COMMODITIES II: Quebra na safra sul-americana fortalece mercado e cotações

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2009 começou com a América do Sul sob a luz dos holofotes. Com a colheita concluída nos Estados Unidos e a safra de grãos do Hemisfério Norte consolidada, os investidores voltam todos os olhares à metade sul do continente para definir os rumos do mercado nos próximos meses. E, pelo menos por enquanto, a situação das lavouras de verão sul-americanas desenha um cenário positivo para as cotações internacionais dos grãos. Isso porque Brasil e Argentina, principais fornecedores mundiais durante a entressafra norte-americana, enfrentam uma das mais severas secas dos últimos anos. Juntos, esses dois países produziram na temporada passada (2007/08) metade da soja e 10% do milho consumidos em todo o mundo, conforme o USDA, o departamento de agricultura dos EUA.

Demanda aquecida - A demanda da China, maior consumidora de soja do mundo, permanece aquecida e deve manter o mercado firme nas próximas semanas, até que se confirme o tamanho das perdas nas safras brasileira e argentina, avalia a analista Daniele Siqueira, da AgRural. Até que o mercado preficique a quebra, a tendência é que a soja continue com preços firmes, prevê. O mercado de milho, que não conta com fundamentos tão positivos, apoia-se na disputa por área com a oleginosa na próxima safra norte-americana (2009/10), que começa a ser planejada no país. O fato é que, tanto no caso da soja quanto do milho, a vantagem é da ponta vendedora, afirma Steve Cachia, analista da Cerealpar. Quando diminui a oferta e a demanda mantém-se aquecida, os preços tendem a subir, explica.

Queda na produção - Nos campos brasileiros, a estiagem inviabilizou a boa safra que era esperada para o atual ciclo e, pela primeira vez em três anos, o país vai registrar queda na produção anual de grãos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Só no Paraná, 5 milhões de toneladas já foram perdidas, entre soja, milho e feijão, conforme a secretaria de agricultura do estado. Mas os prejuízos podem ser ainda maiores. Nos cálculos da Ocepar, entidade que representa as cooperativas paranaenses, as perdas já chegam a 6,4 milhões de toneladas.

Argentina - E se a situação é ruim por aqui, na Argentina é ainda pior. As lavouras do país vizinho sofrem com a pior seca em quase 50 anos, segundo o departamento de climatologia do Serviço Meteorológico Nacional (SMN). O volume de chuvas registrado em 2008 foi 40% a 60% menor que o normal. Ainda não há um levantamento oficial sobre o tamanho das perdas, mas como a quebra já é tida como certa pelo mercado, a Argentina virou bússola para as cotações dos grãos, principalmente para a soja. Pode parecer exagero dizer que o mercado está nas mãos de um país que no último ciclo (2007/08) produziu, segundo o USDA, cerca de 20% da soja e apenas 3% do milho consumidos no mundo. Acontece que, apesar de ser um dos maiores produtores de soja do mundo, a Argentina tem demanda interna elevada. Enquanto os brasileiros exportaram na safra passada 57% da sua produção anual de soja, apenas 30% da oleaginosa argentina deixou o país.

Quebra - Neste ano, a quebra na safra de soja diminui ainda mais o excedente exportável argentino e abre espaço para outros países no mercado internacional, avalia o analista americano Vic Lespinasse, da consultoria GrainAnalyst. Segundo ele, os maiores beneficiados por essa situação seriam Brasil e EUA, que na safra 2007/08, enviaram ao exterior 47% da sua produção. Os estoques de soja norte-americanos, entretanto, são pequenos, de pouco mais de 6 milhões de toneladas. No Brasil, nos cálculos do USDA, os estoques de passagem (volume de soja que sobra entre uma safra e outra) são de mais 22 milhões de toneladas.

Milho - Já o caso do milho é um pouco diferente. A recomposição dos estoques mundiais do cereal acontece rapidamente, mas o consumo não demonstra o mesmo fôlego. Entre as safras 2007/08 e 2008/09, os estoques globais do cereal devem crescer 10%, mas a demanda vai recuar 1%, ainda conforme o USDA. (Caminhos do Campo/Gazeta do Povo)

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