CBN AGRO: O Brasil tem uma condição extraordinária de ser o campeão mundial da segurança alimentar, afirma Roberto Rodrigues

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“O Brasil tem uma condição extraordinária que o mundo pede, de ser o campeão mundial da segurança alimentar e da segurança energética. Como? Com uma estratégia que permita ampliar a sua produção agrícola. Alimentar o mundo gera emprego, riqueza, renda e paz universal”. Essa foi a mensagem deixada pelo cooperativista e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em sua palestra com o tema “Perspectivas do agronegócio brasileiro”, durante a 8ª edição do CBN Agro, na tarde dessa segunda-feira (01/07). O evento foi uma iniciativa da rádio CBN Curitiba e ocorreu no auditório do Sistema Ocepar, em Curitiba, em parceria com a entidade, patrocínio das cooperativas Sicoob Sul e Integrada e apoio do Governo do Paraná. Estiveram presentes aproximadamente 120 pessoas, entre autoridades, lideranças cooperativistas, profissionais de entidades parceiras e demais convidados.

Autoridades - O Fórum CBN Agro foi aberto pelo presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, juntamente com o governador do Paraná em exercício, Darci Piana, o secretário estadual da Fazenda, Norberto Ortigara, o gerente geral da CBN Curitiba, Amarildo Lopes, o presidente executivo do Sicoob Sul, Reis Gedra, e o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ágide Eduardo Perin Meneguette. O evento foi ainda prestigiado pelos secretários de Estado da Agricultura, Natalino Avance de Souza, da Indústria, do Comércio e Serviços, Ricardo Barros, e da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Leandre dal Ponte. O secretário estadual do Turismo, Márcio Nunes, foi representado pelo professor Eugênio Stefanello. O ex-governador Orlando Pessutti e o presidente do Sistema OCB/AC, Valdemiro Rocha, também estiveram presentes acompanhando a explanação.

Cavaleiros do ApocalipseRodrigues iniciou sua palestra ressaltando o que ele chama de “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, ou seja, os maiores desafios do setor do agronegócio existentes nos diversos países pelos quais já passou: segurança alimentar; segurança energética, meio ambiente e a desigualdade social. “Esses quatro fantasmas ameaçam a paz mundial. E a segurança alimentar é a base da estabilidade política e econômica. Ela será resolvida pelo agro. Mas qual agro? Aquele que está especialmente localizado no cinturão tropical do globo, do qual fazem parte, por exemplo, os países da América Latina e da África”, disse.

Oferta mundial de alimentos - Em sua explanação, Rodrigues citou um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) indicando que, em 10 anos, a oferta mundial de alimentos deve crescer 20%, porém, para que isso ocorra, o Brasil deverá aumentar a sua oferta em 40%. “Por que é colocada essa responsabilidade tão forte ao nosso país? Por três razões basicamente: devido à tecnologia utilizada pelos produtores rurais brasileiros, porque temos gente muito empreendedora no campo e por causa das políticas públicas. Esses três fatores estimulam a expectativa de que a produção brasileira de alimentos deva crescer o dobro que a mundial”, afirmou.

Estratégia integral - Porém, em seu entendimento, isso só ocorrerá efetivamente se o país investir numa estratégia integral que contempla melhorias na infraestrutura e logística; a implantação de uma política de renda baseada em quatro pontos: seguro, preços de garantia, tecnologia e crédito; ações voltadas ao comércio internacional; organização das cadeias produtivas; diversificação de produtos exportáveis, investimento em tecnologia (digitalização, conectividade, fertilizantes, outros insumos, e bioinsumos); sustentabilidade, entre outros itens. Rodrigues destacou ainda problemas como o desmatamento ilegal, incêndios criminosos, invasão e grilagem de terras e garimpo ilegal, entre outros, cuja solução está em exigir que as leis, como o Código Florestal, sejam cumpridas.

Números - Rodrigues apresentou números da evolução da produção brasileira de grãos, que cresceu mais de 400% no período entre a safra 1990/91 e 2023/24. Também mostrou dados que comprovam o peso do agronegócio na economia brasileira, que responde por 49% das exportações nacionais, e, ainda o protagonismo do país na produção na produção mundial de diversos itens. O Brasil é o maior produtor mundial de suco de laranja, respondendo por 74% do total global; é o segundo maior produtor de soja (39%), de açúcar (22%), carnes de frango (15%) e bovina (28%), e o terceiro maior produtor de milho (10%), entre outros destaques. Em relação à segurança energética, lembrou que 47% da matriz energética brasileira tem origem em fontes renováveis. Clique aquie confira a apresentação completa.

Urbano e rural - Além disso, ele abordou em sua palestra a relação entre o urbano e o rural e a importância de se reconhecer o trabalho realizado no campo. Ele disse que seu discurso é inspirado numa atitude da atriz francesa Catherine Deneuve que, ao receber um prêmio, o dedicou aos agricultores daquele país. Ao ser questionada sobre o motivo, ela respondeu: “Como você acha que estou viva, alimentada, vestida, calçada, perfumada? Nós estamos vivos por causa da agricultura”, relatou o palestrante. “Aquilo mexeu profundamente comigo. E, hoje, eu tenho feito o discurso óbvio, na linha dela. Eu sou produtor rural e vários produtos e serviços que vêm da cidade me permitem plantar. O produtor rural depende das cidades para plantar e vender a sua produção. E a cidade depende do agricultor para que as pessoas se mantenham vivas, alimentadas, perfumadas...”, acrescentou.  

Única - “A relação urbano rural é absolutamente única. Não é de gêmeos fraternos, é de gêmeos siameses. Um não vive sem o outro. Acredito que precisamos debater cada vez mais esse tema. Num país como o Brasil, com 85% da população urbana, essa questão precisa ser conhecida e defendida, porque a maioria das pessoas desconhece e, em alguns casos, é contra o setor”, prosseguiu. “E quem faz o elo entre o rural e o urbano mais perfeito é a cooperativa. O cooperativismo é um instrumento de articulação, organização e ligação entre o rural e o urbano. É o papel mais nobre que existe a ser desenvolvido”, disse.

Orgulho - Para ele, o Brasil deve que ter orgulho da sua origem rural. “O país está destinado a ser o campeão mundial da segurança alimentar e energética, cuidando das questões climáticas e gerando emprego no campo. Temos uma chance extraordinária. Os números provam isso. Mas ainda falta uma estratégia. Eu espero viver mais 20 anos. Pra quê? Para carregar essa taça de campeão do mundo [da segurança alimentar]. Essa é a seleção brasileira para ser campeã mundial da paz, salvar a humanidade, criar uma liderança baseada em coisas reais, não em fantasias”, finalizou.

Sobre o palestrante - Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo formado pela Esalq‑USP, em 1965, com cursos de aperfeiçoamento em administração rural. É coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, tem centenas de trabalhos publicados sobre agricultura, cooperativismo e economia rural. Autor de dez livros e co‑autor de diversos outros. Doutor Honoris Causa pela Unesp. É membro do Conselho Consultivo da Fecap, presidente do Conselho Consultivo da EsalqShow, e, ainda, membro do Conselho Consultivo da Esalq, do Conselho Consultivo da Japan House e do Grupo de Empresários Brasil/Japão - Wise Men Group, que busca maior aproximação entre os dois países. Rodrigues foi ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de janeiro de 2003 a junho de 2006. É o embaixador especial da FAO para as cooperativas. Foi presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) por dois mandatos (1985/1991), da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas (de 1992 a 1997) e da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), no período de 1997 a 2001.

CBN Agro - O CBN Agro é promovido com o propósito de levar informação com credibilidade sobre os principais temas do agronegócio no Brasil e no mundo e, desta forma, estimular o debate e a troca de informações sobre o setor. No mês de setembro, o evento será realizado também nas cidades de Londrina, Maringá, Campo Mourão, Umuarama, Toledo e Cascavel.

FOTOS: Gabriel Rosa / AEN e Samuel Milléo Filho / Sistema / Ocepar

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