TRIGO I: Semeando trigo, semeando esperança

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Está aberta uma das temporadas do ano mais delicadas para os produtores de grãos: a do plantio do trigo. Diante de um mercado pouco interessante e com os riscos de produção a que a cultura está sujeita, a maioria dos triticultores acaba cultivando o grão por falta de opção. Deixar a terra descoberta é arriscado e investir no milho safrinha também não tem se mostrado atraente. Nesta safra, por sua vez, a previsão é de redução da área plantada do cereal no Estado, o principal produtor do País.

Área menor - Dados do Departamento de Economia Rural, órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura de Abastecimento, apontam que a previsão é de que a área encolha 16% em relação ao ano passado. Até o final de abril, relatório de técnicos do Deral mostrava que devem ser plantados 1,10 milhão de hectares na safra atual, contra 1,31 milhão de hectares da temporada passada. Até o momento, cerca de 40% da área do Estado foi semeada.

Desestímulo - Segundo Otmar Hubner, engenheiro agrônomo do Deral, a redução pode ser ainda maior. ''Os problemas com a safra passada, principalmente, tem desestimulado o produtor. Isso aliado aos baixos preços recebidos e falta de perspectivas para o próximo período'', reforça o técnico. No ano passado, por conta do excesso de chuva no inverno, agricultores paranaenses perderam quase tudo, muitos não conseguiram pagar os custos de produção. A maioria precisou de apoio governamental para vender o trigo ao valor de preço mínimo.

Preço - O valor pago ao produtor talvez seja um dos principais entraves para a produção. Informações do Deral dão conta de que em 2008 a saca do trigo era comercializada por R$ 33,17, em média. No ano passado caiu para R$ 26,81 e em 2010, até março, a média somava R$ 23,61. E o problema na safra atual se mostra ainda maior quando se vê que o plantio avança e ainda existe perto de 500 mil toneladas do produto colhidas em 2009 para serem vendidas.

Dificuldades - O gerente técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, reforça que o produtor não se mostra animado para investir no trigo. ''Há dificuldade de comercialização e as expectativas para esta safra não são positivas, não se vê liquidez'', frisa. Turra lembra que no último período, por exemplo, o governo colaborou com a compra de 1,5 milhão de toneladas de trigo e ainda assim não foi suficiente para minimizar os prejuízos.

Políticas públicas urgentes - Na opinião dos técnicos, políticas públicas que contemplem o setor são urgentes. O Brasil, segundo Hubner, não tem competitividade com o mercado internacional e soma custos de produção bem maiores do que de muitos países dos quais importa o trigo, como Estados Unidos e Argentina. Esse, por sua vez, acrescenta ele, tem clima e terra bastante favoráveis à cultura e precisa de poucos fertilizantes, por exemplo.

Valorização - Turra pontua que se faz necessária uma política de valorização do trigo brasileiro, com reajuste da Tarifa Externa Comum (TEC), hoje em 10% para a Argentina, por exemplo. Além disso, o setor produtivo pleiteia a restrição da importação, que seja liberada somente quando a produção interna já tiver sido negociada. ''É preciso uma política que incentive o consumo do nosso trigo'', ressalta o técnico.

Produção - O Paraná produz 50% do trigo brasileiro. Em 2009, foram colhidas 2,67 milhões de toneladas. E nesta safra, se as condições climáticas forem favoráveis, o Estado poderá produzir 10% a mais, cerca de 2,94 milhões de toneladas, apesar da redução de área. Conforme Hubner, apesar da Argentina ter condições mais favoráveis de plantio do que o Brasil, o território paranaense também se mostra muito produtivo. A qualidade do clima, observa o engenheiro, é muito boa. Além disso, a pesquisa tem atuado fortemente no segmento. ''Mas a cultura do trigo é complicada, depende de clima, de mercado. Hoje em dia, quem semeia trigo, semeia esperança'', diz. (Folha Rural / Folha de Londrina)

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