TRIGO: Mercado de trigo se prepara para viver nova crise este ano
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O panorama do trigo nacional em 2010 deve reproduzir cenário semelhante ao do ano passado. Com o possível agravante de o Brasil, este ano, competir com a Argentina na importação do produto. De acordo com o último informativo semanal publicado pela Bolsa de Comércio de Rosário (BCR), as reuniões entre o governo argentino e os diferentes setores do campo continuam, mas os resultados não se refletem no mercado. A zona de influência de Rosário (Up River), desde o início de dezembro de 2009, não teve compradores interessados em realizar negócios. "O pior que pode acontecer é que, no próximo ano, volte a cair a semeadura do cereal e a produção não seja suficiente para abastecer o consumo interno", advertiu a BCR.
Falta de trigo - Para Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico esta possibilidade está descartada. "A Argentina não vai importar. Se o governo sentir que pode faltar trigo, vão reduzir a exportação. O governo não vai cometer esse erro." Segundo Pih, o cenário do trigo nacional este ano é mais complicado se comparado ao do ano passado. "Os moinhos esperavam uma safra boa, mas o clima não ajudou. Perdemos em quantidade e qualidade", diz. O executivo estima que o Brasil deve importar, este ano, uma média de 6 a 6,5 milhões de toneladas de trigo. "Os moinhos estão focando nos Estados Unidos e Canadá", diz. Das 16 milhões de toneladas de trigo que deveriam ser produzidos na Argentina, foram computadas algo em torno de 7,5 milhões de toneladas. "Foi a maior queda em 100 anos", afirma.
Estatística - De acordo com Luiz Ataídes Jacobsen, assistente técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater), na última estatística divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil importou, em 2009, 4.432.117 toneladas do produto. Segundo Hamilton Guterres Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do RS, o Paraná e o Rio Grande do Sul respondem por 92% da produção nacional. "Nossa demanda interna é de 10,5 milhões de toneladas. Este ano a produção não chegou a 5 milhões." Pih acredita que o governo federal vai continuar apoiando o setor por meio do Prêmio de Escoamento de Produto (PEP).
Investimentos - Segundo o presidente do Pacífico, o governo, que deve investir R$ 400 milhões em leilões, precisa analisar com cautela como vai alocar recursos para a próxima safra. "O mercado mundial tem o preço do trigo em queda. O ideal seria equilibrar o preço mínimo nacional com o mundial, o que acarretaria queda na produção. Para o trigo não temos vocação." Jardim concorda que o preço do trigo no mundo é mais baixo. "Não temos o mesmo solo, nem o mesmo clima argentino. Nosso custo é maior, a produção depende de agroquímico." Para Jardim, se os produtores pudessem contar com uma política de incentivo à produção, a queda na Argentina abriria mercado para o Brasil. "A cadeia não tem parceria", afirma. Segundo Jardim, o setor atendeu ao pedido do governo federal, plantaram trigo pão e investiram em sementes de qualidade e tecnologia. "Nossa parte fizemos. Agora temos trigo para vender e não temos comprador. Se continuar esse cenário vamos reduzir violentamente a área de plantio. Inclusive se o governo lançar nova classificação do trigo. Será como uma pedra de cal para nós."
Redução de área - Em função das questões da comercialização, Jacobsen, da Emater, já prevê redução de área de plantio para a próxima safra, com início em maio. "Com a valorização do real será difícil manter o preço do mínimo. Os leilões têm sido os únicos meios de venda." Jardim disse, ainda, que o Brasil pode, este ano, importar 28 mil toneladas de trigo da Rússia. "O trigo russo é igual ao nosso. Se isso ocorrer, será uma falta de respeito com o produtor brasileiro." Importar trigo da Rússia, segundo Pih, pode acarretar mais despesas em função de problemas de ordem fitossanitária. O empresário disse que os russos aplicam brometo metila, composto proibido no Brasil. Se a carga chegar com resquícios do produto, será retida. "Se o Brasil importar trigo da Rússia será um gesto, já que eles compram muita carne nossa. 28 mil toneladas não é nada. Apenas um barco." (DCI - Diário do Comércio & Indústria)