COOPERATIVISMO II: Lição que se aprende em casa

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"Para os pequenos, o agronegócio só é possível em conjunto." A crença nesse princípio alavancou a rede de cooperativas agrícolas do Paraná nas últimas quatro décadas, mas, aos poucos, vinha perdendo força, avalia o presidente da C. Vale (Palotina), Alfredo Lang. "Em nome da própria sobrevivência da cooperativa, resolvemos voltar a esse aprendizado." Seminários e palestras sobre conceitos que os primeiros associados tiravam de sua experiência de vida já somaram 946 eventos, com 68 mil vagas - ocupadas por 15 mil pessoas. O trabalho venceu o Prêmio Cooperativas do Ano 2008 na categoria Educação Cooperativista. Entre os cooperados da C.Vale, há três gerações de agricultores.

Capacitação exige empenho - Os cursos funcionam como uma ponte entre elas, capaz de dar continuidade e sustentabilidade à atividade agrícola. Em famílias como a de Edson e Hilda Horing, de Terra Roxa, lições aparentemente simples cumprem esse objetivo e ampliam os negócios. Mas não sem muito trabalho. Edson e o filho Ênio se dedicam à produção de grãos. Com 90 hectares próprios, decidiram arrendar mais 315 para viabilizar a atividade. "Aprendi nos cursos que não podemos deixar as máquinas paradas. Estamos trabalhando 600 horas por ano com a colheitadeira, o mínimo necessário", conta o rapaz. Dona Hilda relata que, num dos primeiros cursos que fez, aprendeu uma lição da qual lembra todos os dias: "O que você tem é a terra. Precisa usar 100% dela." Desde então, resolveu diversificar o sítio. Desfez-se do gado sem utilidade comercial para dar espaço a dez vacas leiteiras. Cada uma produz 15 litros de leite/dia, 50% mais que antigamente. Passou a plantar frutas e legumes em todos os cantos da propriedade. Vende 100 quilos de doce de abóbora, mamão e uva ao mês. Fez das galinhas do terreiro uma fonte de renda extra. Entrega 180 animais abatidos ao mês, "tudo encomendado".

Aprendizado começa na infância - "Minha mãe não pára nunca", diz Eula, proprietária de uma pequena indústria de bordados e que deu três netas a Hilda - duas delas com idade para acompanhar a avó para cima e para baixo no sítio. Kamille, 10 anos, e Mariane, 7, recebem recompensas simbólicas de R$ 1 quando ajudam a avó. "Quero ensinar que elas precisam valorizar o que possuem", diz a produtora rural. Se a terceira geração da família vai continuar dando forças à cooperativa, só o futuro dirá.

Ajuda para todos - Mas, independente disso, entre os Horing, mesmo quem não trabalha no agronegócio depende dele. Hilda conta com satisfação que está conseguindo ajudar a filha Carla a custear os estudos. Ela cursou biologia e fez mestrado em agronomia, morando num município vizinho. Agora, estuda para entrar num curso de doutorado. O tema de suas pesquisas é revelador: culturas agrícolas que são fontes de óleo combustível, como o pinhão--manso e o nabo forrageiro. Os cursos de administração e liderança marcam o dia-a-dia da família. Todos dizem seguir seus próprios objetivos e organizar suas atividades da melhor maneira possível. Com produção de leite, doces e frangos, Hilda faz balanços em separado. "Preciso controlar o que gasto e o que ganho em cada uma delas, para saber se vale a pena investir", explica.

Cooperativismo em sala de aula - "O projeto de educação da C.Vale não tem data para terminar", conta Lang. Além dos cursos direcionados, professores do ensino básico de 8 municípios da região de Palotina receberam orientação e incluem o cooperativismo nas aulas do 3º ano. "Queremos difundir desde cedo o espírito de cooperação, de solidariedade", justifica.

Dados C. Vale - Projeto: Formação da nova geração e reciclagem dos antigos associados sobre os conceitos do cooperativismo; Sede: Palotina (PR); Categoria: Educação Cooperativista; Desafio: Manter presente entre os jovens os ideais que motivaram a formação da cooperativa, além de inspirar antigos associados; Ação: Cursos em áreas que vão de administração a técnicas de artesanato em parceria com empresas e com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); Investimento próprio: R$ 800 mil por ano; Público: 15 mil pessoas já participaram dos cursos. (Caminhos do Campo/Gazeta do Povo)

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