AGRÁRIA III: Grupo mantém tradições que remontam ao século XVIII

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Em seus 60 anos de existência, a Agrária manteve a tradição e a cultura das famílias que vieram da Europa, com música, idioma, cursos e um museu dedicado ao assunto. Nele, a assistente cultural Lore Schneiders rememora, por meio de fotos, objetos e documentos, a história dos antepassados. Os suábios, a partir de 1720, foram do sudoeste da Alemanha para o sudeste da Europa (ex-Iugoslávia, Romênia e Hungria), onde permaneceram por 250 anos e ganharam o nome de suábios do Danúbio, por estarem perto do rio de mesmo nome. Após a Segunda Guerra, fugiram para a Áustria, onde viveram em abrigos para refugiados. Até que a instituição Ajuda Suíça para a Europa idealizou um projeto para 500 famílias, com imigração para outro país. Foi assim que chegaram ao Brasil. 

A chegada - Com 22 mil hectares, a Agrária foi criada pouco antes da chegada dos suábios à região de Guarapuava. Eles viajaram em sete navios só com roupas e poucos pertences - cada família podia trazer 200 quilos. Partiram de Gênova (Itália) e desembarcaram em Santos. O primeiro grupo, com 221 pessoas, ficou dois meses morando em uma escola, até que os primeiros barracões ficaram prontos. Depois, foram erguidas 500 casas e o trabalho foi comunitário até 1953, quando houve a distribuição das terras. Cada família recebeu de 25 a 30 hectares, em média, e tinha seis anos para pagar pela área. 

Dificuldades - Muitos não conseguiram, devido a quebras de safras e outros problemas, e até 1970 metade do grupo deixou o local e foi atrás de outras oportunidades. Uma espécie de reforma agrária foi feita com os que ficaram e foi dado maior prazo para quitação das dívidas.

Como não havia nada na área rural, a Agrária construiu escola, hospital e uma rádio, que continuam em funcionamento. Na escola, o alemão faz parte das disciplinas e o mesmo acontece com a rádio, que tem duas horas de programação diária com músicas e informações no idioma.

As placas da cidade são escritas em português e em alemão, a arquitetura típica daquele país está presente nas casas e o relatório anual da cooperativa está escrito em português, inglês e alemão. Em casa, os moradores usam o dialeto dos suábios. De acordo com os moradores, o distrito de Entre Rios é a única comunidade existente na atualidade em moldes semelhantes às que existiam no sudeste da Europa. Em outros países, os suábios estão dispersos.

Museu - Roupas da época, peças de decoração, malas, máquinas de costura, instrumentos musicais e de agricultura estão entre as peças do museu. Um jornal de Santos datado de 1951 narra a chegada de 514 imigrantes, "a maior leva do pós-guerra", para a colônia de Guarapuava. Os pais de Lore, por exemplo, casaram na Áustria em abril e, em maio de 1951, estavam em um navio. No local foi reconstituído o interior das primeiras casas, com móveis feitos em madeira e decoração que lembrava a origem dos moradores. Atualmente cerca de 10 mil pessoas vivem em Entre Rios. (Valor Econômico)

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