TENDÊNCIAS DO COOPERATIVISMO INTERNACIONAL

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Este foi o tema da palestra do presidente da ACI, Roberto Rodrigues, realizada na noite de ontem para os magistrados. Segundo Rodrigues, é cada vez mais evidente a dificuldade que os Estados têm de resolver os problemas reais das pessoas comuns. ?Meio algemados pelo fluxo dos capitais ? nacionais ou internacionais, que não têm ideologia, raça, religião ou gênero ? os Estados são incapazes de eliminar o desemprego, de criar igualdade de oportunidades, até mesmo de ministrar a justiça. As pessoas esperam soluções ? para a segurança, saúde, educação, moradia, emprego, lazer, comida, etc. e estas não vêm. Perdem a esperança. E a confiança nas instituições, nos governos. E reagem de duas formas: a primeira é votando contra, elegendo a oposição. Cada eleição se transforma em um plebiscito, porque aí está a manifestação de desagrado, o troco. É assim no mundo inteiro. Foi na Alemanha, com Schroeder, na França com Jospin, na Itália com Berlusconi, na Áustria, onde ascendeu um admirador do nazismo, na Bulgária, onde, nas últimas eleições, venceu um ex-rei destronado décadas atrás. Foi assim nos Estados Unidos com Bush, no México com Fox, na Colômbia com Pastrana, na Venezuela com Chavez, no Peru com Toledo, na Argentina com De la Rua. Foi assim em qualquer país onde houve eleição recentemente, exceção talvez da Inglaterra?, lembra o líder cooperativista.

Terrorismo - E a outra forma de reagir é protestando ao vivo, através de ONGs, ou de manifestações de massa. Foi assim em Seattle, em Davos, em Praga e, mais recentemente, em Genova, onde até morreu gente. Inocente. Como inocentes são os mortos em atentados terroristas do ETA, do IRA, em metrôs das cidades ditas civilizadas, nas bombas de Nairobi e da Colômbia, no World Trade Center de Nova Iorque.

Sem esperanças, sem perspectivas, vem a infelicidade, o desespero. E a lógica da sobrevivência se sobrepõe a outros valores coletivos . Um velho ditado reza que ?em casa que falta pão todo mundo grita e ninguém tem razão?.

Como sair desta situação que deteriora as relações humanas, ameaça a democracia e a paz?

Talvez a resposta esteja na comunidade. É no município, no bairro, na base social, enfim, que as pessoas sabem quais os problemas e suas soluções. Por que não os resolvem? Porque não estão organizadas adequadamente e esperam o governo. Mas há exemplos disto funcionando, como os cantões suíços, onde o povo, junto com os governos locais, decide a melhor forma de atender às demandas da comunidade.

O moderno conceito desta organização é o dos ?clusters?, um encadeamento de interesses econômicos, sociais e até políticos, que administra seus próprios conflitos, de modo a beneficiar todos os elos da cadeia.

Na questão da governabilidade, tendo em vista o atendimento dos problemas das pessoas comuns de uma comunidade, todas as forças vivas, devem estar inseridas no cluster. Não apenas as forças da produção ? empregados e empregadores ? mas as entidades todas da base, inclusive o prefeito, o padre, os poderes constituídos do legislativo e do judiciário, os clubes de serviços, as associações e os sindicatos. E, juntos, encontrarão as soluções necessárias.

É claro que tudo isto deve ser alcançado com a inserção das ações locais em um grande projeto nacional. Esta é a responsabilidade do governo federal, e do Estado Nacional: fixar metas sócio-econômicas e políticas dentro de um grande projeto, com começo, meio e fim, com objetivos e métodos, com transparência e clareza.

Aí, o cluster pode atuar, com os pés no chão comunitário e a cabeça no projeto nacional, que, inclusive, deve ensejar a inserção internacional.

Pois bem, neste modelo, as cooperativas podem jogar um papel formidável. Podem mesmo, em muitos casos, ser a locomotiva do cluster. Isto, aliás, já está acontecendo no mundo inteiro. E também no Brasil. Exemplos? Em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, uma cooperativa puxa o progresso municipal. Em Chapecó ? SC, em Maringá ou Campo Mourão ? PR, em Orlândia ? SP, em Rio Verde ? GO, Rondonópolis ? MT, Guaxupé ? MG, em qualquer região para que se olha, lá estão cooperativas agropecuárias lastreando o progresso regional. Ou de consumo, como em Santo André, de habitação, como no DF, de eletrificação, em Mogi das Cruzes, de crédito em Guarulhos.

Há centenas de exemplos. Milhares no mundo. É uma tendência do cooperativismo mundial, comprometido com as idéias da democracia e da paz.

É claro que nem todas as cooperativas poderão ou saberão cumprir este papel. Isto dependerá fundamentalmente dos seus recursos humanos, em qualquer nível: dirigentes, funcionários, associados. Daí a necessidade de investir vigorosamente na formação de gente, com o espírito solidário e a convicção do modelo cooperativo. Formação massiva, muita gente. Afinal, 40% da população do planeta está ligada ao cooperativismo, enquanto no Brasil isto é menos que 10%. Porque falta gente.

E também porque falta uma legislação adequada, moderna, que não marginalize e sim, permita às cooperativas exercer este papel catalisador nos clusters locais ou regionais.

Esta tendência se soma a outras, como a da intercooperação, movimento que fará crescer as relações, inclusive as comerciais, entre cooperativas de diversos setores e de distintos países.

A internacionalização do movimento, com fusões e incorporações, com as cooperativas multinacionais, serão fatores capazes de permitir então aos clusters regionais uma inserção também mundial.

E, com tudo isto, estar-se-á encontrado um caminho para o renascimento da esperança ? o combustível da vida ? e da felicidade das pessoas comuns. E, daí, virá o resgate dos valores básicos da equidade, como a solidariedade, que são também os valores básicos do cooperativismo, assim como o pleno emprego, a distribuição da riqueza, a segurança alimentar, a honestidade, a justiça.

E o amor, alavanca básica para o desenvolvimento harmonioso.

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