Artigo: O Brasil e a revolução da agricultura mundial
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As correntes obscurantistas
que a todo custo procuram travar o desenvolvimento científico do País
- a Lei da Biossegurança recém-editada é um exemplo dessa
ação nefasta -, prestariam um grande serviço à Nação
se abrissem seus corações e mentes ao pensamento do pai da "Revolução
Verde" e prêmio Nobel da Paz de 1970, Norman Borlaug, a respeito
da produção de alimentos a partir de organismos geneticamente
modificados (OGMs).
Na opinião de Borlaug, as grandes vantagens da utilização
dessa tecnologia são o aumento da produtividade na agricultura e a redução
do uso de herbicidas. "Quem é contra produtos transgênicos
usa argumentos cegos e coloca o sentimento à frente da razão e
da lógica", enfatiza.
Convém lembrar
que a Revolução Verde - que projetou mundialmente o prestígio
do agrônomo Borlaug, hoje com 88 anos - teve como esteio um programa de
treinamento e de transferência de tecnologia desencadeado na década
de 60 e destinado a promover o aumento da produção de alimentos
em países pobres, principalmente da África, Oriente Médio
e Ásia. Embora não tenha proporcionado a solução
do problema da fome no mundo, que também tem razões de natureza
política, essa iniciativa, patrocinada pela Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO), foi exitosa ao evitar a morte de milhões de pessoas por desnutrição.
Borlaug veio ao Brasil para uma estada de 12 dias, que incluiu visitas a regiões
do cerrado produtoras de grãos. Apesar de estar familiarizado com a evolução
da agricultura brasileira desde que aqui esteve pela primeira vez, há
cerca de dez anos, não deixou de manifestar surpresa e entusiasmo.
O motivo são os avanços, quantitativos e qualitativos, obtidos graças à aplicação das tecnologias desenvolvidas pelas instituições de pesquisa nacionais e aplicadas pelos agricultores com o apoio dos órgãos de extensão rural. Esse esforço científico, aliado ao espírito empreendedor dos empresários do setor agropecuário, é que permitiu ao Brasil reinventar a agricultura tropical e transformar-se em potência agrícola no espaço de apenas três décadas.
Na avaliação
do eminente cientista, que antevê uma nova revolução na
agricultura mundial nos próximos 30 anos, o Brasil não só
terá "papel central" na produção de alimentos,
mas, sobretudo, na disseminação de tecnologias, via acordos de
transferência, sobretudo para países da África, que têm
solos pobres como os do cerrado e tidos, até há pouco, como inférteis.
"O Brasil tem demonstrado pioneirismo no uso adequado do solo", disse
Borlaug em uma de suas palestras, referindo-se ao sistema de plantio direto
na palha.
Esse método de semeadura, que dispensa o uso de arado ou grade para revolver
o solo, já cobre 20 milhões de hectares de terras produtivas,
ou 41% dos 46,6 milhões de hectares destinados à agricultura comercial
no País, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento. De acordo com o ministro Roberto Rodrigues, o País tem
condições de praticamente dobrar a área, para 90 milhões
de hectares, em prazo curto.
Mas no resto do mundo - à exceção da África Sub-saariana - está esgotada a possibilidade de aumento da produção de alimentos via ampliação da área plantada. "Cerca de 85% do aumento da produção (para atender ao crescimento da demanda) de alimentos no mundo terá de vir das áreas já cultivadas", afirma Borlaug.
Essa necessidade premente de elevação dos índices de produtividade - produzir maiores volumes no mesmo espaço - aumenta a relevância da transgenia na nova agricultura. Embora recomende "precaução" no uso dessa tecnologia, o pai da "Revolução Verde" corrobora com um dos mais fortes argumentos dos defensores dessa inovadora tecnologia: "Não há evidências de que os transgênicos causem danos em animais e humanos". De acordo com ele, em todo o mundo 67 milhões de hectares já são cultivados com sementes transgênicas.
Para Borlaug, caberá à transgenia exercer o papel que as demais tecnologias de melhoramento de sementes, e outros métodos modernos, desempenharam nos últimos 50 anos. Se nesse campo os cientistas brasileiros deram um notável exemplo de competência - reconhecida internacionalmente -, pode-se imaginar a contribuição que poderão oferecer ao mundo, caso sejam desatadas as amarras que tolhem o seu trabalho na área dos OGMs.
Não existem
razões científicas para que se cerceie aqui a pesquisa, a produção
e a comercialização de alimentos transgênicos, a não
ser que se queira condenar o País a marchar para trás enquanto
os outros avançam.