Programa de Qualidade, Produtividade e Rastreabilidade da Soja do Paraná
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Apresentação
Este trabalho é resultado da
visita da comitiva paranaense à França, realizada entre 07 a 14 de setembro de
2002, objetivando mostrar a capacidade das cooperativas paranaenses no
fornecimento de produtos não-OGM, demandados por cooperativas daquele país.
Além do relatório da viagem, das visitas e debates dos quais a comitiva
paranaense participou, trazemos aqui informações a respeito do posicionamento
dos franceses sobre o assunto.
A comitiva participou do seminário “A CADEIA SOJA DE
QUALIDADE DO PARANÁ”, realizado em
parceria entre França-Brasil, objetivando discutir a rastreabilidade, os não
transgênicos e perspectivas de selo de qualidade.
Participaram da viagem os técnicos
das seguintes instituições:
Ocepar – Nelson
Costa
Tecpar – Julio César
Felix
Cocamar – José
Roberto Gomes
Batavo – Antonio
Carlos Benini Cunha
Castrolanda – Popke
Ferdinand van der Vinne
Agrária – Marcos
Stamm
Dos contatos e reuniões realizados
durante a viagem técnica à França deve resultar um convênio entre as cadeias
produtivas do agronegócio da França e do Paraná, através da Ocepar e Tecpar. A
viagem contou com apoio do Sescoop Paraná, através do projeto nº 205/2002.
Nelson Costa
Gerente Técnico e Econômico da
Ocepar
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Objetivos:
Geral:
Transmitir
confiança aos consumidores de farelo de soja franceses de que as Cooperativas
do Paraná têm condições de dar perenidade à cadeia produtiva de soja não-OGM.
Específicos:
Acordar um processo
de formatação de uma parceiria entre cooperativas e Instituto de Tecnologia
Francês, para a estruturação tecnológica de uma cadeia de produção e
comercialização entre cooperativas do Paraná e da França.
Programação:
Segunda-feira
09/09
08:30 - Visita
ao mercado de Rungis – Observação do uso da rastreabilidade nas carnes e
derivados da soja.
15:00 Reunião
na Onudi – Visita técnica e reunião com representante do governo francês para
assuntos com o Paraná.
Terça-feira
10/09
09:00 Saída do
hotel (Paris) para a cidade do Lê Mans
14:00 Reunião
Técnica no INRA para discussão de termo de convênio
17:00 Visita a
uma propriedade de criação de bovinos
Quarta-feira
11/09 - Salão Space em Rennes
Visita à Feira
Space Show
Encontro com
cooperativas nos estandes
Quinta-feira
12/09 - Salão Space Show em Rennes
Manhã:
Encontros nos estandes das empresas francesas
14:00 – 18:00
Seminário
Sexta-feira
13/09
Encontro
Técnico no INRA para finalização do termo de convênio.
Retorno a Paris
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SPACE SHOW – 10 A 13 DE
SETEMBRO DE 2002.
Realizada em
Rennes (França), feira pecuária com exposição de produtos e equipamentos para
criadores de animais e exposição de gado bovino. O Space Show foi criado em
1987, hoje é a 1ª Feira da Europa em importância, exclusivamente para pessoal
ligado ao setor de alimentação animal. O número de visitantes foi de 110 mil. O
Space Show 2002 contou com a participação de 22 países com estandes, em 11
setores – carne bovina, suínos, aves, coelhos, sementes, meio ambiente, informática,
bovino de leite, agroindústria, alimentação animal, equipamentos e transportes.
Contou com 1316 expositores, dos quais 354 estrangeiros.
O espaço da
feira foi de 50 mil metros quadrados de estandes cobertos e 42 mil metros
quadrados externos. Contou com 52 empresas que apresentaram inovações
tecnológicas. O Brasil esteve presente no Space
Show com o grupo de 6 pessoas, mais um grupo
de 40 participantes do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, apoiado por
uma empresa do setor de sêmen animal.
Da feira participaram as principais empresas ligadas ao setor de
alimentação animal da Europa. Tivemos encontros com algumas dessas empresas,
dentre elas destacamos:
Cooperl: Uma cooperativa de suinocultores, com
1500 associados, que produzem 2,7 milhões de cabeças por ano, abatidos em 2
frigoríficos. Fornece toda produção para o Carrefour. É a maior cooperativa de
suínos da França, com um faturamento anual de 2,7 bilhões de Euros. Dirigentes
desta cooperativa estiveram no Paraná há cerca de 2 anos, visitando a Ocepar em
companhia do sr. Carfantam. Os produtores compram farelo do Paraná, através da
Coimbra (Ponta Grossa), e consomem 25 mil toneladas por mês. Estão buscando
outro fornecedor porque não querem ficar dependentes de apenas uma empresa.
Terena: Cooperativa de produtores de animais ( bovinos, suínos, coelhos, aves) e
de cereais e vinho. Fatura 2,0 bilhões de Euros/ano. Possui 3 abatedouros de
suínos, 2 de bovinos, 2 de coelhos, 20 de aves, 10 laticínios, 14 fabricas de
ração, 2 moinhos de trigo e uma vinícola. Os associados consomem 22 mil
toneladas por mês de farelo de soja.
Cybelia: Empresa que atua na produção de ração animal, produz 2,7 milhões de
toneladas de ração por ano para bovinos, suínos, aves e coelhos. Fatura 1,3
bilhões de Euros/ano. Compra farelo de soja não transgênico do Brasil, e da
Argentina também, pois tem clientes que não fazem questão de ração com farelo
não-OGM. Possui 40 fábricas de ração. A diferença de preço pago pelo farelo com
rastreabilidade vai de 2 a 14 dólares por tonelada.
Union Set: É uma cooperativa agrícola resultado de uma fusão de duas
outras cooperativas. Fatura 2,3 milhões de Euros/ano. Produz vegetais e animais
(bovinos, suínos, perus, coelhos e ovinos);
vende rações, adubos e químicos. Fornece rações para outras cooperativas
e empresas. Tem clientes exigentes que querem
ração com farelo de soja não-OGM, mas tem outros que não se importam.
Hoje, metade é não-OGM e metade sem identificação. Compra o farelo não-OGM da
Coamo.
As afirmações desses dirigentes quanto ao consumo de farelo de soja
são de que o mercado exige um produto
cada vez mais diferenciado e, com isso, são obrigados a atender para poderem vender
seus produtos. O Carrefour, por exemplo, chamou seus fornecedores e demonstrou
a eles suas exigências e se propôs a apoiá-los na formação de grupos de
compradores para viabilizar as compras de farelo não-OGM. A exigência gera um
custo adicional para as empresas, porém não há um adicional de preço no produto
final, mas é a única condição para fornecer para o Carrefour.
Na opinião de alguns dirigentes e compradores, expressa por ocasião de
nossos encontros, é que, atualmente, o produto transgênico é um problema ético-filosófico-religioso e, em conseqüência, se faz mal para a
saúde humana ou animal ou ao meio ambiente é uma questão que não se discute
mais.
O consumo de farelo de soja na França é de cerca de 4,5 milhões de toneladas
por ano. O de não-OGM ocupa um espaço de 20% hoje, mas deve chegar a 1/3 do
consumo nos próximos dois anos. O desenvolvimento do conceito de cadeia
produtiva fez com que a França se tornasse a 2ª indústria alimentar do mundo. O
agente dominante é o distribuidor, que define o que o agricultor deve produzir.
O conceito de qualidade não funciona se não houver rastreabilidade do produto,
porque para se certificar é preciso ter o acompanhamento da produção em toda a
cadeia. O sistema de rastreabilidade
muda o modo de direção das cooperativas, porque a idéia de cadeia obriga a
melhorar os controles para poder certificar a origem da produção.
Levados pelo conceito de multifuncionalidade da agricultura, os
franceses estão mudando a maneira de adquirir as matérias-primas, buscando uma
conexão direta com os fornecedores e compromissos de longo prazo, primando a
relação cliente/fornecedor.
PROGRAMA DO SEMINÁRIO
A
CADEIA SOJA DE QUALIDADE DO PARANÁ
Parceria
França-Brasil
Rastreabilidade,
não transgênicos, perspectivas de selo de qualidade
Encontro
organizado com o apoio dos Ministéres des Affaires Etrangéres et de
I’Agriculture Français, do Cendotec e Ocepar
Programa de 12 de
setembro de 2002 de 14h00 até 18h00
14h00 - Abertura
pelo sr. Yves Darricau (Diretor Adjunto da
ONUDI).
14h10 – Introdução
pelo sr. Rabiller – Presidente do
Syncopac (Syndicat National des Coopératives des Aliments Composés).
14h25 - A cadeia de soja do Paraná e o programa de
rastreabilidade, pelo sr. Nelson Costa (Gerente Técnico e Econômico da Ocepar).
14h55 - Certificação
de qualidade e selo de qualidade no Estado do Paraná, pelo sr. Julio César
Felix (Diretor Técnico do Tecpar)
15h25 - Sistemas de rastreabilidade adotado pelas
cooperativas, pelos srs. Marcos Stamm (Gerente Técnico da Cooperativa Batavo), José Roberto
Gomes (Gerente Técnico da Cooperativa Cocamar), Popke
Ferdinand van der Vinne (Gerente Geral da
Cooperativa Castrolanda) e Antonio Carlos Benini (Gerente Comercial da Cooperativa Batavo).
16h05 - Rastreabilidade e transgênicos na França; controle,
certificações, meios e resultados,
pelo sr. Paul Bousquim (Diretor de Qualidade
da Cavac).
16h15 - Os tipos de cadeias; papel da parceria e da
certificação, pelo sr. Marc Leusie (Diretor do CRITT Crislalide).
16h20 - O desenvolvimento das cadeias entre a Europa e o
Brasil; riscos e possibilidades, pelo sr. Bettinger (SERCO).
16h40 – Conclusão:
-
Sr. Montecot (Presidente do SNIA);
- Sr. Nelson Costa (Gerente Técnico e Econômico do Ocepar)
- Sr. Yves Darricau (Diretor
Adjunto da ONUDI).
17h30 – Questões - debate aberto
SEGURANÇA NA RASTREABILIDADE
As exposições
da comitiva brasileira no seminário foram todas com objetivo de transmitir
confiança aos consumidores de farelo de soja franceses de que o Estado do
Paraná, através de suas cooperativas, tem condições de dar perenidade a cadeia
da soja não-OGM, adequando seus requisitos de rastreabilidade e certificação.
Para transmitir essa confiança, afirmamos que fizemos questão de participar do
seminário, trazendo representantes de cooperativas que já praticam a
rastreabilidade da soja, e técnicos do Tecpar, que é o organismo que
certificará a produção. Foi demonstrado a eles que é preciso estabelecer
compromissos para ambas as partes, de médio e longo prazo, pois há custos que
devem ser abatidos a longo prazo.
Pelo lado francês, a ênfase foi quanto a
necessidade de se firmar compromissos de médio e longo prazo e desenvolvimento
de um sistema de rastreabilidade que seja reconhecido mutuamente, a fim de que
haja divulgação para seus clientes de que o produto tem garantia de origem. Na
opinião dos franceses, os atributos da rastreabilidade fornecem importantes
argumentos para a diferenciação dos produtos e aumento dos espaços nos meios de
distribuição.
TERMO DE CONVÊNIO:
ESTRUTURAÇÃO TECNOLOGICA, SOCIAL ECONÔMICA
DE UMA CADEIA DURADOURA DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA ENTRE BRASIL E
FRANÇA
Situação vigente
Desde o
surgimento dos OGM’s no panorama mundial de produção de soja, o Brasil confronta-se
com um dilema da liberalização deste tipo de produção, motivado pela bandeira
de ganhos comerciais e do progresso científico.
As opiniões
diferem em cada um dos estados brasileiros. Aqueles em que a produção é baseada
no modelo de pequenas e médias propriedades e nos quais a preservação é um
valor em evidência, são os que se opõem com maior veemência aos OGM’S. Contudo,
esta oposição não deve ser sinônimo de estagnação nos planos científico e
tecnológico.
A hipótese
básica do presente programa é de adoção de um programa de rastreabilidade pelo
Estado do Paraná, minimizando os riscos associados à nova técnica e ao mesmo
tempo propiciando o progresso científico e organizacional, com objetivo de
atender os mercados que exigem qualidade diferenciada.
Convicção esta
que repousa sobre as seguintes premissas:
- Existe um mercado em potencial de produtos não OGM na Europa a ser
explorado e o Brasil é o país melhor posicionado para provê-lo.
- Este mercado é bastante exigente e necessita de um amadurecimento
técnico, de organização interna e entre elos da cadeia, além de evolução na comunicação
entre os agentes.
A crise é,
então, o momento de questionamento entre as opções de escolha: ou opta-se por
estratégias claras que propiciem o investimento em ferramentas e conhecimento,
ou opta-se por uma via de comodidade que pouco contribui à criação de novos
conhecimentos.
Neste contexto,
as cooperativas brasileiras podem contar com a cooperação do mercado francês
de produção animal, consciente em
preservar a imagem de seus produtos, de suas marcas e que valoriza a negociação
bilateral em oposição às exigências draconianas e práticas intransigentes da maior
parte dos distribuidores europeus.
Em
contrapartida, a indústria francesa necessita de garantias para certificar-se
que suas exigências são respeitadas, na medida do possível, por seus fornecedores.
A performance
assim obtida deve permitir remuneração do conjunto de atores, segundo a função
desempenhada por cada um e os riscos assumidos, num cenário de transparência.
Objetivos:
Geral:
O objetivo do
programa é reforçar a parceria entre cooperativas franco-brasileiras para a
comercialização de soja rastreada e certificada.
Objetivos específicos:
Diagnóstico técnico-econômico e
organizacional da cadeia
Domínio dos pontos de controle da
qualidade e da rastreabilidade
Instauração de um órgão certificador
para os agentes do Estado do Paraná
Criação de um selo de qualidade de
reconhecimento nacional e internacional.
Parceiros
Entidades |
Brasil |
França |
Empresas e instituições participantes |
OCEPAR E SESCOOP-PR |
Cooperativas do Oeste Union Set SERCO e CAVAC |
Empresas e instituições de serviço |
TECPAR– órgão certificador TECPAR – laboratório de análises |
Órgão certificador Laboratórios de análise PCR – ADIV - SERCO |
Instituições de pesquisa e de transferência de tecnologia |
TECPAR |
CIRAD –
INRA – CRISALIDE - ESA |
Comitês
nacionais
|
Brasil |
França |
Comitês |
BRDE Ocepar |
Ministério da Agricultura ONUDI/France Governo da Província de Parys de la Loire |
Responsáveis |
Ministério da Ciência e Tecnologia |
Ministério de Assuntos Estrangeiros |
Cronograma de Atividades
1ª
Etapa: Formação de recursos humanos – Período: novembro/02 a março/03.
1ª
Ação: - Realização do 1º Seminário em Curitiba, teórico para 8 pessoas (2 do
TECPAR e 6 da OCEPAR), com duração de uma semana.
- Realização de
um Seminário na França, prático, para o mesmo público, com duração de 2 a 4
semanas.
2ª
Ação: - Elaboração de um documento básico com as diretrizes do programa de
rastreabilidade da soja não OGM.
- Realização de um Seminário franco-brasileiro em
Curitiba, em Fevereiro de 2003.
2ª
Etapa: - Identificação das bases técnicas para a criação de um selo de
qualidade – Período: março a setembro de 2003.
1ª
Ação: - Realização de um diagnóstico da cadeia de soja
não OGM e elaboração de um referencial oficial de soja não OGM
2º
Ação: - Definição do papel das diferentes
Instituições e órgãos de certificação no estabelecimento do selo Paraná.
3ª
Etapa: Divulgação do selo Paraná
1ºAção: - Comunicado da criação
do selo Paraná e reconhecimento mútuo.
2ª
Ação: - Realização de seminário, na França, em
setembro de 2003, para avaliação dos pontos comuns e complementos.
4ª
Etapa: Diálogo de confiança
1ª
Ação: - Definição de encontros periódicos para
avaliação
INTERVENIENTES:
França
Instituições
diretas - Serco e Crisalide – Adiv
Instituições
apoiadoras - Inra, Enitia, Esa, Cirad e
Ministério de Assuntos Estrangeiros
Brasil
Instituições
diretas – Ocepar e Tecpar
Instituições apoiadoras – BRDE, Sescoop, Secretaria da
Agricultura e Ministério da Ciência e Tecnologia.
ENCAMINHAMENTOS
Será estruturado um programa de trabalho a ser incluído no Programa
Delta, que é uma parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil
e Ministério de Assuntos Estrangeiros da França, visando a alocação de recursos
para realização do trabalho. A estruturação desse programa está sendo preparada
pelo lado francês, devendo constar os objetivos, o cenário, a justificativa, os
indicadores de medição, a metodologia e os recursos necessários. No Programa
Delta, 50% dos recursos serão aportados pelo lado brasileiro e 50% pelo lado
francês, sendo que o programa estabelece que a parceria deve ser entre empresas
e não organismos de governo. Dos 50% de cada parte, metade deve ser aportada
pelas empresas parceiras, podendo ser composta por hora técnica de seus
profissionais.
A Ocepar e o Tecpar deverão aguardar a minuta do programa que está sendo
elaborado pelo sr. Marc Leusie, diretor do INRA. Na seqüência, estabeleceremos
nossos custos, para encaminhamento ao
Programa Delta, para aprovação. O sr. Marc Leusie deverá vir a Curitiba no mês
de novembro próximo para discutir a minuta final do programa.
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ANEXO
1
Os argumentos dos franceses a favor do
não-OGM são os seguintes:
O melhor argumento a favor dos OGM é a elevação da produtividade global
do setor de soja, que por sua vez pode favorecer certos sistemas de produção em
detrimento de outros. Sob este ponto de vista, as pequenas e médias propriedades
são mais vulneráveis e qualquer decisão precipitada pode acarretar no desaparecimento
de determinadas formas de produção. A experiência argentina mostra que a adoção
dos OGM’s implica em mudanças muito além das práticas de cultivo ou de cálculos
econômicos, porque há impactos nos parâmetros de produtividade, que em médio
prazo poderão ser prejudiciais aos agricultores.
Para tirar proveito pleno é preciso ter capacidade estrutural e
estratégica. Antes de adotá-la, é conveniente então melhorar a capacidade
estrutural e estratégica: conhecimento,
formação, organização e administrativa. A crise deve tornar-se fonte do
progresso já que ela trás à tona os gargalos e obriga a busca de soluções. O
Rio Grande do Sul que, por não ter sabido trabalhar a percepção de progresso
junto a seus agricultores, acabou comprometendo sua imagem no mercado de seus
produtos.
Os OGM’s de primeira geração sofreram oposição de uma grande parte da
opinião pública mundial que não vê nesta inovação uma fonte de progresso sob os
planos econômico e mesmo sanitário. Recusar os OGM’s é uma forma de manifestar
o questionamento sobre a forma de
progresso proposto.
Somente os OGM’s de 2ª e 3ª geração poderão, eventualmente, influenciar
positivamente ou modificar a opinião pública mundial. A experiência adquirida
com os OGM’s de primeira geração não garante o sucesso das novas tecnologias.
De fato a 1ª geração evidenciou o efeito desastroso da adoção de uma tecnologia
mal dominada e com conseqüências
incertas levando à falta de domínio do novo sistema, ceticismo e desmotivação
dos atores econômicos. Em revanche, a crise em nível estrutural estratégico
atual permite uma escolha mais consciente e seu resultado deverá ser superior
independentemente do caminho priorizado.
A afirmação da escolha pelo produto não-OGM permite explorar a
segmentação dos mercados. Pode-se afirmar quer todos os operadores atuais de
produtos agroalimentares franceses fizeram, em um determinado momento de sua
história, uma escolha de segmentação. Esta por sua vez, acarreta em outras
exigências tais como controle externo e
certificação, estabelecimento de instâncias institucionais, de órgãos
certificadores, de procedimentos formais de controle e tratamento dos
resultados, rotulagem, comunicação..
A prática da segmentação abre portas para a diferenciação nas
propriedades agrícolas e nas cooperativas. A diferenciação construída e
controlada não pode ser confundida com a dispersão de esforços e de
conhecimento observado nas últimas décadas a cerca dos produtos tradicionais.
A implantação de um órgão de controle permite antecipar os reais problemas
sanitários e adotar meios de resolvê-los antes que se tornem fatores limitantes
à comercialização como as: micotoxinas, resíduos de pesticidas e outros.
A rejeição aos
OGM’s é a ocasião para fidelizar sua clientela e a comprometer-se com um novo
sistema de relações de responsabilidades e parcerias.
O
questionamento é, em si, fonte de progresso desde que contribua para a adoção
de ações verdadeiramente inovadoras. São as crises que mais contribuíram para o
avanço da indústria agroalimentar na França, já que aquelas obrigam os
tomadores de decisão a imaginar soluções em razão das prioridades bem
definidas, e a pô-las em prática. A partir deste ponto de vista, o problema
entre a soja ou não-OGM pode ser
salutar aos agricultores do Paraná.
A percepção de
crise emerge das conseqüências incertas que esta escolha pode significar: em
termos dos efeitos sobre a produção em si e sobre a estrutura produtiva,
repercussão sobre o posicionamento no mercado atual e futuro da produção
agroalimentar brasileira (soja e outras culturas) e em termo da participação dos avanços científicos. Não está claro se a
oposição aos OGM’s é um atraso técnico-científico ou, ao contrário, um
investimento em novas ferramentas e métodos.