AGRICULTURA: Cenário é de preços baixos

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Os produtores agrícolas brasileiros terão pela frente, nas duas próximas safras, um cenário internacional de novas reduções de preços. E, nesse cenário, a competitividade dependerá mais estreitamente da política monetária a ser adotada pelo país. A avaliação é de Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor do Instituto de Economia da Unicamp, apresentada ontem em seminário na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo. Para ele, é um risco para o agronegócio a combinação, nos próximos anos, do real apreciado em relação ao dólar - em caso de manutenção da política monetária - e da desaceleração da economia mundial, principalmente nos EUA e na China, que certamente levarão à queda nos preços das commodities por redução da demanda mundial. "Não é uma tendência imediata, mas deve ocorrer em um ano ou um ano e meio", afirmou.

Previsão da FAO - A avaliação de Belluzzo "casa" com relatório recente da FAO - braço da ONU para agricultura e alimentação -, que prevê queda nos preços das commodities agrícolas no longo prazo devido ao excesso de produção, maior produtividade e políticas distorcivas de subsídios dos países ricos. Segundo a FAO, o preço real dos produtos caiu 2% ao ano nos últimos 40 anos, prejudicando a renda de mais de 2,5 bilhões de produtores de países em desenvolvimento. Para Belluzzo, a solução para o país se manter competitivo deverá passar por uma mudança na política monetária, que ele considera "inadequada", com câmbio valorizado e juros altos. Ele compara o quadro brasileiro com o da China, que tem juros baixíssima e luta, desde a década de 90, para manter o seu yuan desvalorizado.

Câmbio e superávit - "Com uma combinação de câmbio desvalorizado e superávit primário alto - de US$ 600 bilhões, contra US$ 35 bilhões do Brasil -, a China conseguiu criar uma política interna de crédito muito generosa, que garantiu investimentos nas indústrias", disse. Segundo ele, enquanto a relação entre crédito privado e PIB na China é de 200%, no Brasil, é de 28%. No Chile, a relação é de 80%. Ele disse que se a política monetária atual está longe da ideal, a proposta do governo de déficit nominal zero - que pretende aumentar o superávit primário - também apresenta riscos. "O aumento do superávit não necessariamente implicará em queda de juros". Para ele, será necessário reduzir a taxa real dos juros para atrair investimentos ao setor produtivo", afirmou. (Jornal Valor)

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