Fórum reúne cooperativas de transporte em Foz do Iguaçu

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O Fórum de Dirigentes das Cooperativas de Transporte do Paraná, realizado no dia 30 de setembro, em Foz do Iguaçu, reuniu representantes de 16 cooperativas do setor, de diversas regiões do Estado. O evento teve por objetivo tratar de assuntos que afetam o ramo e promover a troca de experiências. A programação incluiu palestras técnicas, debates sobre temas estratégicos e a definição de agendas futuras com vistas ao fortalecimento das cooperativismo de transporte.

A abertura teve a presença do superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti, do representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Tiago Barros de Freitas, do coordenador estadual do ramo transporte e presidente da Cooperativa Rodocoop, Marcos Antonio Trintinalha, e do presidente da Coottrafoz, a cooperativa anfitriã, Vitalino Capeletto. Participaram também o gerente de Monitoramento e Consultoria do Sescoop/PR, João Gogola Neto, e o coordenador de consultoria técnica contábil da entidade, Devair Antonio Mem.  

O presidente da cooperativa anfitriã apresentou a Coottrafoz, destacando seu papel relevante no transporte de passageiros voltado ao turismo na região Oeste, em especial no atendimento à tríplice fronteira e aos atrativos de Foz do Iguaçu. Capeletto também reforçou um pedido de auxílio institucional ao Sistema Ocepar para buscar a regularização de um impasse junto ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que não reconhece a frota da cooperativa em nome dos cooperados, situação que contraria a Lei 5.764/71. Segundo ele, essa interpretação restritiva tem impedido a Coottrafoz de transpor a divisa do município com suas vans, limitando sua competitividade e prejudicando a expansão dos serviços de transporte turístico oferecidos pela cooperativa.

Reforma Tributária e impactos para as cooperativas

O coordenador de Consultoria Técnica Contábil do Sescoop/PR, Devair Mem, apresentou uma análise detalhada da Emenda Constitucional 132/23 e da Lei Complementar 214/25, que institui o novo modelo de tributação sobre o consumo no Brasil. Foram discutidas as regras de transição até 2033, a neutralidade tributária nos atos cooperativos e o regime específico para operações entre cooperativas e associados.

O destaque foi a ênfase nas implicações para o transporte de cargas, incluindo a base de cálculo do IBS e CBS nos contratos de frete, a compensação de créditos presumidos para transportadores autônomos e a necessidade de adequação dos sistemas fiscais e contábeis das cooperativas. 

Regulação e fiscalização da ANTT

Na sequência, a superintendente substituta de Serviços de Transporte Rodoviário e Multimodal de Cargas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Gizelle Coelho Netto, apresentou os avanços da Política Nacional de Pisos Mínimos de Frete, instituída pela Lei nº 13.703/2018. Foram detalhados os novos parâmetros de cálculo dos pisos, a obrigatoriedade de pagamento de retorno vazio em determinadas operações e os critérios de fiscalização previstos na Resolução 5.867/2020.

Também foram anunciadas as alterações no Manifesto Eletrônico de Documentos Fiscais (MDF-e) a partir da Nota Técnica 2025.001, que introduz campos de validação para cruzamento eletrônico de dados. Esse processo tornará a fiscalização mais automatizada, reduzindo falhas e ampliando a transparência na cadeia logística.

Outro ponto abordado foram os mecanismos de fiscalização e monitoramento. Gizelle destacou que a ANTT vem ampliando o uso de cruzamento eletrônico de dados, combinando informações fiscais, documentos de transporte (como o MDF-e) e o CIOT (Código Identificador da Operação de Transporte) para verificar em tempo real a conformidade com a tabela de pisos. A nova Nota Técnica 2025.001 trouxe regras mais rígidas de validação do MDF-e, exigindo o registro detalhado do produto predominante, valores de pagamento e identificação do tipo de vale-pedágio. Essa automação, segundo a palestrante, reduzirá a subjetividade e permitirá maior eficiência no processo sancionador, uma vez que as infrações serão detectadas de forma mais rápida e precisa.

Gizelle também ressaltou o papel pedagógico da ANTT, lembrando que o 8º Ciclo Regulatório de Revisão Ordinária (PNPM) está em andamento, com previsão de atualização dos coeficientes até o final de outubro de 2025. Ela ainda motivou os participantes a contribuírem com suas sugestões na Audiência Pública.

Panorama e estratégias do cooperativismo de transporte

A OCB, representada pelo analista técnico Tiago Barros de Freitas, apresentou dados atualizados do cooperativismo brasileiro, que soma 4,3 mil cooperativas e 25,8 milhões de cooperados, sendo 752 no ramo transporte, responsáveis por R$ 12,1 bilhões em ingressos anuais. No Paraná, as cooperativas de transporte foram destacadas como estratégicas para a logística, integrando cadeias agroindustriais, consumo e serviços. Foram discutidas as estratégias de crescimento do ramo, incluindo ampliação da representatividade institucional, fortalecimento de práticas de governança e desenvolvimento de projetos coletivos em mobilidade, digitalização e inovação.

Missão China 2025 e inovação tecnológica

A apresentação dos resultados da Missão China 2025, realizada de 15 a 21 de maio, trouxe ao Fórum uma visão estratégica sobre as transformações tecnológicas que estão redesenhando o transporte mundial. A delegação do cooperativismo brasileiro, que incluiu representantes do Paraná, percorreu polos industriais e de inovação em cidades como Guangzhou, Shenzhen e Hong Kong, conhecendo de perto as soluções em mobilidade elétrica, conectividade digital e infraestrutura de logística inteligente.

Foram relatadas visitas técnicas a fabricantes globais como BYD, Yutong e GAC Group, que apresentaram caminhões e ônibus elétricos de diferentes portes, sistemas de recarga ultrarrápida (com capacidade de 80% em apenas 20 minutos), além de telemetria embarcada para monitoramento em tempo real e projetos de veículos movidos a hidrogênio. Também foram destacadas soluções de segurança veicular com inteligência artificial, sistemas de pesagem dinâmica em movimento e até drones industriais aplicados à logística e ao monitoramento de rodovias.

Essas experiências evidenciaram, de forma prática, a oportunidade de parcerias estratégicas para aquisição de pneus, peças e insumos de alta durabilidade, insumos que impactam diretamente na redução dos custos operacionais e na sustentabilidade financeira das cooperativas de transporte. Em paralelo, a missão também trouxe perspectivas de médio e longo prazo para a renovação de frota e a incorporação de tecnologias limpas e digitais, alinhando o setor às agendas de eletromobilidade, descarbonização e competitividade internacional, mas mantendo como prioridade.

Formação e capacitação

O gerente de Monitoramento e Consultoria do Sescoop/PR, João Gogola Neto, explicou que o programa de formação continuada para contadores de cooperativas de transporte não foi realizado em 2025 em razão de um processo de reestruturação interna no Sescoop/PR, aliado a limitações orçamentárias que impediram a execução no exercício. Contudo, destacou que para 2026 o projeto está confirmado e será uma das principais iniciativas de capacitação voltadas ao ramo transporte, atendendo tanto às exigências regulatórias quanto às necessidades práticas de gestão das cooperativas.

“O Sescoop/PR trabalhará para que o programa seja submetido ao reconhecimento do Conselho Federal de Contabilidade, buscando cumprir integralmente os requisitos do Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC)”, destacou. Segundo ele, a proposta já foi estruturada em módulos abrangentes, que vão desde os fundamentos da contabilidade cooperativa – com destaque para as diferenças em relação à contabilidade empresarial tradicional – até conteúdos mais avançados, como fluxo de caixa, planejamento financeiro e metodologias de precificação adaptadas à sazonalidade do setor de transporte.

Além disso, serão trabalhados tópicos essenciais como o regime tributário específico das cooperativas de transporte, com análise dos benefícios fiscais, obrigações acessórias e impactos das recentes mudanças na legislação, especialmente a Reforma Tributária. Outro ponto de destaque será a adequação às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), preparando os profissionais para maior transparência e conformidade nas demonstrações financeiras.

O programa também contempla a gestão de custos operacionais, abordando depreciação de veículos, manutenção, combustíveis e análise de rentabilidade, além de um módulo dedicado à governança corporativa cooperativa, com foco na estruturação de conselhos, transparência e participação democrática. Por fim, serão exploradas as transformações digitais que já impactam a área, como o uso de inteligência artificial, e automação de processos contábeis, consolidando o perfil de um contador mais preparado para apoiar a gestão estratégica das cooperativas de transporte.

ESG e plano de atividades para 2026

O Programa ESG+Coop também esteve em pauta. Até o final de outubro será realizado o diagnóstico de maturidade em ESG do ramo transporte, e, para 2026, está prevista a primeira turma de formação específica para cooperativas de transporte, preparando-as para atender às exigências de mercado e de seus clientes.

Além disso, ficou definida a agenda de encontros futuros. Em março de 2026, será realizado o primeiro encontro presencial do ano, em Pato Branco (PR), tendo a Transcooper como cooperativa anfitriã. E, na primeira quinzena de dezembro de 2026, a reunião online para avaliar as ações de 2025 e estruturar o plano de 2026. Essas iniciativas reforçam o compromisso de inserir o ramo transporte na pauta global de sustentabilidade, fortalecendo sua imagem e competitividade.

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