AGROENERGIA: Ruralistas dos EUA minam etanol do Brasil
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A combalida indústria de etanol dos Estados Unidos ganhou novo fôlego na semana passada, quando seus aliados no Congresso americano deram um passo significativo para impedir o governo federal de impor restrições que as usinas consideram uma ameaça à sua sobrevivência.
Legislação - A legislação dos EUA condiciona o avanço dos biocombustíveis no país a reduções substanciais nas emissões dos gases que contribuem para o aquecimento global, e a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) propôs recentemente a adoção de novos critérios para avaliar o impacto dos vários tipos de biocombustível.
Processo - Na semana passada, a bancada que defende os interesses dos fazendeiros americanos no Congresso convenceu os aliados do governo no Partido Democrata a interromper esse processo, suspendendo por cinco anos a adoção da metodologia proposta pelos ambientalistas e determinando que o governo faça novos estudos antes de implementá-la.
Dispositivos - Diversos dispositivos para proteger as usinas de etanol foram incluídos num projeto de lei sobre mudanças climáticas que a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou sexta-feira, após meses de discussão. As concessões feitas à bancada ruralista foram cruciais para assegurar a aprovação do projeto, que agora será debatido pelo Senado.
Brasileiros - A mudança poderá prejudicar usineiros brasileiros interessados em exportar álcool para os EUA. As usinas do Brasil são bem mais eficientes que as americanas e podem ser beneficiadas pelas normas defendidas pela EPA. Se a mudança for confirmada pelo Senado, as usinas americanas ganharão tempo para se expandir livres das restrições propostas pelos ambientalistas.
Metodologia - No centro dessa discussão está um aspecto polêmico da metodologia da EPA. Além de emissões de gases-estufa associadas à produção e à distribuição de biocombustíveis, a agência quer contabilizar emissões associadas ao desmatamento e a outras mudanças no uso da terra atribuídas à expansão das usinas.
Prejudicial - Essa metodologia é especialmente prejudicial para as usinas americanas, que usam milho para produzir etanol. Cálculos preliminares apresentados em abril pela EPA sugerem que o etanol de milho é pior para o clima do planeta que a gasolina, se forem considerados efeitos indiretos como a expansão do plantio de soja em lugares como o Brasil.
Efeitos indiretos - O projeto aprovado sexta-feira (26/06) determina que o governo considere somente os efeitos indiretos verificados no país em que o biocombustível for produzido, ignorando mudanças no uso da terra em outras regiões do mundo. Isso ajudaria as usinas de etanol de milho a se enquadrar nas exigências estabelecidas pela legislação americana.
Desafio - "Penalizar os biocombustíveis por decisões tomadas em outras partes do mundo é um desafio à lógica", disse o presidente da Associação dos Combustíveis Renováveis, (RFA, na sigla em inglês), Bob Dinneen, principal porta-voz das usinas americanas.
Álcool - No caso do álcool brasileiro, que é feito de cana-de-açúcar, os efeitos indiretos atribuídos pela EPA à produção do combustível ocorrem no território brasileiro e continuariam sendo contabilizados. "Essa mudança melhora artificialmente a imagem do etanol de milho e seu resultado é discriminatório para o Brasil", disse o representante da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) nos EUA, Joel Velasco.
Limite - Metas definidas em lei obrigam as refinarias dos EUA a adquirir todos os anos volumes crescentes de biocombustíveis para misturá-los à gasolina, mas fixam um limite para a produção de etanol de milho e determinam que a partir de 2015 as refinarias comprem volumes maiores de combustíveis capazes de assegurar cortes significativos nas emissões de gases-estufa.
Critérios - Se os critérios propostos pela EPA fossem aplicados hoje, somente o álcool brasileiro poderia atender a essa exigência, mesmo se sua contribuição para o desmatamento e outros efeitos indiretos fossem levados em conta. Biocombustíveis avançados como o etanol celulósico, que prometem benefícios ambientais maiores, ainda não são produzidos em escala comercial.
Consumo - Os EUA devem consumir 42 bilhões de litros de biocombustíveis neste ano, e as usinas americanas têm condições de atender à maior parte dessa demanda. A legislação determina que o consumo americano atinja 136 bilhões de litros em 2022, quando 79 bilhões de litros teriam que ser adquiridos de produtores mais eficientes que os atuais.
Temor - As usinas de etanol de milho temem que seus competidores brasileiros ganhem espaço no mercado americano se tecnologias mais limpas não se tornarem viáveis até lá e por isso mobilizaram seus aliados no Congresso para deter os ambientalistas. Muitas usinas americanas têm enfrentado dificuldades financeiras e pelo menos 23 fecharam as portas recentemente. (Valor Econômico)