ABAG:Os candidatos à Presidência e o agronegócio

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A poucos dias das eleições presidenciais, o 9° Congresso Brasileiro do Agroneg6cio, no início de agosto, escolheu como tema principal a governança. "O agronegócio deve ser tratado como questão de Estado e não de governo", disse Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), entidade promotora do evento.

Diagnóstico - Dias antes do congresso, a Abag enviou aos três candidatos à Presidência da República um amplo diagnóstico com as demandas do setor, os entraves para o seu desenvolvimento e as metas para o período 2011-2020. O documento foi acompanhado com algumas perguntas. As respostas dos candidatos foram exibidas em vídeo durante o 9° Congresso que teve a participação do presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski, como um dos debatedores.

 

Opiniões - Na visão de José Serra (PSDB), o agronegócio é a galinha de ovos de ouro do desenvolvimento brasileiro. "Não fosse a ajuda do setor durante o Plano Real, o Brasil já estaria quebrado" diz. Para Dilma Rousseff (PT), o agronegócio é fundamental para que o Brasil possa atingir duas grandes metas nos próximos anos: erradicar a miséria e se tornar a quinta maior economia do mundo. "Sou a solução para o agronegócio brasileiro. Não tenho dificuldades para me relacionar com a maior parte dos representantes do setor" afirmou Marina Silva (PV).

 

Veja a seguir os principais trechos desses depoimentos publicados na edição de setembro da revista Agroanlysis, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

ABAG Como o seu governo pretende estabelecer uma política de renda para o setor?

 

SERRA Ha três pontos. O primeiro é o câmbio. A agricultura exporta cada vez mais e recebe cada vez menos, devido à supervalorização do real frente ao dó1ar. Outro problema: falta um seguro efetivo para a nossa agricultura. Temos de montar um sistema nacional de seguro agrícola forte. Exige dinheiro do governo, sim, mas eu garanto que vai exigir menos do que o subsídio que acaba sendo dado depois. Vamos equacionar essas três questões para o setor, que e a verdadeira galinha de ovos de ouro do desenvolvimento nacional.

 

DILMA O Brasil rural de hoje é muito diferente do de alguns anos atrás. O campo cresce e se desenvolve, com renda e cidadania. O PIB da agropecuária cresceu 32% entre 2002 e 2009; saltou de R$ 124 bilhões para R$ 164 bilhões. O crédito rural para a safra 2010/2011 é de R$ 116 bilhões, quase cinco vezes mais em relação à safra 2002/2003. O endividamento foi ajustado por meio de uma ampla renegociação. Temos a convicção de que a agricultura brasileira responde a três agendas estratégicas para o País e para o mundo: segurança energética, segurança alimentar e a segurança climática.

 

MARINA É preciso criar novas bases e estratégias para o desenvolvimento do agronegócio e resolver problemas ligados a infraestrutura, ao crédito e financiamento. Eu sou a solução para o setor no século 21. Não tenho problemas para me relacionar com a maioria dos representantes do setor.

 

ABAG Como o senhor ou a senhora irá atuar para solucionar os gargalos nas áreas de infraestrutura e logística, que reduzem a competitividade do agronegócio e a rentabilidade do setor?

 

SERRA Com menos discurso e mais ação. As estradas federais estão em péssima situação, sete em cada dez são consideradas ruins, sem falar de armazenagem e dos portos. Temos de despolitizar os órgãos que cuidam do investimento governamental no Brasil. Este loteamento de cargos provoca distorção. O governo também não tem muita capacidade para fazer parcerias com a iniciativa privada, por meio de concessões e parcerias público-privadas.

 

DILMA Concordo plenamente que uma das principais ações para a expansão ainda maior da nossa produção agropecuária e das nossas exportações está hoje na logística. Infraestrutura e logística são as duas principais limitações para a expansão do setor. Esta avaliação foi um dos motivos para a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e também estará no PAC 2, para o qual serão alocados R$ 110 bilhões em infraestrutura e logística.

 

MARINA É necessária a elaboração de um plano para infraestrutura com diretrizes que orientem todas as ações relacionadas ao setor. O Programa de Aceleração do Crescimento, apesar de sua importância, e uma junção de obras. Não podemos perder essa guerra para nós mesmos. Não podemos atender apenas as questões emergenciais, mas termos uma visão estratégica para os próximos 20,30 anos.

 

ABAG Como o senhor ou a senhora espera desenvolver as políticas de comércio exterior, envolvendo não apenas os acordos comerciais como a melhoria da percepção dos consumidores sobre a sustentabilidade do agronegócio brasileiro?

 

SERRA De 2003 para cá, foram assinados mais de 100 acordos de livre comércio no mundo. O Brasil assinou apenas um, com Israel, um país pequeno, com baixo comércio. Há situações absurdas: a gente exporta carne desossada, que por definição não tem aftosa, mas em certos mercados este produto não entra. Precisamos batalhar muito para remover essas barreiras. Não fosse o agronegócio, o Brasil hoje estaria quebrado. Entre 1995 e 2005, os preços agrícolas cresceram 5% abaixo do índice da inflação.

 

DILMA Daremos continuidade a política externa iniciada no governo Lula de diversificação das exportações, com fortalecimento das relações com países da África, da Ásia e da America Latina. Vamos melhorar também a competitividade das exportações brasileiras, com uma reforma tributária que garanta a devolução rápida dos créditos tributários. Também apoiamos a introdução de tarifa zero para a aquisição de insumos nacionais. E importante lembrar que a preservação do meio ambiente é um dos compromissos fundamentais para uma agricultura sustentável e moderna. Precisamos demonstrar aos consumidores mundiais que os nossos produtos são diferentes, plantados com base no respeito à biodiversidade e ao meio ambiente.

 

MARINA Precisamos desconstruir o argumento daqueles que querem incluir barreiras para impedir a entrada dos produtos brasileiros nos países. Precisamos criar uma nova narrativa, passando no teste de economia sustentável, e com isso ganharemos respeito internacional. Temos de aproveitar as imensas oportunidades que estão desenhadas neste inicio de século.

 

ABAG Quais os mecanismos para alavancar a pesquisa e difusão de tecnologia em prol de uma agricultura verde, de baixo carbono, diante das ameaças do aquecimento global?

 

SERRA Fortalecer a Embrapa e dar uma linha de pesquisa para todos os outros institutos estaduais, que também tem muita importância. Temos de turbinar mais ainda esta área, na direção da agricultura verde, que poupa emissões de carbono. Desenvolver pesquisas conjuntas com a área privada, como fizemos em São Paulo por meio da Fapesp. O Brasil foi o primeiro pais do mundo que conseguiu desenvolver uma agricultura extensiva, de alta produtividade, nos tr6picos. Graças a capacidade empresarial e a pesquisa.

 

MARINA O País precisa ter produtos de alto valor agregado, e por isso e necessário ter investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Um exemplo disso e a soja plantada no cerrado. Defendemos o uso da tecnologia na produção de alimentos e a elaboração de uma nova matriz energética que inclua as energias eólica e solar, bem como a biomassa. Temos de começar a planejar a infraestrutura energética do País. Precisamos valorizar as pesquisas da Embrapa, nos antecipando aos problemas. Este e um dos nossos compromissos. Fiquei impressionada com o documento da Abag, que tem foco na sustentabilidade. O setor tem grandes possibilidades.

 

DILMA O nosso compromisso em Copenhague foi a base para o nosso caminho na direção, ao de uma agricultura verde e de baixo carbono. São eles a recuperação das pastagens degradadas, a integração da agricultura-pecuária, o plantio direto na palha e a fixação biológica de hidrogênio na terra. Sabemos da importância da agroenergia para a produção dos biocombustíveis. A Embrapa foi tratada com responsabilidade e zelo pelo atual governo. Investimos quase R$ 1 bilhão nesta área.

 

ABAG Quais ações são consideradas vitais entre o governo e a iniciativa privada na defesa agropecuária?

 

DILMA Por meio de novas tecnologias de controle sanitário. Também a fiscalização dos insumos agropecuários é fundamental, assim como a certificação dos alimentos. O governo do presidente Lula organizou um conjunto de ações para os diversos centros de tecnologia. O nosso objetivo e facilitar a integração entre a demanda e a oferta de tecnologia em áreas estratégicas. O governo tem apoiado, e o meu também apoiará a modernização da rede pública de laboratórios. Ampliaremos a parceria com a iniciativa privada, com o objetivo de oferecer produtos de melhor qualidade para o consumidor brasileiro e a garantia de padrões de qualidade internacionais. Isso viabilizara a abertura de novos mercados para os nossos produtos.

 

SERRA Muitas destas questões que os países levantam contra o Brasil são protecionismo disfarçado, praticas desleais de comércio. Mas também têm algumas causas justificadas. Nós temos de arrumar as instituições no Brasil, tanto as federais como as estaduais, para um melhor processo de defesa agropecuária. Temos de cuidar das nossas fronteiras, porque muitos problemas vêem dos países vizinhos. Precisamos, inclusive, atuar junto a esses países para que eles combatam esses problemas. Devemos investir também na produção de defensivos genéricos, como também em transgênicos verde-amarelos, adaptados à nossa agricultura.

 

MARINA Esse tema depende dos esforços governamentais e do setor. O aporte e o apoio são de responsabilidade do governo federal, estadual e municipal, já o desenvolvimento de produtos de qualidade depende do setor. Defesa Agropecuária está ligada a dois importantes assuntos: saúde e abertura de novos mercados.

 

ABAG Qual será o seu posicionamento sobre a invasão da propriedade rural e a insegurança jurídica?

 

SERRA A insegurança no campo provém da ação política. O MST não e um movimento pela reforma agrária. É um movimento político, um movimento organizado, um projeto socialista revolucionário para o País. E, neste caso, eu defendo a liberdade para que eles participem da política. Mas eu sou contra que o governo de dinheiro para movimentos políticos. As invasões são um fator de insegurança e pouco tem a ver com a reforma agrária.

 

DILMA O campo hoje vive uma situação completamente diferente. E isso foi fruto de investimento significativo do governo Lula na agricultura familiar. O crédito, a assistência técnica e a aposentadoria rural, programas como Luz para Todos e o Bolsa Família estão levando a paz social ao meio rural. A diminuição do número de conflitos e real. O assentamento de quase 600 mil famílias, o crescimento do País e a geração de empregos contribuem para isso. Além do programa Terra Legal e do combate ao desmatamento, que levam a paz a Amazônia.

MARINA Precisamos criar mecanismos de integração, mantendo a especificidade de cada setor. Estamos vivendo de prosperidade no Brasil. Quaisquer que sejam os movimentos políticos devem ser feitos dentro do Estado de Direito. (Revista Agroanalysis)

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