A força que vem da terra
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Considerado
um dos mais modernos do mundo, o cooperativismo brasileiro responde por 6% do
PIB nacional. É um dos setores que mais gera emprego na cadeia produtiva
do agronegócio no país. No campo externo, as vendas crescem e
as nações árabes já são um importante mercado
para as cooperativas agropecuárias do Brasil.
Com esta introdução, o jornalista Joel Santos Guimarães
começa matéria publicada hoje (10), na página da Agência
de Notícias Brasil e Mercado Árabe (www.anba.com.br) que também
faz uma referência especial ao cooperativismo paranaense, com opinião
do presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski.
São Paulo – As cooperativas agrícolas brasileiras irão
investir, até o final deste ano, algo em torno de R$ 1,8 bilhão
na ampliação de suas agroindústrias e empreendimentos que
possam agregar valor à produção de seus mais de um milhão
associados. A industrialização das cooperativas brasileiras, que
começou na década de 1990, fez do setor um dos mais modernos e
eficientes sistemas cooperativistas do planeta.
Apenas o sistema cooperativista do Paraná, considerado o mais avançado
do país, planeja investir neste ano R$ 800 milhões que serão
destinados à agroindustrialização e à ampliação
do sistema de armazenagem das 69 cooperativas agrícolas do estado. No
ano passado, apenas para ampliar a rede armazenadora, as cooperativas do Paraná
investiram cerca de R$ 500 milhões.
Dos mais simples aos mais sofisticados complexos industriais, 30% das 1.519
cooperativas rurais do país já contam com algum tipo de unidade
agroindustrial, como frigoríficos, fábricas de ração,
de sucos, margarina, de óleo e laticínios e outros produtos com
valor agregado que são destinados ao mercado interno e externo.
“A implantação de complexos industriais que agregam valor
à produção primária tem garantido um aumento na
renda de centenas de milhares de famílias de pequenos e médios
produtores rurais associados às cooperativas rurais brasileiras”,
afirma o presidente da Organização das Cooperativas do Estado
do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski.
Mercado externo
Além de aumentar a oferta de produtos industrializados no mercado interno,
o processo de agroindustrialização resultou no crescimento das
exportações, o que contribuiu para o aumento do faturamento global
do setor. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB), as cooperativas agropecuárias fecharam 2004 com um faturamento
de R$ 32,5 bilhões, um crescimento de 10% em relação ao
ano anterior. Elas respondem, hoje, por 6% do PIB.
As exportações também são representativas, somaram
US$ 2 bilhões no ano passado, ou seja, 18,5% do faturamento das cooperativas.
Em 2004, o setor embarcou 7,19 milhões de toneladas, um aumento de 34%
em relação ao volume exportado em 2003.
Nas exportações por países, a China foi o principal comprador,
adquiriu US$ 328 milhões no ano passado das cooperativas agropecuárias
do Brasil. A Alemanha aparece em segundo lugar com US$ 198 milhões, seguida
pelos Emirados Árabes Unidos (US$ 132 milhões).
Os principais produtos importados pela China foram do complexo soja (US$ 318
milhões), carnes de suínos (US$ 4,8 milhões) e carnes de
frangos, cujos embarques geraram uma receita de US$ 4 milhões. Em 2004,
os chineses compraram ainda, em menor volume, algodão, café, cera
de abelha e uvas frescas. Os alemães adquiriram soja, óleo de
soja, café, maçãs, carnes de porco e bovina, castanha do
Pará, suco de laranja e pimenta.
Com uma pauta menos diversificada do que China e Alemanha, as importações
dos Emirados Árabes Unidos cresceram 20% em relação a 2003.
De acordo com as cooperativas, os Emirados são tradicionais compradores
de açúcar das cooperativas brasileiras. No ano passado, as exportações
do produto para aquele país somaram US$ 124 milhões, o que corresponde
a 94% do total importado. Os Emirados Árabes Unidos compraram, pela primeira
vez, US$ 5,8 milhões em carnes de frango e bovina.
O presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, salienta que o desempenho
global do ano passado superou as expectativas iniciais da entidade em relação
às exportações. "Os bons números refletem a
profissionalização das cooperativas e a melhor participação
dos produtos dos cooperados no mercado externo", diz Freitas.
Na vanguarda
Consideradas vanguarda do setor, as cooperativas rurais do Paraná exportam
mais de 30 produtos para mais de 60 países. No ano passado, as vendas
externas somaram US$ 1 bilhão. Para o presidente da Ocepar, o esforço
na busca de novos mercados e a consolidação dos mercados tradicionais
(Estados Unidos e Europa), aliados ao conhecimento e o investimento em formação
de pessoas, permitiu que o sistema no Paraná exportasse mais de 50% de
tudo que as cooperativas brasileiras venderam ao mercado internacional no ano
passado.
“E para fazer esse negócio funcionar, as cooperativas também
se constituem em uma das principais fontes de geração de emprego
no estado: são 45 mil empregos diretos e outros 150 mil indiretos”,
diz o presidente da Ocepar.
Para 2005 a previsão é que as cooperativas do Paraná possam
repetir o mesmo desempenho de 2004. “Ainda é cedo para traçarmos
uma meta de crescimento, mas com os resultados das exportações
do primeiro semestre deste ano podemos ter uma boa idéia dos valores
totais para 2005”, explica João Paulo Koslovski.
Cenário
Ele lembra que as cooperativas estão preocupadas com alguns fatores que
podem inibir o crescimento do setor como, por exemplo, o aumento de 20% no custo
de produção da safra cultivada em 2004 e que será colhida
agora. Outro cenário desfavorável é a queda nos preços
das commodities no mercado internacional, especialmente soja, milho e trigo
e, é claro, a valorização do real frente ao dólar,
que, na opinião do presidente da Ocepar, se não for revertida
prejudicará as exportações do agronegócio brasileiro.
Apesar desse quadro desfavorável, o Koslovski acredita que, pelo “ritmo
de crescimento que vem apresentando o cooperativismo paranaense, mesmo com a
possibilidade de reflexos negativos no segmento agropecuário, os demais
ramos como saúde, crédito, trabalho, transporte e outros vêm
crescendo, o que certamente determinará avanços em termos de receita
da ordem de 10%”.
Poder de fogo
Para se ter uma idéia do poder de fogo das cooperativas brasileiras,
quando se trata de distribuir a riqueza gerada pelo sistema, basta lembrar que
elas contam com 940.482 agricultores associados, pequenos e médios em
sua maioria. Entre associados, familiares e trabalhadores, 6,3 milhões
de pessoas estão direta ou indiretamente vinculadas ao setor. Elas empregam
110.910 pessoas.
As cooperativas agropecuárias respondem por 23,6% da capacidade de armazenamento
do país. Segundo dados da OCB, isso é resultado de investimentos
em infra-estrutura que, nos últimos dois anos, permitiram um aumento
de 25% na capacidade de armazenagem do setor, passando para 25 milhões
de toneladas. O Brasil tem, hoje, instalações para armazenar 89,5
milhões de toneladas. A produção anual de grãos
das cooperativas é de 43 milhões de toneladas anuais.
No caso do Paraná, o cooperativismo agropecuário tem uma participação
55% no PIB agrícola do estado e 18% do PIB paranaense, considerando um
crescimento de 5% do PIB estadual no ano passado, que foi estimado em R$ 98,7
bilhões. Em 2004 o sistema cooperativista do Paraná faturou R$
18 bilhões contra os R$ 15,5 bilhões do ano anterior. (Joel Guimarães/ANBA)