Entrevista: Presidente da Ocepar elogia apoio do governo às cooperativas
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Durante entrevista concedida a Agência Meios de São Paulo e publicada no site da Sociedade Rural Brasileira, o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski fala da organização cooperativista do Paraná, que é exemplo para todo o País, e do risco de proliferação de "cooperativas de fachadas"
Mola propulsora do agronegócio brasileiro, o sistema cooperativista do
País só agora tem recebido atenção do governo, que
vem tomando medidas e liberando recursos para financiar os investimentos das
cooperativas na agroindústria. O objetivo é acrescentar valor
agregado à produção dos agricultores brasileiros. Ao mesmo
tempo, só recentemente a própria sociedade brasileira tem despertado
para a importância das cooperativas no desenvolvimento das comunidades,
e o seu papel na geração de empregos e melhoria da distribuição
de renda.
O sistema associativista tem garantido o crescimento dos pequenos produtores.
Basta lembrar que 26% dos agricultores cooperativados do País são
profissionais sem terra, arrendatários ou parceiros. As cooperativas
são responsáveis pela geração de 182 mil empregos
diretos. O sistema cooperativista brasileiro atua em 13 ramos de atividades
e reponde por 6% do Produto Interno Bruto (PIB). As 1.662 cooperativas agrícolas
são o segmento mais importante deste sistema, empregando mais de 112
mil trabalhadores. No ano passado suas exportações geraram divisas
da ordem de US$ 1,13 bilhão.
Nesse universo, o cooperativismo agropecuário do Paraná é o mais desenvolvido do País. Em entrevista à Agência Meios, o presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, elogia o presidente Lula que, segundo ele, não se cansa de propagar a importância do papel que tem o cooperativismo no desenvolvimento do País. O presidente Ocepar, no entanto, alerta para o fato de que "na esteira da intenção do governo de estimular as sociedades cooperativas, aparecerão os aproveitadores de plantão, que tentarão constituir cooperativas de fachadas com fins específicos de se beneficiar neste momento". Leia a seguir a entrevista:
1) Qual a contribuição das cooperativas no processo de modernização
da agricultura do Paraná?
João Paulo Koslovski - No Paraná, o desenvolvimento da agricultura
e, portanto, do agronegócio, se confunde com o desenvolvimento e evolução
do cooperativismo. O cooperativismo agropecuário, a exemplo da agricultura
paranaense, é o mais desenvolvido do Brasil. As 67 cooperativas agropecuárias
respondem hoje por mais de 50% do PIB agrícola do Paraná. O valor
bruto da produção estadual é de R$ 18,7 bilhões,
que correspondem a uma produção de mais de 26 milhões de
toneladas de grãos.
2) Qual a participação das cooperativas?
JPK - No ano passado, o faturamento das cooperativas agropecuárias foi
de R$ 9,7 bilhões e a previsão é de um crescimento de 20%
este ano. Hoje as cooperativas respondem por mais de 52% do total de grãos
produzidos no estado, o que equivale a 10,3% do Produto Interno do Paraná.
Além disso, os quase 100 mil agricultores, que fazem parte do sistema
cooperativista paranaense, são responsáveis por 59% das exportações
totais das cooperativas brasileiras.
3) Como o senhor analisa o papel do governo com relação ao
sistema cooperativista?
JPK - Nunca se ouviu falar tanto em cooperativismo como nos dias atuais. E isso
se deve principalmente ao interesse do governo federal em apoiar as ações
desenvolvidas pelo sistema cooperativista brasileiro. Vale lembrar que o próprio
presidente Lula tem sistematicamente afirmado em seus discursos a importância
e o papel que têm o cooperativismo no desenvolvimento do País.
4) Um exemplo prático do trabalho do governo em favor do cooperativismo.
JPK - Há vários. Lula tem cobrado do setor e dos próprios
integrantes do poder Executivo uma postura de apoio e viabilização
das ações dos diversos ramos do cooperativismo. Vale lembrar que
o presidente já chegou a afirmar, ao lado do ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues, que pretende fazer do Brasil uma grande república
cooperativista.
5) E isso é bom?
JPK - Reconhecemos que tudo isso tem sido muito bom e importante, afinal, pela
primeira vez no Brasil, o governo se dispõe a apoiar as ações
da sociedade através do cooperativismo. No entanto, é preciso
ficar alerta contra possíveis ações dos aproveitadores
de plantão.
6) Que aproveitadores?
JPK - Entendo ser importante alertarmos para o fato de que na esteira da intenção
do governo em estimular as sociedades cooperativas, aparecerão os aproveitadores
de plantão, que tentarão formar cooperativas de fachadas com fins
específicos de se beneficiar neste momento. São pessoas desprovidas
da verdadeira ideologia e filosofia que norteiam cerca de 800 milhões
de cooperativistas em todo o mundo.
7) Como evitar isso?
JPK - Precisamos ficar atentos e sintonizados com os interesses das sociedades.
Criar cooperativas é muito fácil, o difícil é viabilizá-las
para que cumpram com seus objetivos que é o de defender os interesses
socioeconômicos daqueles que as organizam. Todos nós que trabalhamos
junto ao sistema sabemos o quanto é difícil e ao mesmo tempo importante
fazer com que o associado entenda o porquê de uma sociedade deste tipo.
8) Ou seja, o papel das cooperativas também tem de ser didático?
JPK - Sabemos o quanto é difícil incutir na cabeça daqueles
que integram as cooperativas que ela é uma sociedade solidária
e constituída por pessoas, onde a participação ativa e
o conhecimento e o entendimento dos seus direitos e deveres são fundamentais
para que a sociedade tenha sucesso. É preciso não esquecer que
o cooperativismo tem sido no mundo inteiro um importante instrumento de defesa
dos trabalhadores, dos agricultores, que muitas vezes, individualmente, não
conseguem ter melhores condições de ganhos ou de trabalho, e,
assim, buscam na filosofia da cooperação a defesa de seus interesses
comuns de forma coletiva.
9) No geral, como os municípios e as regiões são beneficiados
pela ação do sistema cooperativista?
JPK - A sociedade como um todo se beneficia do trabalho das cooperativas. Seja
no campo ou na cidade, onde há uma cooperativa, normalmente há
emprego, renda, recolhimento de tributos, promoção social do associado
e sua família e até mesmo dos membros da comunidade e especialmente
garantia de bons serviços de fornecimento de insumos, crédito,
assistência técnica e comercialização da safra.
10) Qual a participação das cooperativas do Paraná
na economia dos municípios do estado?
JPK - Em grande parte dos municípios paranaenses, a cooperativa é
a maior, senão a única, arrecadadora de tributos, e a principal
geradora de empregos. No meio urbano, especialmente no ramo das cooperativas
de trabalho, há um enorme mercado para a atuação das cooperativas.
E é aqui que necessitamos do governo para estabelecermos regras claras
sobre a constituição e funcionamento desse ramo do associativismo.
É que bem organizado e estruturado este pode ser um dos melhores instrumentos
para reduzir o elevado nível de desemprego que assola o nosso País.