INFRAESTRURURA I: Produtores querem desvendar frete ferroviário do Paraná

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Hoje, somente 30% dos produtos do agronegócio destinados ao Porto seguem por via férreaNão é só com os pedágios que o agronegócio paranaense está insatisfeito, como mostrou reportagem da FOLHA da última segunda-feira. Os produtores encomendaram um estudo ao Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log), da Universidade de São Paulo (USP), para saber como a concessionária de ferrovia América Latina Logística (ALL) calcula seus fretes. A tarifa do trem é considerada alta e os serviços prestados pela empresa são apontados como insatisfatórios.

Estudo - O estudo foi pedido por três entidades: a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), a Organização das Cooperativas Paranaenses (Ocepar) e a Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar) e deve ficar pronto dentro de um ano. Atualmente, 70% dos produtos do agronegócio estadual destinados aos portos - com exceção do açúcar - são transportados via rodoviária. Somente 30% seguem sobre trilhos.

 

Mais barato - A Faep afirma que, de acordo com padrões internacionais, o frete ferroviário deveria ser 40% mais barato que o rodoviário. Mas a ALL pratica um valor muito próximo do cobrado pelos caminhões. ''A operadora pergunta para o usuário quanto ele paga para fazer o transporte pela rodovia. A partir daí, dá um desconto de 5%, 10% ou abate o valor do pedágio'', explica o economista da federação Pedro Loyola.

 

Justo - Segundo o engenheiro agrônomo da entidade, Nilson Hanke Camargo, os produtores querem saber se o frete ferroviário é ''justo'' ou não. ''As planilhas dos transportadores rodoviários são abertas. A gente sabe quais são seus custos. Mas os da ferrovia a operadora não revela alegando sigilo do negócio'', afirma. No entanto, de acordo com ele, toda vez que o frete rodoviário sobe, a ALL aumenta sua tarifa na mesma proporção. ''Às vezes chegam a subir mais, quando a demanda por vagões é muito grande.''

 

Qualidade - Camargo diz ainda que a tarifa não é o único problema. ''A qualidade do serviço é muito ruim, de acordo com as reclamações unânimes dos usuários'', conta. Segundo o agrônomo, os atrasos são constantes. ''A ALL agenda um comboio para um dia determinado. E acontece de o trem chegar quatro dias depois.'' No pico da safra, de acordo com ele, faltam vagões. ''O usuário espera 40 vagões, mas a empresa só manda 20'', exemplifica.

 

Outras consequências - Na opinião dos produtores, essas falhas, somadas aos problemas de infraestrutura nos portos de Paranaguá e Antonina, acabam por elevar também o frete marítimo da exportação e derrubam o preços das commodities. ''Sabendo dessas deficiências, o armador já cobra mais caro para transportar os produtos paranaenses'', justifica.

 

Tráfego mútuo - Camargo conta que a Faep está cobrando da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que implante o ''tráfego mútuo'' nas ferrovias, permitindo que outras concessionárias possam operar na mesma linha férrea, numa tentativa de baixar o frete pela força da concorrência. Outro pleito do setor é que os próprios usuários possam ter sua frota ferroviária e utilizar a via concedida.

 

Falta de concorrência - Flávio Turra, gerente Técnico-econômico da Ocepar, também atribui à falta de concorrência as tarifas ferroviárias que a entidade considera muito altas. ''Eles (ALL) são os únicos a operar no Estado e por isso cobram o que querem. Se o usuário não aceitar, eles mandam contratar caminhões'', declara. Apesar disso, Turra acredita que o estudo da Esalq-Log vai subsidiar os produtores para melhor negociarem os fretes com a concessionária.

 

Monopólio - Coordenadora do Grupo Esalq-Log, a professora Priscila Nunes, concorda com os produtores quanto à falta de transparência na formação das tarifas ferroviárias. ''Vamos levantar os custos deste modal no Paraná para saber se esses valores são justificáveis ou se são resultantes da falta de concorrência, do monopólio'', afirma. Segundo ela, ao final do trabalho realizado pelo grupo, os produtores terão um ''ferramental'' para verificar se, de fato, o que está sendo cobrado tem ou não relação com o custo do serviço prestado. (Folha de Londrina)

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