VIAGEM TÉCNICA

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AS COOPERATIVAS ESPANHOLAS

Atendendo a um convite da Faep, os assessores da Ocepar Robson Mafioletti, engenheiro agrônomo da gerência técnica e econômica, e o jornalista Samuel Zanello Milleo Filho participam de viagem técnica para conhecerem o sistema produtivo e cooperativo na Espanha, Franca, Alemanha e Itália. Durante os primeiros três dias (3,4 e 5 de junho), Robson e Samuel visitaram, junto aos dirigentes de sindicatos patronais que compõem a Faep e técnicos de outras instituições do Paraná, as regiões de Múrcia, Valência e Barcelona, localizadas na costa do Mediterrâneo, que se dedicam à exploração de fruticultura e olericultura.

Região de Múrcia - Na segunda-feira, dia 3 a visita foi à Cooperativa Agrária Valle de Abaran, em Múrcia, que possui 120 cooperados, fundada no ano de 1999 e que trabalha com o processamento de damasco, ameixas e uvas para mesa. Os produtores detém em média de 3 a 4 hectares. A cooperativa presta serviços de colheita, assistência técnica, classificação e comercialização de toda produção, esta ultima realizada junto ao mercado Europeu, isto tudo através de uma cooperativa de segundo grau (central), a Anecoop. A cooperativa processa um total de 5 mil toneladas/ano e fatura aproximadamente US$ 30 milhões, empregando 50 funcionários. Todos os financiamentos são realizados através de instituições bancarias, entre elas a chamada Caja Rural, uma cooperativa de crédito local que cobra juros de 5% ao ano dos cooperados. Segundo seu presidente, Antonio Manollo, a cooperativa não recebe qualquer subsídio do governo, seja para produção ou processamento. A vantagem de pertencer ao sistema cooperativista espanhol é que existem linhas de credito específicas para construção de indústria, armazéns e câmaras frias.

Hortamira - A segunda cooperativa visitada pelo grupo foi a Hortamira, fundada no ano de 1981 e na província de Múrcia, onde 70 cooperados produzem melão, melancia, citrus e hortaliças. O que mais chamou a atenção do grupo foi o número expressivo de mulheres que trabalham no processamento, cerca de 300. O faturamento da cooperativa foi de US$ 60 milhões. Uma das preocupações da gerência técnica é com relação à implantação do sistema de rastreabilidade e certificação da produção, para atender exigências do mercado europeu, pois grande parte da produção tem como destino os países da UE, segundo informou o engenheiro agrônomo da cooperativa, Manoel Cano. A comercialização da produção é realizada da forma que o produtor entregue diariamente o produto na cooperativa e esta, no final da semana, liquida os negócios de acordo com cotação do dia.

Valência ? A terceira cooperativa visitada, na região de Valência, foi a Villa Real Exports Citrus, resultado da fusão de duas outras cooperativas. Hoje ela está localizada em uma moderna planta, onde 654 cooperados entregam sua produção de citrus (29 variedades), processada por 140 funcionários na indústria e mais 40 fixos, entre eles técnicos e operacionais. Os produtores recebem orientação técnica sobre as variedades que devem ter prioridade em cada safra. O preço médio nesta última safra foi de US$ 0,30 o quilo. Para se filiar à cooperativa é necessário capitalizar US$ 80, valor que pode ser dividido em cinco parcelas. A cooperativa recebe também a produção de produtores não cooperados. Segundo o gerente Francisco Cantavelha Colonques, o estatuto determina que a produção dos não cooperados pode ser recebida apenas por duas safras; a partir de então o produtor poderá se associar à cooperativa ou vender para terceiros. Esta cooperativa recebe 40% da produção regional, sendo considerada um importante referencial na produção de citrus na região. O processo de rastreabilidade também está sendo implantado na região, para atender as exigências do mercado.

Benicarlo - Na seqüência, o grupo visitou a Cooperativa Agrícola de San Isidro Benihort, município de Benicarlo, província de Valência. Com 170 cooperados, um faturamento anual de US$ 120 milhões e produção recebida de 15 a 20 mil toneladas de hortaliças/ano, a cooperativa tem um movimento parecido com o de uma pequena central de abastecimento, onde toda a produção é processada e embalada para ser comercializada e distribuída ao mercado consumidor. A principal característica é a programação da produção e a obrigatoriedade de entregar 100% da produção à cooperativa. O gerente José Fustel afirma que o cooperado que descumpre essa norma é imediatamente eliminado da sociedade. ?Estamos aqui para defender o interesse comum dos cooperados e não interesses individuais?, afirmou. A própria cooperativa, que tem 70 anos, surgiu da necessidade de um grupo de cooperados deixar de ser explorado pelos atravessadores. Segundo explicou Juan Bautista Bayarri Cornelles, sócio da Benihort há 25 anos, hoje o sistema cooperativista é uma das únicas saídas para que os produtores possam conquistar o mercado externo de forma organizada. ?A cooperativa é a nossa única garantida de que poderemos continuar na atividade?, frisou Cornellis, que se mantém fiel aos princípios seguidos pelo pai, um dos 20 fundadores da cooperativa. ?Tenho orgulho de ser associado de uma cooperativa que meu pai fundou e que meu filho, provavelmente, será sócio como eu?.

Conclusões - As principais conclusões dos profissionais da Ocepar, Robson e Samuel, é que ?na essência a filosofia das cooperativas espanholas é a mesma das cooperativas brasileiras. O diferencial é que no Brasil, em especial no Paraná, os produtores trabalham com commodities, normalmente, de menor valor agregado em relação às atividades realizadas pelos produtores destas regiões visitadas na Espanha. Este pequeno número de produtores associados facilita uma maior aproximação e interação com o produtor. Notamos também que os produtores são altamente informados sobre os preços, concorrentes e políticas direcionadas ao setor?. Outra característica importante é que o principal insumo e também mais deficitário é a água. No caso específico de uma propriedade, o técnico disse que há 50 anos perfurava-se um poço com apenas 100 metros de profundidade. Hoje, são necessários mais de 300 metros para se encontrar água. Outra situação que deixou todos impressionados foi a quantidade de leitos secos de rios, pois a água é utilizada para irrigar centenas de milhares e hectares de área com plantações.

Os subsídios - Os subsídios não aparecem de forma transparente e todos os dirigentes que foram questionados pelos visitantes foram taxativos em dizer que produzem sem qualquer ajuda oficial. No entanto, algumas vezes se contradisseram, afirmando que no setor agroindustrial há algumas subvenções importantes, o que é subsídio claro.Nesta quarta-feira, dia 5, o grupo estava em Barcelona e, depois, seguiria para a França.

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