TRIGO: Cadeia produtiva reúne reivindicações em Londrina
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Os entraves políticos e comerciais para a manutenção e o avanço da produção de trigo no País foram debatidos na terça-feira (31/07) em Londrina. Lideranças e representantes do setor estiveram presentes no seminário que deu início à VI Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, promovida no Parque de Exposições Governador Ney Braga. Cerca de 350 pesquisadores, produtores e técnicos participaram do evento, que encerra nesta quinta-feira (02/08).
Capacidade de produção - O deputado federal Reinhold Stephanes ressaltou a capacidade do País de ampliar a produção e atender a demanda interna de cereal, mas alegou que o governo opta por importar o produto com subsídio. ''O governo é mais preocupado com o consumidor final do que com a renda do agricultor. Isso é resultado de uma cultura muito urbana dos políticos brasileiros'', criticou.
Cenário atual - Segundo ele, o cenário atual pode motivar o governo brasileiro a adotar medidas de apoio à cadeia produtiva. Os estoques mundiais de alimento, inclusive o de trigo, estão em níveis muito baixos e os preços do cereal podem alcançar índices elevados caso ocorra mais alguma intempérie climática. Na avaliação de Stephanes, no entanto, se a situação se regularizar no próximo ano, o governo tende a esquecer o problema. ''Falta uma política de produção a longo prazo'', argumentou. O deputado alegou ainda que a ausência de capacidade política de mobilização dificulta a atuação da cadeia produtiva de trigo, que deveria impor limites e restrições à importação do produto.
Autossuficiência - Durante o evento, o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eugênio Stefanelo ressaltou que o Brasil tem condições de se tornar autossuficiente na produção de trigo e também destacou a importância estratégica do trigo para o sistema de produção. ''A cadeia de trigo não pode acabar, pois a cultura reduz o custo de produção, faz cobertura de solo e aumenta o teor de matéria orgânica'', afirmou. Segundo ele, estudos apontam que o potencial produtivo brasileiro é de 12,9 milhões de toneladas.
Problemas climáticos - Stefanelo lembrou que os problemas climáticos enfrentados por alguns países europeus e também pelos Estados Unidos resultaram na elevação do preço das commodities, incluindo o trigo. Na segunda-feira (30/07), a saca de 60 kg de trigo era cotada no Paraná a uma média de R$ 28,87. Essa situação deve estimular os triticultores brasileiros a ampliar a área plantada com o cereal na próxima safra de inverno. Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) mostram que nesta safra, a área de trigo cultivada no Paraná sofreu uma redução de 28%. Os estoques públicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em julho deste ano são de 858 mil toneladas de trigo. ''O objetivo é zerar esse estoque até a próxima safra e os preços atuais permitem que a venda não gere prejuízos aos triticultores'', relatou.
Qualidade - Para esta safra, a perspectiva é de que o excesso de chuvas afete a qualidade dos grãos colhidos. Para Stefanelo, a intervenção do governo para garantir o preço mínimo será desnecessária, pois a liquidez deve ser maior. ''É preciso direcionar uma política agressiva para a autossuficiência do trigo no Brasil, incluindo ações para aumentar a liquidez e os preços e reduzir os custos'', orienta. O custo operacional de produção é calculado entre R$ 27 e R$ 33 a saca no Paraná. Para 2013, o professor estima que a concorrência com o milho de segunda safra deve se manter, mas a situação será mais vantajosa para o trigo do que esteve na safra deste ano.
Acima do preço mínimo - Para o gerente do departamento técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado Paraná (Ocepar), Flávio Turra, nesta safra as negociações devem ocorrer acima do preço mínimo, devido à menor oferta do produto. ''Esperamos que a preocupação do setor leve o governo a adotar uma política de apoio a triticultura nacional, tanto na importação, na comercialização, no preço mínimo e no seguro rural'', afirmou.
Cabotagem e impasses comerciais - O assessor institucional da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Reino Pécala Rae, alegou que a cabotagem e os impasses comerciais entre o Brasil e os países do Mercosul precisam ser solucionados em breve. ''Falta decisão política do governo brasileiro e organização da cadeia produtiva porque hoje produzimos trigos inadequados para a demanda interna'', comentou. (Folha de Londrina)