DESPERDICIO: 10% dos grãos pelo ralo
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O Brasil desperdiça 10% da safra de grãos e, na temporada 2011/12, vai perder cerca de 16,5 milhões de toneladas de produtos como soja, milho, trigo e feijão nas lavouras, estradas, pátios dos portos e cantos de armazéns. A estimativa considera as avaliações técnicas de cada setor – colheita, transporte, armazenagem e embarque para exportação. Os problemas vão das frestas nas carrocerias dos caminhões ao excesso de umidade nos armazéns.
Perdas operacionais - É como se a agricultura jogasse fora R$ 4,98 bilhões por ano só com as perdas operacionais na soja. O volume de grãos desperdiçado é maior que o da safra de soja do Paraná, que cultiva 4,7 milhões de hectares para colher 14,9 milhões de toneladas neste verão. Os prejuízos começam na colheita, quando cerca de 1% é desperdiçado por mau uso das colheitadeiras ou problemas nas máquinas. Os fabricantes oferecem sensores de desrregulagem, mas as máquinas melhor equipadas custam mais de R$ 1 milhão e boa parte da frota opera à moda antiga. “A máquina mal regulada pode gerar até 5% de perda. O desafio da próxima década é melhorar a plataforma das colheitadeiras, onde ocorre o prejuízo”, diz João Rebequi, gerente de marketing de produto da New Holland.
Dobro - Quando o grão deixa o campo e ganha a estrada, o índice de perda dobra. No transporte, ficam 2% da safra. Caminhões com carrocerias mal vedadas e estradas esburacadas são responsáveis por essa taxa. “Quem dirige atrás de um caminhão velho carregado de trigo recebe uma nuvem no para-brisa”, afirma o analista técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. Ele nota melhoria com a renovação da frota de caminhões e as reformas nas rodovias.
Calcanhar de Aquiles - A armazenagem é campeã de perdas. Cerca de 5% da produção nacional são descartados durante o período em que os grãos ficam estocados. Os principais problemas são micotoxinas, apodrecimento, umidade, insetos e ratos. A expectativa do setor é de que o índice de perda na armazenagem diminua drasticamente a partir de 2017, quando começa a valer nova normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que exige controle maior na qualidade do serviço. As cooperativas do Paraná têm investido cerca de R$ 300 milhões ao ano em armazéns mais equipados.
Certificação - “Perto de 30% das unidades armazenadoras do país não vão conseguir a certificação. O produtor brasileiro está preparado para produzir e colher”, aponta o presidente da Associação Brasileira de Pós-Colheita, Irineu Lorini.
Portos - Nos portos brasileiros, os problemas são atribuídos à defasagem da infraestrutura. Apesar dos administradores das autarquias estimarem perdas inferiores a 1%, o setor produtivo sustenta que o índice chega a 2%. “Os portos estão defasados para a importância que o agronegócio ganhou no país. Os setores de máquinas agrícolas, caminhões e armazenagem estão melhorando. Mas, as condições portuárias são bem piores”, critica Mafioletti. “Os portos estão defasados para a importância que o agronegócio ganhou no país. Os setores de máquinas agrícolas, caminhões e armazenagem estão melhorando. Mas, as condições portuárias são bem piores”, critica Mafioletti.
Mudança exige tempo e dinheiro - Para conter as perdas no escoamento dos grãos, o Brasil precisa ampliar investimentos de longo prazo, conforme o setor produtivo. Mesmo com a elevação de 15% nas vendas no último ano, apenas cerca de 6,7% das 65 mil colheitadeiras do país estão sendo substituídas. Ou seja, são necessários 15 anos para renovação completa.
Caminhões - Os investimentos em caminhões seguem ritmo semelhante, afirmam os técnicos. O maior volume de recursos necessário é para solucionar os problemas da infraestrutura. Só o Porto de Paranaguá elabora projetos de R$ 2 bilhões. Mas há medidas relativamente baratas. Um sistema de ventilação natural – sem uso de energia elétrica – desenvolvido no Paraná reduz os estragos que a umidade e o calor causam nos grãos estocados. Os ventiladores retiram o calor dos silos e ganham fama internacional. “Já vendemos para o Japão, Argentina, Chile, Alemanha, Estados Unidos. Porém, a nossa prioridade é atender o Brasil, que tem bastante mercado para o produto”, diz o empresário e inventor Werener Uhlnann. (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)