12º Jovemcoop - Cooperativismo: uma das saídas para o desenvolvimento social
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Em entrevista concedida na última sexta-feira, durante a realização do 12o Jovemcoop (Encontro Estadual de Jovens Cooperativistas), realizado em Londrina, o jornalista Gilberto Dimenstein falou sobre a necessidade de se buscar uma educação permanente, como formação de garantir um futuro aos jovens brasileiros. Disse, também, que o governo deve fazer sua parte, mas que a violência e a exclusão social só poderão ser combatidas com a efetiva participação da sociedade. "A coisa pública não é só o oficial, mas sim o oficial com o comunitário, as empresas, os sindicatos", explicou o jornalista, que é autor de vários livros que tratam da questão econômica e social envolvendo o menor. Nesta entrevista Dimenstein ainda faz uma reflexão sobre o cooperativismo, o Programa Fome Zero e Reforma da Previdência. Realizado nos dias 24 e 24 de julho, o 12o Jovemcoop foi uma promoção da Cooperativa Integrada, de Londrina, em parceria com o Sistema Ocepar/Sescoop-PR. Confira a seguir os principais trechos da entrevista de Dimenstein.
Paraná Cooperativo - Qual a sua opinião sobre a exclusão
social e a violência social causada por ela, principalmente envolvendo
os jovens no nosso país?
Gilberto Dimenstein - Talvez uma das maiores bombas que nós temos no
nosso País é a bomba jovem. E o que é a bomba jovem? O
Brasil é um país jovem por definição e que nutre
expectativas. São jovens que apostam na educação, que tentam
se habilitar para ter um bom emprego, um bom salário, e tanto os de classe
média quanto os de camadas mais pobres estão sofrendo o mesmo
problema, em graus diferentes, evidentemente, que é a falta de emprego.
Recentemente fiz uma reportagem mostrando que para 800 vagas de estágio
no Brasil se candidataram 180 mil pessoas e, no final, sobrou vaga por falta
de qualificação. Então tem o drama da qualificação,
que é a distância entre o mercado e a formação. E
tem um drama também da falta de emprego. Mas você entende em boa
parte a questão da violência, quando percebe a marginalidade que
existe no jovem por não encontrar forma de inserção social.
O cooperativismo é uma forma de se buscar o desenvolvimento social?
No mundo todo há uma preocupação com a criação
de mecanismos para compensar o excesso de concentração de renda,
especialmente num mundo globalizado, movido a rápidas inovações
tecnológicas. Em muitos lugares já virou até uma obsessão,
e evidentemente que uma das saídas e esse conceito maior de economia
solidária, que é a capacidade que as pessoas tem de ganhar dinheiro
juntas, mas também compartilhar esse recurso com a sociedade. É
obvio que neste ambiente o cooperativismo é uma das grandes saídas,
uma sociedade que seja ao mesmo tempo produtiva, eficiente, vise o lucro, mas
também possa melhorar a qualidade de vida das comunidades.
O senhor acredita
que a população e o governo saibam realmente o que é cooperativismo
e estejam preparados para isso?
Primeiro, que uma população de País que é de analfabetos
e semi-analfabetos sabe muito pouco sobre quase tudo, essa é a verdade.
Se você perguntar o nome dos ministros do Brasil, eu não sei quantos
sabem. Mas por outro lado, está crescendo dentro de vários governos,
estaduais, municipais, e no federal uma convicção de que o cooperativismo
é uma das saídas. Assim, eles acabam demonstram maior conhecimento
desta alternativa.
Principalmente a classe política gosta de usar a máxima de
que investir no jovem é apostar no futuro, mas o que falta para se investir
no jovem?
Primeiro falta acreditar nessa frase, para começo de conversa. E daí,
quando se fala em investir no jovem, não é só no jovem,
é investir na pré-escola, que implica em creches, que é
onde começa o grau de desigualdade, é na falta de educação
pré-escolar. É você investir na família, é
investir na mulher grávida, na melhoria da educação fundamental,
no ensino básico, é se trabalhar mais a questão das drogas,
do lazer e da cultura. Também é uma aproximação
maior entre o processo escolar, a comunidade e as empresas. Precisamos ainda
estimular o jovem a montar seu próprio negócio. E é justamente
aí, que o sistema cooperativo é uma das alternativas. É
necessário entender, que o problema não é que existe pouco
dinheiro na área social, mas o dinheiro é mal gasto é desperdiçado,
jogado fora. Você tem máquinas governamentais inchadas, lentas.
Então, é um trabalho imenso porque uma das dificuldades do Brasil
é que as políticas públicas são todas fragmentadas.
Se você quiser trabalhar com jovem é preciso fazer um eixo transversal
jovem e atuar em vários níveis de governo, tanto intergoverno
quanto intermunicipais ou estaduais.
Durante duas
décadas como candidato, o presidente Lula sempre pregou a necessidade
da qualificação dos jovens e o combate à exclusão
social. Neste primeiro semestre de governo você acha que ele tem conseguido
fazer a lição de casa?
Acho que eles nem levaram a lição de casa para casa. Porque a
crise econômica está tão aguda, que tudo que se anunciou
até agora na área social foi superficial ou ficou no papel. Por
exemplo: o primeiro emprego foi anunciado, mas não tem uma política
de primeiro emprego, e o pior é que você tem medidas já
aprovadas no Congresso e que não são usadas. Uma delas é
a lei de aprendizagem. Se bem aplica, poderia gerar até um milhão
de empregos no Brasil, favoreceria o jovem, a escola, a empresa. Daria um caráter
educativo também para a empresa receber esse jovem. O estágio,
muitas vezes é usado como mão-de-obra barata, quando deveria ser
um treinamento profissional. E a Lei do Emprego, por exemplo, até que
ponto não vai se criar um indivíduo que tenha o primeiro emprego,
mas não tenha o segundo por falta de qualificação profissional?
Então, é uma situação complexa. É claro que
eu não vou culpar o governo Lula por isso em absoluto, eu acho que esse
trabalho é grande demais para um presidente só, para um governador
só, para um prefeito. É um trabalho imenso e que envolve uma noção
de que a coisa pública não é só o oficial, mas sim
o oficial com o comunitário, as empresas, os sindicatos.
E a Reforma da Previdência?
Essa é uma das questões que eu acho centrais, porque a nação
está percebendo o quanto custa manter uma máquina, o quanto custa
manter as aposentadorias naquele nível. Não é questão
de se é pouco ou muito, acontece que dá um rombo de R$ 60 bilhões
por ano. A nação está disposta a pagar esse rombo? Vale
a pena pagar esse rombo? Será que é justo um funcionário
público se aposentar com salário integral, sendo que ele já
tem um rendimento maior do que o trabalhador comum, e mais, ele não está
submetido à angústia do desemprego? A questão é
que o Brasil é um País pobre, e se não for pobre é
um País não rico e com carências enormes. Será que
este é o melhor investimento do dinheiro arrecadado para você pagar
aposentadoria para as pessoas que vão se aposentar com 55 anos de idade?
Então, isso é um absurdo. Para mim essa é a argumentação,
você vai ou não vai num restaurante conforme a sua capacidade de
pagar? Então se imaginarmos que o rombo da previdência é
R$ 60 bilhões, significa quase cinqüenta vezes o programa Fome Zero.
Claro que você não vai cumprir esse rombo, mas o que deixa perplexo
é alguém tratar um privilégio como um direito. Privilégio
é privilégio, direito é direito.
O programa Fome Zero está no caminho certo?
Acho que nasceu errado desde o início. O fundamental era unificar os
programas de distribuição de renda, estabelecer várias
contrapartidas, e aprimorar e ampliar o que já existe, sairia mais barato,
mais rápido, mais eficiente. Já esses programas de distribuição
de renda mínima pela escola, se prestavam à compra de alimentos,
mas o governo quis fazer uma marca registrada, quis criar um ministério.
Acho que tem uma preocupação do Lula com a fome, que é
uma coisa sincera dele, mas também ouve uma preocupação
com o marketing mesmo, com você marcar uma posição e dizer
a que veio. E o resultado de tudo isso, toda vez que a busca do marketing é
maior do que uma consistência técnica, você engana uma, duas,
três vezes, mas depois você acaba caindo. Não há político
que tenha sobrevivido assim. Não tem caso de político que tenha
sobrevivido pela sua capacidade de gerar notícia. E os que tentam isso
conseguem um ou dois anos, mas depois acabam sucumbindo. Essa é a norma:
podem tentar a vontade, mas os políticos mais sérios e respeitados
da nação são aqueles que tiveram idéias, perseguiram
suas idéias e se guiaram mais por aquilo que eles acharam que era relevante,
do que pelo que dizem as pesquisa de opinião.