SOJA: Prêmios pelo grão 'desafiam' sazonalidade em Paranaguá

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O prêmio pago pela soja no porto de Paranaguá, no Paraná, atingiu o maior patamar em pelo menos cinco anos para o período entre fevereiro e maio, meses de colheita do grão no país. No porto, referência para a formação dos preços do grão vendido ao exterior, o "bônus" médio pago sobre o preço da commodity na bolsa de Chicago foi de 72,79 centavos de dólar por bushel (medida equivalente a 27,2 quilos) nos últimos três meses e meio. É um salto de quase 250% sobre a média apurada no mesmo intervalo de 2011 (20,81 cents). Em maio, o prêmio tem se sustentado em 71,91 cents, mais de dez vezes superior aos 6,84 cents de um ano atrás.

 

Definição do valor - No Brasil, o valor da soja destinada ao exterior é definido com base na cotação do produto em Chicago, acrescido de um prêmio, espécie de estímulo à exportação. Em época de safra, com grande volume de escoamento, o normal é que os prêmios estejam em patamares baixos ou negativos, como no início de 2008 (ver gráfico). Contudo, a frustração diante da quebra da safra 2011/12 na América do Sul, castigada pela seca, e a entressafra no Hemisfério Norte, reduziram drasticamente a oferta global do produto.

 

Paranaguá - Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), os prêmios em Paranaguá estão acima de 70 centavos de dólar por bushel desde dezembro de 2011, quando previsões de La Niña na América do Sul começaram a influenciar as cotações em Chicago.

Segundo Steve Cachia, analista da Cerealpar, o prêmio ficou mais firme pelo medo dos compradores de não conseguirem originar soja no Brasil. "Diante de um cenário internacional de demanda forte, especialmente da China, havia o temor de que não houvesse soja para todos, o que fez os compradores se movimentarem para oferecer um prêmio melhor, para estimular as vendas", explica.

 

 

Pico - O prêmio atual não é o maior da história: houve um pico em setembro de 2009, a 245,36 centavos de dólar por bushel, também em função do fenômeno La Niña, que prejudicou o sul da América do Sul - sobretudo a Argentina, que enfrentou a pior seca em 50 anos. A expectativa é que os valores pagos cresçam nos próximos meses, à medida que os estoques sejam consumidos.

 

Efeito favorável - Além de o prêmio estar firme em plena safra, a conjunção da alta do dólar com o elevado preço da oleaginosa em Chicago produziu outro efeito favorável ao produtor: o preço da saca em reais bateu recorde. "Houve uma coincidência rara entre a inesperada valorização da moeda americana, que já bate R$ 2, a soja a mais de US$ 14 por bushel e os prêmios firmes", avalia Cachia.

 

Maior valor nominal - Atualmente, o preço da saca de 60 quilos está em R$ 64 em Paranaguá, ante R$ 48 há um ano. "Nominalmente, é o maior valor da história e a primeira vez que a saca passa dos R$ 60 no porto", afirma Flávio Turra, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

 

Anomalia em curso - Para Vinícius Ito, analista da Jefferies Bache baseado em Nova York, há outra anomalia em curso. O preço da soja em Paranaguá está mais alto que no Golfo do México, ponto de partida para a exportação da soja dos Estados Unidos, o que é anormal para o período - ao contrário do Brasil, os EUA estão na entressafra. O motivo é justamente o prêmio - que hoje, no Golfo, está em 64 centavos de dólar. A tonelada do grão no porto paranaense está a US$ 554,82, quase US$ 3 mais cara que os US$ 551,88 pagos no terminal americano. (Valor Econômico)

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