grãos
e cobrava porcentual de 122% para o farelo, o que fazia a venda do grão
ser mais vantajosa", comenta. Entretanto, ele afirma que a maioria dos
compradores externos do Brasil prefere comprar o produto "in natura",
fazendo o processamento internamente. (Gazeta do Povo)