FERTILIZANTES II: País tem meta para ser autossuficiente

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Apesar de ter alcançado o posto de terceiro maior exportador de alimentos, o Brasil ainda depende da importação de matérias-primas para obter um insumo essencial à sua produção agrícola: os fertilizantes. No caso dos nitrogenados, as importações são de 70% da quantidade consumida, enquanto as de potássio chegam a 90% da demanda dos agricultores. O fósforo é o produto que menos depende de compras externas, mas elas chegam a 50% da demanda interna.

Total - De acordo com dados da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), entre janeiro e agosto deste ano foram importadas no total 8,9 milhões de toneladas, 41,6% mais do que em igual período de 2009, um aumento que reflete a retomada agrícola depois da crise econômica. Em 2008, ano parcialmente afetado, as importações foram de 15,4 milhões de toneladas. As exportações do setor são marginais: atingiram 502 mil toneladas entre janeiro e agosto de 2010, ante 423,6 mil toneladas em todo o ano de 2009 e 400,7 mil em 2008.

Mobilização - A dependência brasileira das importações dessas matérias-primas despertou a mobilização dos produtores a partir de 2007, quando os preços internacionais deram um salto, jogando luz sobre a necessidade de produção interna. Desde então vêm sendo feitos estudos para investimentos na produção nacional por parte da Vale, Petrobras e empresas do setor. Na avaliação de Flavio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), o país pode alcançar a autossuficiência em médio prazo. No caso do fósforo, argumenta, já há reservas comprovadas em vários Estados, que devem suprir as necessidades do país dentro de cinco anos. Em nitrogênio também se registra uma busca pela autossuficiência, como está fazendo o Paraná, que desenvolve projeto para uma nova fábrica de ureia. O problema maior está no potássio, que requer investimentos muito grandes e de prazo imprevisível, uma vez que a maior parte das jazidas está na Amazônia.

Tempo - Mas a julgar pelas explicações de David Roquetti, diretor-executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), ainda vai levar muito tempo para o país dispensar as importações. "Como os projetos são muito grandes e, no caso de fósforo e potássio, envolvem extração, a mina precisa ser grande o suficiente para justificar o investimento, que situa-se entre US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões", afirma. "Uma coisa é achar que determinada mina tem uma quantidade 'x' de fósforo ou potássio. Outra é investir muito dinheiro e comprovar que lá existe o minério em quantidade mínima para exploração até determinado ano. Entre o 'achar' e a realidade, muitos milhões de dólares estão envolvidos." No caso da ureia, da qual se originam os nitrogenados e que depende do gás natural para sua fabricação, o problema, segundo Roquetti, é a produção de gás em volume suficiente para atender a todas as demandas internas, incluindo a das termelétricas. Isso, acredita, só será possível com a exploração do pré-sal.

Problemas estruturais - Os investimentos na produção local, acrescenta Roquetti, também dependem da solução de um leque de problemas estruturais, o que os empurra para um horizonte ainda mais distante: infraestrutura portuária e logística, questões regulatórias, ambientais, fundiárias e tributárias. "O Brasil precisa superar esses desafios. Caso contrário, seu impacto negativo pode desestimular ou inviabilizar investimentos desse vulto", afirma.

Vulnerabilidade - Os agricultores, que também gostariam de pagar um preço menor por esses insumos, o que seria possível caso eles fossem produzidos no Brasil, condenam a dependência brasileira. "O Brasil infelizmente ficou para trás na questão de fertilizantes, especialmente em potássio. É uma vulnerabilidade muito grande o fato de o país importar quase 100% de um produto que está presente em todas as lavouras, é um insumo básico", diz o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva. A seu ver, faltou uma política central para revisar a situação e promover o aumento da produção nacional. "É uma situação complicada que o Brasil tem pela frente, considerando-se que o país enfrenta diversas barreiras comerciais e pode vir a enfrentar uma dificuldade qualquer, como um boicote, em relação aos fertilizantes."

Risco - Fábio Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, considera que tal dependência põe em risco o desenvolvimento do sistema agrícola brasileiro. "Qualquer oscilação de mercado ou de política financeira pode causar impactos acentuados aos produtores. Grande parte de nossas terras é pobre, principalmente na região do cerrado e isso pesa no custo das fazendas", afirma. Segundo ele, na safra 2009/2010, os fertilizantes representaram 35% do custo das lavouras de milho e 25% das de soja. Para o Brasil, devido a sua grande dependência de importações, não há o que fazer enquanto não se aumentar a produção interna. Meirelles acrescenta que a questão deve ser vista dentro do contexto das necessidades da agricultura.

Contornando a situação - Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o Brasil tem conseguido minimizar, com importações, o fato de não contar com fontes supridoras de potássio. "Claro que não é uma situação confortável para um país que é um dos líderes do agronegócio, mas o Brasil pode contorná-la porque tem uma boa situação econômica e de reservas cambiais. Mas se eventualmente houver um problema que deixe o país sem divisas para importar, simplesmente não teremos matéria-prima para nossa agricultura." (Valor Econômico)

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