Impactos do Acordo Verde Europeu são tema do 2º encontro do Fórum Exigências do Mercado Internacional
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Na última segunda-feira (04/11), o segundo encontro do Fórum Exigências do Mercado Internacional do Sistema Ocepar reuniu quase 90 participantes. Em continuidade ao debate sobre os impactos das regulamentações ambientais internacionais para o cooperativismo paranaense, o tema da vez foi o Acordo Verde Europeu. A primeira reunião tratou do regulamento da União Europeia sobre produtos livres de desmatamento: a EUDR (sigla em inglês).
O Acordo Verde (Green Deal) ou Pacto Ecológico Europeu são estratégia que a União Europeia vem implantando para alcançar, entre outras metas socioambientais, o que os especialistas chamam de “neutralidade climática” até 2050. Essas iniciativas e exigências do continente europeu trariam impactos a diversos setores, um deles o agronegócio.
Entre as medidas, estariam restrição a produtos vindos de áreas de desmatamento (legal ou ilegal); controle maior quanto aos defensivos agrícolas e fertilizantes; fixação maior de nutrientes; redução de antimicrobianos e emissão de metano na pecuária; e até sobretaxa para produtos com “vazamento de carbono” (ou seja, com emissões além dos limites da atividade).
“Temos consciência da importância do mercado europeu para as cooperativas paranaenses. Então, precisamos estar preparados e conhecermos a realidade para podermos alcançar cada vez mais esse mercado”, comenta o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken durante a abertura do segundo dia.
É exatamente esse, segundo Ricken, o objetivo do Fórum. Com palestras de profissionais experientes e conhecedores da legislação e do mercado europeu, o evento visa trazer o debate e prepara os cooperados e cooperativas para atender esse “mercado de primeira”, nas palavras do presidente.
“Entendemos que essa é uma oportunidade. O Brasill tem uma legislação florestal e ambiental bastante avançada. Muita coisa já fazemos. O que precisamos é encontrar uma forma de certificar o que já fazemos para conseguir conquistar e abrir mais mercados, mesmo diante das novas exigências”, completa Ricken.
Unidade na defesa
Como afirma o engenheiro agrônomo Glauco Bertoldo, adido agrícola na Missão do Brasil junto à União Europeia, pelo Ministério da Agricultura, a Europa é o 2º mercado em importância para os produtos brasileiros. Ele foi o primeiro palestrante nesse segundo encontro do Fórum Exigências do Mercado Internacional do Sistema Ocepar.
“O Green Deal não é ruim pela ideia, mas porque é feito com a visão deles e não considera as características da nossa agricultura: clima, modo de produção etc. O que nos prejudica é que, apesar de termos nossas próprias regras já bem firmes e restritivas, ainda ficamos suscetíveis”, comenta.
Para Bertoldo, o trabalho deve ser conjunto pela imagem da agricultura brasileira na Europa. “O que nos falta é nos posicionarmos melhor enquanto país, tanto por parte do governo quanto pela iniciativa privada. É preciso agir unificado, que todos defendam o mesmo objetivo e posição perante o mercado e as exigências da União Europeia”, completa.
O segundo palestrante foi Osmar Moraes, Sustainability Manager da empresa NKG Stockler, uma das maiores exportadoras de café brasileira. “É quando as coisas estão mais difíceis, que encontramos as oportunidades”, comenta. Segundo Moraes, uma das ações da empresa para se manter e crescer no mercado é, exatamente, investir e ampliar o núcleo de sustentabilidade.
“É o setor que mais cresce, que mais recebe investimento e eu diria, até, que é o setor mais importante da empresa. Porque sem todo esse trabalho em campo, sem toda essa segurança que esse trabalho traz à empresa, ela não vai conseguir exportar”, comenta.
Para o gerente de sustentabilidade da NKG, quando uma nova regulamentação é colocada no mercado, a primeira coisa a se fazer é o preparado. “Para se ter uma ideia, há dez anos não tínhamos um código de conduta interno. Hoje, no mundo todo, nossos códigos de condutas que hoje se estende até aos fornecedores. Temos um setor de compliance estabelecido em todo grupo e selecionamos minuciosamente nossos fornecedores”, destaca Moraes, entre as medidas de preparo para atender o mercado internacional.
Oportunidade
O fórum foi encerrado com a palestra de Juliana de Lavor Lopes, Diretora de ESG, Comunicação e Compliance da multinacional Amaggi, segundo ela a maior companhia brasileira na cadeia de grãos e fibras. Juliana foi convidada para apresentaram as ações que a empresa já vem implantando para atender o mercado Europeu; uma maneira de incentivar e dar exemplo às cooperativas para o atendimento das exigências do mercado.
Como demonstrou a diretora, atuando em quatro áreas (commodities, Agro, Logística e Operações e energia), a Amaggi desenvolve suas atividades no Brasil e no exterior (América do Sul, Ásia e Europa). Entre ações de inovação e boas práticas agrícolas, a multinacional já desenvolve controle biológico, plantio direto, rotação de culturas (2 a 3 por ano, na mesma área), integra lavoura e pecuária, atua sem irrigação, mantem programa de prevenção de incêndios em florestas e lavouras; e o radar proprietário que tem 100 quilômetros de alcance para monitorar as ferramentas de microclima e agricultura de precisão.
Além disso, pelo programa Origins a Amaggi já trabalha com garantia de rastreabilidade da origem dos grãos e subprodutos, compliance, auditoria por 3ª parte, áreas livres de desmatamento e conversão de vegetação nativa e um processo de governança interna “que garante a conformidade com as políticas socioambientais, além das diretrizes internacionais e das leis nacionais”.
“Temos que começar a olhar essas exigências como grandes oportunidades. O Brasil é o país que tem maior capacidade de atender esse mercado. Temos que ser mais assertivos em nosso posicionamento de país e aproveitar isso”, comenta a diretora da Amaggi. Segundo ela, o setor precisa olhar suas forças como estratégia, aprender a trabalhar como setor para ganhar maior participação nesse mercado.
Fórum
O Fórum Exigências do Mercado Internacional do Sistema Ocepar, neste ano, tratou das exigências do mercado Europeu. O primeiro encontro, no último dia 23 de outubro, discutiu o regulamento da União Europeia sobre produtos livres de desmatamento: a EUDR (sigla em inglês). Em 2025, a ideia é dar continuidade aos debates.
A iniciativa é uma ação do projeto 4, de acesso a mercados, do Planejamento Paraná Cooperativo, PRC300, e vem sendo desenvolvida sob coordenação executiva é de Robson Mafioletti, superintendente da Ocepar, e coordenação técnica de Silvio Krinski. Os dois encontros do Fórum foram conduzidos por Leonardo Silvestri Szymczak, analista de Desenvolvimento Técnico.