TRIGO: Intenção do governo de vender estoques preocupa setor produtivo
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A possibilidade do governo federal comercializar os estoques públicos de trigo a partir do mês de março está causando preocupação ao setor produtivo paranaense. O assunto foi discutido nesta terça-feira (22/02), no Ministério da Agricultura, em Brasília, durante a reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno. Atualmente há 1,27 milhões de toneladas armazenadas no País, das quais 554 mil toneladas no Paraná, 555 mil toneladas no Rio Grande do Sul e o restante nos demais estados. Técnicos do governo informaram que existe a intenção de promover o escoamento desse produto no próximo mês, o que foi questionado pela Ocepar. "Esse não é momento adequado para vender os estoques. No Paraná, ainda há 1,4 milhão de trigo nas mãos dos produtores e a entrada do governo no mercado agora deverá provocar a depreciação dos preços e prejudicar ainda mais os nossos triticultores", afirmou o analista técnico e econômico da Ocepar, Robson Mafioletti, que participou da reunião da Câmara Técnica. "O setor industrial poderia trabalhar com preços próximos à paridade de importação para possibilitar uma remuneração melhor aos produtores paranaenses", acrescentou Mafioletti.
Comercialização - De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), o Paraná, maior produtor nacional do cereal, comercializou 56% das 3,4 milhões de toneladas colhidas nesta safra. São 1,91 milhões de toneladas, das quais 682 mil toneladas foram escoadas para fora do estado por meio dos leilões de PEP (Prêmio de Escoamento do Produto), a maior parte destinado à exportação. Em janeiro, o Brasil exportou 500 mil toneladas de trigo para países como a Argélia, Tunísia, Quênia, Sudão e Turquia. Por outro lado, importou 550 mil toneladas, tendo como principais fornecedores a Argentina (350 mil toneladas); Uruguai (110 mil toneladas) e Paraguai (56 mil toneladas). "As perspectivas do mercado internacional são favoráveis, embora os preços elevados lá fora não tenham refletido em aumento dos valores no Brasil. Por outro lado, contribuíram para aumentar a liquidez no mercado interno e atualmente há compradores para os produtores que têm interesse em vender trigo", afirma Mafioletti.
Classificação - Na reunião da Câmara Técnica de Culturas de Inverno, ocorrida nesta terça-feira, o setor produtivo voltou a defender a prorrogação da Instrução Normativa (IN) nº 38, que trata do padrão oficial de classificação do trigo. "Estamos solicitando ao governo que o cronograma de início da vigência da IN seja postergado para julho de 2012. A normativa entraria em vigor em julho de 2011, mas ainda não houve tempo hábil para a pesquisa e as demais empresas realizarem a readequação para indicação das variedades conforme a nova classificação para a safra 2011", explica Mafioletti. Representantes do governo federal informaram que o assunto está sendo analisado pelo ministro da Agricultura.
Agenda estratégica - Membros do governo, indústria e entidades representativas dos produtores também estiveram reunidos na segunda-feira (21/02), no Ministério da Agricultura, para elaborar a agenda estratégica da cultura do trigo para os próximos anos. O documento é dividido em dez temas com suas diretrizes, ações, coordenação e prazos. Na agenda foram incorporadas as propostas do Paraná e criados alguns grupos de trabalho com diversas temáticas, entre elas, a da certificação e segregação das variedades, cuja reunião será realizada provavelmente em abril em local a ser definido. A Ocepar está apoiando e participando de vários temas e grupos de trabalho.
Participantes - Participaram das reuniões em Brasília representantes da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina (Fecoagro), Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ministério da Fazenda, Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de MInas Gerais (Seapa), Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Associação de Moinhos de Trigo do Norte e Nordeste (Atrigo) e Sindicatos da Indústria do Trigo (Sinditrigo) dos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
AUDIÊNCIA COM WAGNER ROSSI
No período da tarde desta quarta-feira (23/02), o presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski, participou de uma audiência com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, na sede da Conab, em Brasília. Esta reunião aconteceu por sugestão da senadora Gleisi Hoffmann (PT), que pediu ao coordenador da bancada federal do Paraná, deputado Alex Canziani (PTB), para que marcasse com o ministro o encontro. Além de Koslovski e do deputado Canziani, participaram da audiência os deputados federais do Paraná, Rosane Ferreira (PV), Sandro Alex (PPS), Nelson Padovani (PSC), Moacir Micheletto (PMDB), Osmar Serraglio (PMDB), Luiz Nishimori (PSDB), Abelardo Lupion (DEM), André Zacharow (PMDB), Ratinho Júnior (PSC), Dilceu Sperafico (PP), Zeca Dirceu (PT), Leopoldo Costa Meyer (PSB) e Alfredo Kaefer (PSDB). Representando a Faep, participou Pedro Loyola.
Trigo - Koslovski informou que durante a reunião foram tratados diversos assuntos com o ministro, entre eles, a questão do trigo, feijão e subvenção do seguro rural. Sobre o trigo, o dirigente cooperativista disse que o grupo pediu agilização por parte do governo na divulgação das novas regras para a safra de inverno 2011. "Também solicitamos para postergar a entrada em vigor da instrução normativa de número 38 do Mapa para 1º de julho de 2012 que trata sobre a classificação do trigo". Outro tema abordado com o ministro pelas lideranças do setor e pelos deputados foi em relação ao recente anúncio de que o governo iria vender seus estoques de trigo, fato este que traria sérios prejuízos aos triticultores.
Feijão - Também constou da pauta com o ministro a questão da comercialização do feijão. Koslovski disse que o ministro informou que o governo federal aprovou a compra de 12 mil toneladas de feijão do Paraná, através de AGF, limitando 500 sacas por agricultor. Rossi garantiu que o governo deverá alocar mais recursos para essas operações. "Pleiteamos a compra de 120 mil toneladas para o Paraná, o ministro nos assegurou que estudará essa proposta", disse Koslovski. O governo publicou Portaria Interministerial de número 67, onde aloca R$ 200 milhões para compra de arroz, e R$ 50 milhões para compra de feijão, através de PEP e PEPRO. Segundo o governo, recursos esses que darão para amparar 300 mil toneladas de feijão em todo o país. Na reunião os deputados e lideranças pediram ao ministro que um terço deste valor seja destinado ao Paraná, responsável por 32% da produção brasileira do produto.
Importações - "Aproveitamos para solicitar ainda que fossem agilizados, junto aos bancos, mais recursos para EGF e o cancelamento de importações de feijão da China, como aconteceu recentemente e que esta regra valesse para outros produtos também. Reivindicamos a intervenção do ministro para que sejam garantidos recursos para subvenção o seguro rural pois existe a possibilidade da realização de cortes neste sentido, o que seria péssimo para os produtores. O ministro disse que buscará formas de resolver essas questões". Durante o encontro da bancada paranaense com o ministro, se pronunciaram os deputados Alex Canziani, coordenador da bancada, Moacir Micheletto, Abelardo Lupion, Dilceu Sperafico, Sandro Alex e a deputada Rosane Ferreira. "Todos foram unânimes em pedir agilidade ao Mapa para que todas essas pendências apresentadas pelo Paraná fossem resolvidas e que assim não prejudicassem um setor que tanto contribuiu para o desenvolvimento do Brasil", acrescentou Koslovski.