Painelistas da Semana da Produção e Sanidade Animal destacam a importância das notificações das doenças em suínos

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A importância das notificações das principais doenças que afetam os suínos aos órgãos oficiais de vigilância sanitária animal foi um dos pontos destacados pelo pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Luizinho Caron, e pela Auditora Fiscal Federal Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Alessandra de Lacerda Alves, no Painel Suinocultura realizado na tarde dessa terça-feira (23/09), dentro da programação da 2ª Semana da Produção e Sanidade Animal das Cooperativas do Paraná. O evento, promovido pelo Sistema Ocepar em formato online, com mais de 500 inscritos, iniciou na manhã dessa terça-feira e prossegue até esta quinta-feira (25/09).

Caron disse que a celeridade nas notificações permite conter a disseminação das doenças, citando como exemplo bem-sucedido o foco de Influenza Aviária identificado este ano em criações de frango no município do Montenegro, no Rio Grande do Sul, quando a área foi imediatamente isolada após ser descoberto. “Isso é importante principalmente se a enfermidade se dissipar num ambiente com espécies selvagens, onde a dificuldade será grande para se fazer o controle”, disse ao final de sua apresentação.

Ele lembrou ainda que fazer as notificações o mais rápido possível é uma das recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) juntamente com as medidas de biossegurança, ou seja, conjunto de práticas e procedimentos que visam proteger os animais contra a introdução e disseminação de doenças, garantindo a saúde do plantel, a segurança alimentar e a viabilidade económica da produção. Incluem itens como controlo de acessos, quarentena de animais novos, higiene rigorosa das instalações e equipamentos, vacinação, gestão de resíduos e controlo de pragas e roedores.

“É importante fazer as notificações. É uma forma de assegurar garantias aos nossos produtos no mercado internacional e mostrar que somos transparentes. Assim, os compradores terão confiança no serviço veterinário brasileiro pois verão que o sistema está funcionando bem, que estamos atentos ao controle das doenças. E, ainda, que a população está ciente dos sinais clínicos das doenças e uma boa interação com os serviços oficiais é essencial para que as pessoas se sintam seguras em fazer as notificações”, disse Alessandra.

Ela destacou ainda que é obrigatório para qualquer cidadão informar ao serviço oficial de vigilância sanitária a suspeita ou ocorrência de doenças listadas na Instrução Normativa (IN) nº 50, publicada pelo Mapa em 2013, entre elas, a Peste Suína Africana (PSA) e a Síndrome Reprodutiva e Respiratória Suína (PRRS). Essa notificação pode ser feita inclusive por meio do Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergência Veterinária (e-Sisbravet), que será encaminhada ao responsável local para as devidas providências.

A IN 50/2023 estabelece ainda que a notificação também deverá ser imediata para outras enfermidades que não constam na lista, quando se tratar de doença exótica ou de doença emergente que apresente índice de morbidade ou mortalidade significativo, ou que tenha repercussões para a saúde pública.

Atualização

No Painel Suinocultura, Caron trouxe dados atualizados sobre a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). De acordo com ele, elas estão entre as principais doenças que afetam a produção de suínos. O pesquisador apresentou um panorama mundial das enfermidades, os surtos mais recentes, as causas, formas de infecção, sintomas, sinais clínicos, diagnóstico e meios de controle. Os vírus que provocam as doenças são diferentes, mas ambos afetam animais domésticos e selvagens. 

Brasil

No Brasil, as zonas livres de PSC estão localizadas nos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, incluindo algumas áreas limítrofes, onde não há riscos para a produção e exportação de carne suína. 

A zonas não livres de PSC abrangem as regiões Nordeste e Norte, onde a doença ocorre de forma endêmica, ou seja, com regularidade. 

O surto mais recente ocorreu no país em 2024, no Piauí, com 24 casos registrados.

Já em relação ao PSA, houve um surto no Brasil em 1978, erradicado em 1984. Assim, o país é considerado área livre da doença. Mas há ainda preocupação de contaminação por meio de javalis, mantendo a necessidade seguir rigorosos protocolos de biosseguridade nas granjas, já que a doença é altamente contagiosa e não possui vacina, diferentemente do PSC, que pode ser controlado por meio de vacinação. 

“Países onde há grande população de javalis enfrentam problemas sérios com a PSA. A biossegurança ainda é o melhor caminho. A contenção dos animais é difícil. Estamos tentando estratégias, mas não temos nada eficaz até agora. O controle dos javalis é um dos desafios para manter o Brasil livre de PSA. Estados como o Paraná estão fazendo um trabalho cada vez mais eficiente. Os órgãos estaduais estão se aproximando dos caçadores, que são fundamentais nesse controle pois podem identificar algo suspeitos, como morte de animais, por exemplo, e notificar os órgãos oficiais”, disse Alessandra.

O Mapa possui um Plano de Contingência para a PSA, que orienta ações de detecção e controle da doença.

PNSS

No evento dessa terça-feira, Alessandra discorreu sobre o Plano Nacional de Sanidade Suídea (PNSS). Ela mostrou como o Serviço Veterinário Oficial está organizado para realizar as ações de vigilância sanitária e defesa sanitária em todo o país. Disse ainda que o Mapa trabalha compartilhando responsabilidades com os Órgãos Estaduais de Sanidade Agropecuária (OESAs) e o setor privado.

Em relação ao PNSS, ressaltou que os esforços do programa estão concentrados nas doenças da lista da Organização Mundial de Saúde Animal, que se caracterizam pelo grande poder de difusão, consequências econômicas e sanitárias graves e repercussão no comércio internacional.

As doenças alvo do PNSS são a PSC, a PSA, a PRRS e a Doença de Aujesky (DA). Nas zonas livres de PSC, é desenvolvido o Plano Integrado de Vigilância de Doenças dos Suínos. Nas zonas não livres, o Plano Brasil Livre de PSC. 

Desafios

Ao final de sua apresentação, ela enumerou alguns desafios que ainda precisam ser enfrentados, como o combate das doenças em regiões com baixa tecnificação e organização dos produtores, a ampliação e manutenção das zonas livres de PSC; a contenção da entrada de doenças exóticas no país, o controle de suínos asselvejados (como javalis, por exemplo) e a implantação de normas de biossegurança para granjas comerciais (atualmente só existem regras para granjas de reprodutores). De acordo com Alessandra, quatro estados brasileiros, entre eles o Paraná, já possuem suas normas de biosseguridade para criações comerciais de suínos.

“Temos muito trabalho pela frente, mas também muitos êxitos. Cada um de nós é uma peça nesse quebra-cabeça e por isso atuamos em conjunto com os órgãos estaduais de sanidade e com a iniciativa privada. Eventos como esse são importantes para aproximar o setor, fazer essa integração. Fico contente em poder demonstrar o nosso trabalho. O resultado disso é que temos mantido as zonas livres de PSC. Dados da Organização Mundial de Saúde Animal atestam essa conquista, de manutenção desse status, ao mesmo tempo que estamos evitando a proliferação de novas doenças”, disse.

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