MATO GROSSO: Sojicultor esvazia o bolso para financiar safra 2008/09

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A seca na oferta de crédito fez o agricultor ter de desembolsar muito mais recursos próprios na safra 2008/09 do que no ciclo anterior, revela estudo da Agroconsult. Segundo estimativa da consultoria, o custo da safra atual de soja em Mato Grosso foi de R$ 6,8 bilhões, R$ 2 bilhões a mais do que no ciclo 2007/08. De posse desses números, a Agroconsult procurou produtores, indústrias de insumos e bancos e concluiu que 40% dos R$ 6,8 bilhões saíram do bolso dos próprios agricultores.

Escassez de recursos - Para se ter uma ideia do tamanho da escassez de recursos das fontes tradicionais de financiamento por causa da crise global, em 2007/08, quando a safra teve um custo de R$ 4,8 bilhões no Mato Grosso, apenas 6% foram de capital próprio, segundo a Agroconsult. "O que mudou foram o custo alto e a estrutura de financiamento da safra", afirmou Marcos Rubin, analista da consultoria, em palestra na terça-feira em Balsas (MA), organizada pela Agroconsult.

Tradings - O estudo mostrou, ainda, que a fatia das tradings como fonte de financiamento recuou de forma significativa na safra 2008/09. Enquanto no ciclo anterior alcançou 52%, caiu para 25% na temporada atual. Rubin observou que além de a participação ter caído, o valor final financiado pelas tradings também foi bem menor, já que o custo inflou.

Outras fontes - Outras fontes de financiamento também reduziram sua participação no total de recursos necessários para o plantio da soja em 2008/09, segundo a Agroconsult. Indústrias de fertilizantes, que emprestaram 7% dos R$ 4,8 bilhões em 2007/08, forneceram 6% do total na safra atual. A fatia dos bancos saiu de 13% para 11%, na mesma comparação, e da indústria de defensivos, de 19% para 16%. A fatia do segmento de sementes recuou de 3% para 2%.

Queda na Bolsa - Financiadores muito mais restritivos e custo maior não foram os únicos problemas dos produtores nesta safra. A crise global também derrubou os preços da soja na bolsa da Chicago - em parte pela incerteza em relação à demanda e também pela debandada dos fundos do mercado futuro de soja. Segundo Rubin, antes da crise, em março de 2008, os contratos em aberto de soja equivaliam a cerca de 120 milhões de toneladas e os fundos tinham 40% desses papéis. Agora, os contratos em aberto equivalem a 60 milhões de toneladas e a participação dos fundos caiu para 22%. Rubin explicou que a debandada aconteceu porque com a crise, os fundos tiveram de sair dos mercados de commodities para cobrir perdas em outros mercados futuros.

Outros efeitos - Outro efeito da crise global foi a redução da rentabilidade do produtor rural por causa do descasamento entre o preço do produto e insumos e a desvalorização do real. Cálculo da Agroconsult mostra que em julho de 2008, antes do agravamento da crise, o rendimento do produtor de soja da região de Balsas era de R$ 425 por hectare, em um cenário de soja a US$ 13 a US$ 14 em Chicago e dólar a R$ 1,70. Após a crise, em um quadro de soja entre US$ 8 e US$ 9 em Chicago e dólar a R$ 2,40, a rentabilidade cai para R$ 370 por hectare. Ainda que a perspectiva seja de redução nos estoques finais de soja do mundo, o que poderia levar a preços maiores no mercado, Marcos Rubin prefere não apostar em alta . "Me questiono se os bons preços já não aconteceram", afirmou, referindo-se a cotações registradas em janeiro passado.

Estoque mundial - Na estimativa da Agroconsult o estoque mundial de soja deve sair de 42 milhões no fim da safra de 2007/08 para 28,9 milhões na 2008/09, num cenário de consumo mundial de 231 milhões de toneladas, com produção na casa dos 56 milhões no Brasil e de 40 milhões de toneladas na Argentina, onde a seca derrubou a produção. Isso poderia significar alta da soja, mas Rubin observa que a tendência é os Estados Unidos plantarem mais soja diante da quebra na América do Sul. (Valor Econômico)

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