CLIMA II: Excesso de chuvas ameaça 'safra cheia' do café

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

O clima é uma preocupação para o setor cafeeiro em 2010. O excesso de chuvas no segundo semestre de 2009 comprometeu a formação dos brotos florais nos cafezais e o resultado foram floradas irregulares com baixo 'pegamento' dos frutos. ''A safra deste ano é cheia, mas pode não ser tão exuberante como se imaginava inicialmente'', diz o especialista Celso Luis Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

Folhas - Pior: o excesso de umidade induz a produção de folhas no pé de café, que fica vistoso, mas encarece a colheita por causa da maior dificuldade de se apanhar os grãos. O produtor também vai gastar mais com podas e desbrota do cafezal, observa Vegro. Além disso, cresce o risco de incidência de pragas e doenças, já que o excesso de umidade, as altas temperaturas do verão e a grande quantidade de folhas tenras são 'um prato cheio' para a ferrugem, principalmente. ''A safra 2010/11 deverá ser trabalhosa, custosa e a qualidade talvez seja até inferior à deste ano, que já não foi boa por causa das chuvas durante a época de colheita'', avalia o pesquisador.

Dificuldades - O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Gilson Ximenes, endossa que a cafeicultura deve ter dificuldades em 2010. De acordo com ele, o produtor está descapitalizado, sem condições de tratar a lavoura. ''O excesso de chuva provocou floradas irregulares, o que deve reduzir a próxima safra, apesar de cheia''. O cenário da safra de café no Paraná é parecido. Segundo Paulo Sérgio Franzini, secretário executivo da Câmara Setorial do Café do Paraná, ligada à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), o problema foi o volume e a frequência da chuva no início da floração, a partir de setembro do ano passado. ''O período que normalmente é seco e frio - o que favorece a boa formação dos brotos - foi de muita chuva'', conta. ''É um fato que não me lembro de ter acontecido em outros anos'', diz o secretário.

Conseqüência - O resultado disso, acrescenta Franzini, é que hoje em uma única planta pode ser encontrado grãos já formados e grandes, médios, pequenos e ainda flores. ''Não está uniforme'' lamenta, frisando que isso dificultará a colheita. Por conta dessa situação, pontua ele, o produtor terá que optar por colher parceladamente - em duas ou três vezes -, mas ver o custo de mão de obra onerado, ou retirar os grãos de uma única vez e perder em qualidade. Franzini informa que nesta safra a previsão é que sejam colhidas de 2 milhões a 2,2 milhões de sacas de café, segundo levantamento feito pelo Departamento de Economia Rural, órgão ligado à Seab, no ínicio do mês de dezembro de 2009. O volume, por sua vez, é maior que o colhido no último ciclo: 1,5 milhão de sacas.

Mercado - Em relação às perspectivas de comercialização, o especialista Celso Luis Vegro, do IEA, diz que regiões tradicionais consumidoras - Estados Unidos, Japão e União Europeia - ainda não se recuperaram totalmente da crise financeira de 2008. O desemprego provocou a descapitalização das famílias, o que, na avaliação de Vegro, deve levar a uma mudança no hábito de consumo, que tende a se voltar para marcas mais baratas. A consequência é ''a redução do valor agregado pela cadeia'', explica o especialista.

Alta - O pesquisador do IEA comenta que as cotações do café, e das commodities em geral, mostram tendência de alta, em dólar. Isso porque os Estados Unidos, maior mercado mundial, deve persistir na trajetória de desvalorização de sua moeda, ''para recompor a economia'' desestruturada pela crise financeira. ''Provavelmente, as commodities agrícolas e metálicas devem continuar a subir em dólar'', diz. Ele pondera, no entanto, que nos últimos cinco anos a saca de 60 kg de café tem sido cotada entre R$ 250/R$ 260, quando o ideal, em termos de rentabilidade para o setor, seria preço acima de R$ 300.  (Folha de Londrina, com Agência Estado)

Conteúdos Relacionados