\"As cooperativas têm mostrado competência, foco e gestão profissional\"
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Em entrevista ao Paraná Cooperativo, o presidente da Organização
das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, fala sobre
o desempenho das cooperativas em 2003 e dos desafios para 2004. Em sua avaliação,
os resultados fantásticos registrados no ano passado devem servir de
estímulo para que o sistema continue crescendo, evoluindo e assim ocupando
espaços na cidade e campo, na produção e ainda junto aos
poderes constituídos, como Executivo, Legislativo e Judiciário.
Márcio de Freitas também faz uma análise do governo Lula,
do mercado internacional e destaca as diretrizes do cooperativismo brasileiro
para este ano.
PR Cooperativo - Como o senhor avalia o primeiro ano do governo Lula para o Cooperativismo?
Márcio Lopes de Freitas - O primeiro ano do governo gerou muita expectativa. Foi o primeiro ano de mandato e as torneiras estavam todas fechadas, tivemos poucos recursos no ambiente de desenvolvimento nacional e naturalmente as cooperativas sofreram esse mesmo impacto. Por outro lado tivemos uma abertura política de relacionamento com o Poder Executivo federal como nunca. Pela primeira vez tivemos oportunidade de participar dos principais órgãos consultivos do governo como o Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDES); o Conselho de Segurança Alimentar (Consea) e o Conselho Nacional do Agronegócio (Consagro). A OCB também participou de todos os fóruns de discussões de cada um dos ministérios e isso mostra claramente que há uma abertura de diálogo para o cooperativismo como nunca antes. O que consagrou isso foi o dia 5 de julho, quando pudemos comemorar o Dia Internacional do Cooperativismo pela primeira vez no Palácio do Planalto com o presidente da República, que naquela ocasião criou o grupo interministerial para resolver uma agenda proposta pelo Cooperativismo brasileiro. No entanto, o que coroa o espaço que o Cooperativismo obteve em 2003, foi sem dúvida nenhuma, a presença e o convite ao maior líder do cooperativismo brasileiro, Roberto Rodrigues, para ser ministro da Agricultura. A presença dele no Ministério da Agricultura consagra toda essa abertura e ajuda a consolidação de todo esse processo. Portanto, pensando no balanço de 2003 diria que é muito positivo. Não poderia ser melhor para um primeiro ano de governo com uma economia praticamente paralisada. Acho que o cooperativismo teve bons espaços de diálogo e terá grandes oportunidades daqui para frente com o processo de desenvolvimento econômico.
PR Cooperativo - Qual sua avaliação sobre o desempenho das cooperativas em 2003?
Márcio Lopes de Freitas - Se considerarmos o desempenho das cooperativas por setor, nós só podemos ficar gratificados. O cooperativismo agropecuário está vivendo, junto com a agropecuária brasileira, uma fase fantástica. As cooperativas em estados como o Paraná, Santa Catarina e São Paulo tiveram desempenho superior ao crescimento do agronegócio como um todo. As cooperativas têm mostrado competência, foco, gestão profissional do negócio e estão indo muito bem. Da mesma forma as cooperativas de Crédito tiveram um desempenho fantástico no ano passado. Ocuparam espaço, tiveram crescimento em volumes, legislações mais adequadas e com diálogo mais adequado com o Banco Central.
PR Cooperativo - Quais as perspectivas para o cooperativismo brasileiro em 2004?
Márcio Lopes de Freitas - Acredito que no ano de 2004 nós vamos ser contemplados com um melhor ajustamento da parte do marco legal do cooperativismo. Devemos ter um ajuste da legislação cooperativista brasileira que está prometida há muitos anos. A reforma da Lei 5.764 é o ponto principal, mas junto com ela vem a definição do ato cooperativo para todos os ramos do cooperativismo e o adequado tratamento tributário a esse ato cooperativo. A lei é o marco legal que regulamenta os processos tributários, fiscais e até de entendimento com os vários ministérios e os diversos órgãos do poder. Por exemplo, a definição do ato cooperativo no Ramo Trabalho provavelmente vai dirimir dúvidas que hoje o Judiciário tem quanto à presença do cooperativismo de Trabalho como um processo de desenvolvimento e inclusão social. Acredito que esse é o grande desafio de 2004. Em contrapartida, no plano econômico, acho que será um ano em que as cooperativas continuarão a se desenvolver e nós vamos ter um ano de evolução econômica com redefinição, com consolidação de conceitos dentro do movimento cooperativista diante dessa nova visão de mercado, de mundo e de novo governo no Brasil.
PR Cooperativo - Quais as diretrizes da OCB para este ano?
Márcio Lopes de Freitas - A OCB tem definidas quatro grandes tendências do cooperativismo que foram reafirmadas no seminário que nós fizemos em Recife (o II Seminário Tendências do Cooperativismo Contemporâneo) no final do ano passado. A gestão profissional; a educação cooperativista; a responsabilidade social e a formação de redes de intercooperação são tendências ainda muito fortes e muito necessárias no cooperativismo como um todo. A OCB vai reafirmar essa posição. Estas são diretrizes voltadas ao Sistema. Mas também não podemos esquecer que é preciso ocupar espaços. Tanto a OCB como as organizações estaduais precisam conquistar espaços institucionais junto aos governos, junto aos poderes Legislativo e Judiciário.
PR Cooperativo - O senhor acredita que sistema ainda tem muito espaço para crescer no País? E o que falta para isso acontecer?
Márcio Lopes de Freitas - O cooperativismo não acontece de cima para baixo, o cooperativismo acontece é de baixo para cima. Para que o cooperativismo continue ocupando espaços, as cooperativas existentes precisam continuar a evolução dos seus processos. Na medida em que os bons exemplos de cooperativas se propaguem e a população entenda o movimento cooperativista como uma alternativa interessante viável de agregação de renda, haverá crescimento do cooperativismo. Mas não estamos preocupados com o crescimento numérico do cooperativismo, porque o importante é o fortalecimento do cooperativismo. O importante é que as cooperativas estejam sólidas, bem definidas nos seus conceitos, atuando de uma maneira responsável, de uma maneira correta e isso para mim é fortalecimento e crescimento.
PR Cooperativo - Como o senhor está vendo a negociação do Brasil junto à OMC e a Alca e qual o poder do Cooperativismo nesse processo?
Márcio Lopes
de Freitas - Vejo isso como fundamental para o Brasil. Os ministros delegados
pelo presidente Lula para conduzirem as negociações, entre eles
os ministros Roberto Rodrigues, Luiz Fernando Furlan e Celso Amorim, têm
competência para fazer isso muito bem. As negociações com
a OMC, Alca, Comunidade Européia e mesmo com o mercado asiático
são fundamentais. O Brasil é um país exportador, é
um país que tem um enorme potencial de produção agrícola
e de produção de subprodutos e produtos do agronegócio
e para isso é necessário ter azeitado os processos comerciais.
É fundamental quebrar barreiras, manter portas abertas, manter todos
os contatos, manter todas essas condições. O cooperativismo dentro
disso tem um papel fundamental, porque na medida em que as negociações
forem evoluindo, teremos portas mais abertas para os negócios das cooperativas
e para os cooperados dessas cooperativas. Já fazemos parte do Fórum
de Negociações Internacionais do Ministério da Agricultura
e estamos presente mantendo nossas posições e informando ao governo
o que o cooperativismo espera desse governo.