ÁGUAS DO AMANHÃ I: Semeando nascentes
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A região de Cascavel, no Oeste paranaense, não se destaca apenas pela robustez de sua produção agroindustrial. A terra vermelha que abriga plantações de soja e milho a perder de vista também é fértil em mananciais. Situada no divisor de águas de três importantes bacias hidrográficas do estado - Piquiri, Iguaçu e Paraná 3 -, a área rural do município serve de laboratório para um projeto pioneiro de recuperação de nascentes, no qual preservação e produção caminham juntas.
Água Viva - O projeto Água Viva, mantido pela Coopavel Cooperativa Agroindustrial em parceria com a multinacional Syngenta desde 2004, ajuda produtores da região a limpar e recuperar nascentes em suas propriedades, melhorando a qualidade de vida das famílias e gerando água abundante e regular para os animais e plantações, incrementando inclusive a renda dos produtores.
Contaminada - A ideia surgiu após uma repentina mortandade no criadouro de aves de um dos cooperados. Análises revelaram que a água das nascentes estava contaminada. Passados sete anos, a ideia se alastrou não só para dentro do estado como também foi replicada no Nordeste do país e no Paraguai. Ao todo, cerca de 5 mil nascentes já foram recuperadas pela cooperativa, mas estima-se que esse número pode chegar a 10 mil.
Objetivos - O engenheiro florestal Carlos Alberto Constantino, da Coopavel, lista os três objetivos do projeto: "Recuperação da nascente, adequação da propriedade à legislação ambiental e melhoria da qualidade de vida", enumera. O processo consiste em limpar a área ao redor do olho d'água, fazer uma pequena barragem com pedra e cobrir com uma camada de solo-cimento. Canos de PVC posicionados na parte mais alta do dique liberam a água para consumo, que pode ser encanada para uso ou simplesmente correr para o terreno. Na parte de baixo da barragem, fixa-se um cano mais grosso, que é aberto de tempos em tempos para a retirada de terra e raízes acumuladas. Existe ainda um caninho na parte superior onde opcionalmente pode-se colocar algumas gotas de água sanitária para fazer a desinfecção.
Técnica - À primeira vista, a técnica parece agressiva ao meio ambiente. Agentes do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) chegaram a questionar a técnica. Porém, logo se convenceram de que esta era a melhor maneira de manter a água nas propriedades. "Saiu da terra, a água já está contaminada. Você precisa proteger ela na nascente", argumenta Laercio Boschini, engenheiro agrônomo e gerente da Universidade Corporativa da Coopavel (Unicoop), que dá assistência aos produtores na implantação do projeto. "A gente trabalha com nascentes que foram assoreadas. Não vamos deixar como a original, mas vamos melhorar as condições", pontua Carlos Constantino.
Garoto-propaganda - O produtor João Carlos Nazari, que tem 8 minas d'água em sua propriedade, virou garoto-propaganda do projeto. "A gente não tinha muita noção. Antes, o gado circulava por aqui, tinha soja plantada a cinco metros da nascente. Era a visão que a gente tinha", confessa. Hoje ele nos mostra duas fontes de água totalmente recuperadas, que lembram um pequeno oásis. A mata ao redor foi replantada e a água, puríssima, abastece a residência da família.
Início - O trabalho de recuperação das nascentes na propriedade de Nazari começou em 2005. "Ainda faltam duas! Todo ano a gente faz uma nascente para o pessoal do colégio aqui ao lado aprender", conta com orgulho o produtor. Ele espera que mais colegas seus sigam o exemplo. "A gente via a água vazando e achava que nunca ia acabar. Antigamente, a primeira coisa que se desmatava era perto da mina d'água. A terra era mais fértil." (Gazeta do Povo)