Ivan Ramos(*)
A suinocultura irlandesa é altamente tecnificada e produz para exportar para a Europa, porém, o número de produtores vem sendo reduzido a cada ano. Está se concentrando em grandes produtores, pois o custo de produção está cada vez maior. Até mesmo as cooperativas que possuíam frigoríficos estão se desfazendo das plantas industriais porque o negócio para os pequenos está sendo inviável. Estas informações foram colhidas pelos dirigentes de cooperativas e políticos catarinenses que visitaram o país. Foi visitada uma unidade frigorífica, mais precisamente uma fábrica de ração da cooperativa Dairy Gold, na localidade de Waterfort, no sul da Irlanda do Sul.
A cooperativa tem mais de 60 anos. A fábrica de rações é antiga, mas já se adequou ao sistema de rastreabilidade dos rebanhos e dos produtos a fim de atender as exigências do mercado europeu. É a segunda maior cooperativa do país e desistiu da área de suínos e aves, permanecendo apenas no setor de rações para gado e processamento de leite. Recebe anualmente 200 milhões de litros de leite, produzindo o leite longa vida, leite em pó e queijos. Cerca de 70% da sua produção é exportada para países da União Européia. A fábrica de rações produz 60 mil toneladas por ano e utiliza como matéria-prima o trigo, cevada e soja, todos importados, pois o país não produz cevada e trigo suficiente e não nada de soja nem milho.
Na Irlanda não há produção de milho e soja porque o clima não oferece segurança, porque durante oito meses do ano a temperatura é muito baixa. É proibido utilizar farinha de carne nas rações. É reflexo da doença da vaca louca, que surgiu na Inglaterra e atingiu a Irlanda. Os cooperativistas brasileiros ainda tiveram encontro com um produtor de suínos, Mister Pat O’Keefe, associado da cooperativa e que mantém um plantel de 2.000 matrizes suínas. O suinocultor apresentou informações curiosas sobre o setor agropecuário da Irlanda do Sul. Disse que no país existem apenas 450 criadores de suínos com 160.000 porcas. Número inexpressivo para um país, sendo menor do que o volume da Aurora em SC.
O preço da ração para suíno na Irlanda está cotado atualmente em US$ 310,00 por tonelada. Nos últimos 180 dias subiu o preço devido ao anúncio dos Estados Unidos de aumentar a demanda de milho para produção de etanol, reduzindo as exportações do produto para a Europa. O custo de produção na Irlanda é equivalente a R$ 3,60 por quilo de suíno. O mercado hoje paga ao produtor R$ 3,70, oferecendo pouco lucro ao criador. Também na Irlanda há reclamação dos suinocultores sobre o preço do produto. O suinocultor Pat O’Keefe disse que o setor está perdendo espaço para outras atividades.
Destacou que enquanto um agricultor tem um ganho anual de 30 mil euros, um empregado na cidade ganha mais de 33 mil euros, sem riscos. Um operário rural ganha cerca de R$ 22,00 por hora. Um hectare de terra agricultável custa cerca de R$ 150 mil. Na área agrícola haverá redução dos subsídios nos próximos anos. Atualmente a Comunidade Européia subsidia a produção de carnes, menos suína, leite e grãos. O produtor palestrante, que é filho do secretário da Agricultura do Estado de Cork, está descontente com as ações governamentais no setor agropecuário. Mesmo sendo membro da cooperativa local, criticou a decisão dela terceirizar a área de suínos sob o argumento que o negócio não é rentável. Reclama que a cooperativa pensou somente na empresa e esqueceu do produtor deixando sem mercado para os suínos e aves.
Outra reclamação do Sr. Pat é o excesso de regulamentação oficial sobre a atividade de suinocultura. Destacou três problemas principais do setor de produção: o primeiro é o meio ambiente; o segundo o bem estar dos animais e o terceiro é a segurança alimentar, ou seja, controle sanitário. Lembrou que essas exigências são em toda a Europa e será cada vez mais rígida, inclusive para os produtos importados de outras partes do mundo. Embora admitindo que haverá redução da produção de suínos na Europa, os países s do continente serão pressionados pelos produtores para criar dificuldades de importações de produtos, especialmente do Brasil, pois temem que prejudique o mercado interno.
(*) Ivan Ramos é diretor executivo da Fecoagro - Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina.
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