UM BOM ANO PARA AS COOPERATIVAS DA REGIÃO SUL

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04 de Janeiro de 2002 - As cooperativas dos três estados do Sul do Brasil têm muito para comemorar em 2001. Em Santa Catarina, a estimativa da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) é de que a receita bruta cresça 15% sobre os R$ 2,84 bilhões faturados em 2000 pelas 306 cooperativas. Cerca de 70% da receita é gerada pelas 58 agropecuárias, sendo três centrais e 50 singulares.

No Rio Grande do Sul, o presidente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocergs), Vicente Bogo, diz que a receita das 852 cooperativas gaúchas da área agropecuária, de crédito, de trabalho e habitacionais vai ultrapassar os R$ 6,5 bilhões em 2001. Em 2000, o faturamento das cooperativas gaúchas alcançou os R$ 5,8 bilhões. Do total, 225 são agropecuárias - sendo 10 centrais e 215 singulares - e responsáveis por 64% da receita gerada pelo setor.

E no Paraná, as cooperativas deverão fechar 2001 com um faturamento de R$ 7,8 bilhões, ou R$ 1 bilhão a mais do que no exercício passado, conforme estimativa do presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski. A maior parte da receita é do setor agropecuário, que deve faturar R$ 6,8 bilhões, o equivalente a 87,1% da produção agropecuária estadual.

O presidente da OCESC, Luiz Hilton Temp, afirma que o desempenho do setor em Santa Catarina foi puxado pelas exportações de carnes suína e de aves, especialmente, e pelo aumento da eficiência e produtividade na produção de milho. Só nas vendas externas de suínos o estado registra um incremento de 63,26% até novembro, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Foram embarcados US$ 107,53 milhões, a maior parte para a Rússia, mercado aberto no final de 2000. Os frangos em cortes não só ultrapassaram os motocompressores, que, durante anos, lideraram a pauta de exportações catarinense, como apresentaram, até novembro, crescimento de 66,22% em valores comercializados com o exterior, principalmente no Oriente Médio. Em dólares, somaram US$ 374,95 milhões. Os frangos inteiros geraram divisas de mais US$ 126,04 milhões, 25,58% a mais do que nos primeiros 11 meses de 2000.

Segundo Temp, a crise da pecuária européia, com a doença da vaca louca e a contaminação da ração animal por dioxina, beneficiou as cooperativas agropecuárias no mercado externo. O preço, com a desvalorização cambial, tornou-se outro fator de competitividade em 2001. "No mercado é quase uma regra, quando alguém perde outro se beneficia. Santa Catarina soube se adaptar rapidamente às exigências do consumidor europeu e ocupou importante parcela deste e de outros mercados onde os europeus tinham participação expressiva", diz.

O crescimento das cooperativas gaúchas é explicado por Bogo com a boa safra de grãos, especialmente de soja, ´e do aumento da produção e exportações de carnes de frangos e suínos´, diz o presidente. Conforme censo realizado pela Ocergs, no total, o setor reúne 769.248 associados ativos e 29.746 funcionários. Caso sejam contabilizados os familiares, as cooperativas no estado alcançam praticamente um quinto da população, conforme estimativa do presidente Vicente Bogo.

Em Santa Catarina foi o ano das carnes e da obtenção de níveis recordes de produtividade de milho e soja. Na Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral), detentora da marca Aurora, o faturamento em 2001 deverá atingir os R$ 800 milhões, 4,5% a mais do que os R$ 766 milhões obtid os em 2000. O percentual é pequeno em função de um ajuste no orçamento, que passou a não mais computar a venda de rações e outras transações internas. Não fosse a mudança, o vice-presidente da cooperativa, José Zeferino Pedrozo, diz que a receita chegará a R$ 1 bilhão.

O expressivo aumento das exportações permitiu à Coopercentral/Aurora obter, no primeiro semestre do ano (último balanço), um faturamento operacional bruto de R$ 350,4 milhões, 17,4% superior ao mesmo período de 2000. A abertura do mercado da Rússia para a carne suína brasileira foi fato atípico responsável, em grande parcela, pelo crescimento em 265% da venda de carne suína no exterior. As exportações desse produto cresceram de R$ 6,8 milhões para R$ 24,9 milhões e o volume físico pas sou de 3.248 para 9.298 toneladas (186,2% de crescimento). A receita exterior com carne de aves também teve bom desempenho e aumentou 107%, elevando-se de R$ 13,8 milhões para R$ 28,6 milhões, enquanto a tonelagem pulou de 9.627 para 13.470 toneladas (3 9,9%).

A estrutura da Aurora é formada por quatro unidades frigoríficas de suínos, duas unidades frigoríficas de aves, uma de suco concentrado e óleos essenciais, duas fábricas de ração, um incubatório, duas granjas matrizes de aves e três de suínos, t rês filiais de vendas no Rio de Janeiro e São Paulo, 36 distribuidores no Brasil e 30 mil clientes cadastrados. O sistema Coopercentral reúne 14 cooperativas filiadas, representa 40 mil produtores rurais e tem 6,1 mil empregados.

A partir de janeiro d e 2002, a Coopercentral vai ampliar sua capacidade de abate de suínos em mais mil cabeças por dia com a incorporação da Central Agroindustrial de Cooperativas do Alto Jacuí (Cooperjacuí), de Sarandi (RS). A Cooperjacuí reúne quatro cooperativas e já estava associada à Coopercentral, que comprava a sua produção de carne suína e a distribuía com a marca Aurora.

A Aurora tem capacidade de abate diário em torno de 6 mil suínos e 190 mil aves nos frigoríficos de Chapecó, São Miguel do Oeste, Quilombo e Maravilha, no estado de Santa Catarina, e São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul. Os negócios com carne suína representaram 47% do total da receita da empresa no ano passado.

Com a incorporação, a Coopercentral assumirá o patrimônio do frigorífico gaúcho, em torno de R$ 13 milhões, e as dívidas, que somam cerca de R$ 7 milhões a curto prazo e R$ 6 milhões a longo prazo. Em 2000, a receita da Cooperjacuí foi de R$ 47,2 milhões. Esta incorporação vai eliminar uma etapa da cadeia entre os produtores gaúchos e o mercado, segundo Pedrozo.

Criada há três anos, a Cooperjacuí não havia ainda se estabelecido como uma cooperativa central - que concentra a produção de outras cooperativas para industrialização e distribuição no mercado. Desde o início, a produção de carne suína da cooperativa gaúcha era entregue à Aurora, que possui uma rede de distribuição no Centro-Sul e Sudeste do País, além de exportar para os principais mercados mundiais, como Hong Kong, Argentina e Rússia.

Com a incorporação, o capi tal social - o equivalente a uma participação de R$ 1,3 milhão que a Cooperjacuí detinha na Aurora - será dividido entre as suas afiliadas Cotrijal, Cotrisoja, Cotrosol, e Cotrirosa. A Cooperjacuí conta com 270 suinocultores integrados na região de Jacuí, forte produtora de grãos.

Em Campos Novos (SC), a Cooperativa (Coopercampos) vai fechar 2001 com faturamento de R$ 120 milhões, 22% a mais do que em 2000. O presidente Vilbaldo Erich Schmid, afirma que o crescimento se deu em função do aumento da pro dutividade do milho e maior recebimento e comercialização de soja. "Há três anos, a produtividade do milho em Campos Novos chegava em 80 a 90 sacas/hectare. Neste ano atingirmos 125 sacas/ha", afirma. Sem aumentar a área plantada, a Coopercampos recebeu este ano 2,7 milhões de sacas de milho, 35% a mais do que na safra do ano passado.

De soja, a cooperativa recebeu 1 milhão de sacas em 2001 contra 870 mil sacas em 2000. O aumento de produtividade se dá, segundo Schmid, com a semeadura de cultivares ma is produtivas e aplicação de novas tecnologias, aliado a eficazes tratamentos fúngico e fitossanitário. Em função do aumento significativo de produção na área de grãos, a Coopercampos teve que investir R$ 3,7 milhões em melhoria de armazenagem em Campos Novos, Campo Belo do Sul e Curitibanos. ´Na safra passada tivemos um déficit de armazenagem de 400 mil sacas? explica. Na área de cereais, de 161,48 mil toneladas de milho recebidas, 30,04 mil foram exportadas e das 54,76 mil toneladas de soja recebidas, 9,06 mil tiveram como destino no mercado externo.

Outra atividade que pesou para a expansão da receita da Coopercampos esse ano foi a suinocultura, cujo faturamento saltou de R$ 8 milhões para R$ 20 milhões. "Mais 3.500 matrizes entraram em produção p lena em 2001. Em 1999 comercializávamos 1 mil a 1,2 mil cabeças/mês. Em 2000 passamos a produzir 3,5 mil/mês e em 2001, 7 mil" diz o presidente. Segundo ele, em 2002, mais 5 mil matrizes serão acrescidas aos números deste ano, em virtude da implantação d e uma central produtora de leitões no início do próximo ano. O acréscimo na produção de suínos ocorreu em função do expressivo aumento de exportações. Os porcos foram entregues na Copercentral, que realizou os abates. Fonte: Gazeta Mercantil "Edição Sul" Jornalistas: Juliana Wilke (Florianópolis) e Newton Chagas (Curitiba.)

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