AGRICULTURA: Trigo no Brasil vale o dobro do grão dos EUA e estimula plantio
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O preço do trigo no Brasil está em patamares recordes, valendo mais que o dobro da cotação para o produto equivalente dos Estados Unidos, uma vez que praticamente não há oferta do cereal nacional no principal produtor brasileiro, o Paraná. Mas a conjuntura está animando produtores e estimulando o plantio, disseram especialistas. No Paraná, a área plantada deverá superar 1 milhão de hectares pela primeira vez desde 2005, e no Rio Grande do Sul, o segundo produtor brasileiro, o plantio também está recebendo o mesmo impulso, com o Estado prevendo 950 mil hectares.
Preço no Paraná - No mercado paranaense, o preço pago ao produtor está em uma média de R$ 41,85 por saca de 60 kg (ou R$ 697 por tonelada), maior valor pelo menos desde o início do Plano Real, em 1994, e no atacado há interesse de venda a 750 reais/tonelada. A cotação na base Fob de um trigo "soft" dos EUA está em torno de 412,5 reais/tonelada, bem abaixo do valor recorde do início do ano, uma vez que os norte-americanos já começaram a sua colheita, segundo um trader do Brasil. "Deve superar 1 milhão de hectares", disse a agrônoma Margorete Demarchi, do Departamento de Economia Rural (Deral), do governo do Paraná, comentando o efeito do preço para o plantio, que já passou de 60% da área estimada.
Chuvas - Segundo ela, as chuvas generalizadas no Estado na quarta-feira (28/05) e madrugada de quinta-feira devem ter beneficiado o desenvolvimento do grão plantado e permitirão que o restante da semeadura possa deslanchar. "Os produtores estavam sendo prejudicados pelo tempo seco... Mas o pessoal está bem animado com esses preços", acrescentou a agrônoma. O Paraná poderia colher, em condições normais de clima, pelo menos 2,5 milhões de toneladas, contra 1,9 milhão no ano passado, com um aumento de área de 20%.
Rio Grande do Sul - No Rio Grande do Sul, onde a semeadura é mais tardia, o plantio já passou de 10% da área estimada, e segue dentro da normalidade, disse Ataides Jacobsen, agrônomo da Emater. Caso se repita a produtividade do ano passado, os gaúchos produziriam cerca de 2 milhões de toneladas, contra 1,5 milhão no ano passado, também crescendo com um aumento de mais de 10% na área.
Produção estimada - Dessa forma, o mercado estima a produção brasileira de trigo em até 5 milhões de toneladas, contra 3,5 milhões em 2007. Mas apesar desse aumento esperado na produção é possível que esse descolamento de preços entre Brasil e EUA continue pelo menos até a entrada da safra nacional, em setembro, disseram traders. O que acontecerá no mercado depois é uma incógnita, segundo fontes da indústria e do mercado, uma vez que as empresas do Brasil têm autorização para importar trigo no hemisfério norte, com isenção de taxas, até 31 de agosto.
Demanda - Depois disso, apesar da aproximação da safra, quando o mercado tende a ficar pressionado, começará haver mais demanda pelo produto nacional, uma vez que as empresas não contarão mais com a isenção de tarifa e não esperam contar com o trigo de seu tradicional fornecedor, a Argentina, que está limitando as vendas. "(O preço) vai depender muito da demanda em seguida (ao fim da taxa)... A partir daí entra a safra nacional, trigo argentino não vamos ter. Ou vamos importar com TEC (imposto para produto fora do Mercosul) ou vamos nos sujeitar ao preço nacional, e a competição é que vai dizer quanto ele será", afirmou Luiz Martins, presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).
Indústria - Segundo Martins, os grandes moinhos hoje estão buscando o trigo no hemisfério norte, especialmente nos Estados Unidos, uma vez que o trigo brasileiro está mais caro. Fontes do mercado estimam que pelo menos 1 milhão de toneladas já foram adquiridas no hemisfério norte, de uma cota total de 2 milhões de toneladas de importações que serão isentas de tarifas. (Reuters)