Roberto Rodrigues é o novo Ministro da Agricultura
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O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness, Roberto Rodrigues, será o ministro da Agricultura no governo de Luís Inácio Lula da Silva. A confirmação foi feita pelo próprio Rodrigues em entrevista que concedeu à Assessoria de Imprensa da Organização das Cooperativas Brasileiras pouco antes de ser anunciado oficialmente por Lula. Roberto Rodrigues disse que chegava ao Ministério da Agricultura pelas mãos do Cooperativismo.
Como esse anúncio cessou a expectativa do setor. No meio cooperativista era tida certa a escolha de Rodrigues, pois circulava a informação, não oficial, de que almoçara com Lula há duas semanas e fora convidado a ser ministro. Durante sua presença no Encontro Estadual de Cooperativistas, na segunda-feira, em Curitiba, ao ser citado como futuro ministro pelas lideranças, Rodrigues dirigiu-se taxativo ao presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski: “Se acontecer alguma coisa comigo como estão falando, sozinho eu não vou. Você vai comigo”. Essa afirmação foi transcrita pela Folha de São Paulo na sua edição de terça-feira, dia 10.
Repercussão muito positiva – No setor do agronegócio, para o qual Rodrigues gerenciará o Ministério da Agricultura, a aprovação é praticamente absoluta. Só vozes isoladas de setores radicais, que desconhecem a sua personalidade e currículo, poderiam discordar da escolha. Rodrigues tem personalidade voltada para o construtivismo, cooperação e diálogo, o que o faz muito requisitado para conferências e debates. Carismático, sempre teve livre trânsito na imprensa. Entre as cooperativas do sistema Ocepar Rodrigues tem aprovação absoluta. Ele veio ao Paraná mais de uma dezena de vezes para fazer conferências sobre Cooperativismo, agricultura e agronegócio.
Currículo – Nasceu em Cordeirópolis, SP, em 12/08/1942. É engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP em 1965, com cursos de aperfeiçoamento em administração rural. É casado com a engenheira agrônoma Eloisa Helena Araújo Rodrigues, têm 4 filhos e 4 netos. Sua carreira resume-se pela sua atuação (com base em informações de 2001) na seguintes áreas:
Acadêmica – Professor do Departamento de Economia Rural da Unesp de Jaboticabal. Membro do Conselho do PENSA – Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, da USP, membro do Concite – Conselho Estadual de Ciências e Tecnologia, de São Paulo e membro do conselho do WWF (World Wildlife Foundation). Participa do IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, CIEE - Centro de Integração Empresa Escola e do Conselho Consultivo da Associação Comercial de São Paulo, entre outros. Foi membro do Conselho da Fealq – Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz”, do Conselho Assessor da Embrapa, do Iama – International Food and Agribusiness Management Association e do Conselho Consultivo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo - FGV. Tem centenas de trabalhos publicados sobre agricultura, cooperativismo e economia rural; é autor de dois livros e co-autor de diversos outros. É doutor Honoris Causa pela Unesp e professor honorário da Universidade de Belgorod – Rússia.
Agricultura – Empresário rural em São Paulo e no Maranhão. É presidente da Abag – Associação Brasileira de Agribusiness, membro do Comitê Empresarial de Comércio Exterior do Itamaraty. Participou de vários conselhos ligados ao agronegócio no Brasil, como o Conselho Nacional do Agronegócio do Ministério da Agricultura. Foi presidente da Sociedade Rural Brasileira, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura e membro de conselhos de entidades da área, como Associação Brasileira de Criadores, Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Associação Brasileira de Milho e Sorgo; representou a agricultura em importantes conselhos nacionais, como o CMN – Conselho Monetário Nacional, CNPA – Conselho Nacional de Política Agrícola, Concex – Conselho Nacional de Comércio Exterior, CEC – Conselho Empresarial de Competitividade. Foi Secretário de Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo e coordenou o setor privado no Fórum Nacional da Agricultura. É membro eleito do Fórum de Líderes Nacionais e do Fórum de Líderes Mercosul da Gazeta Mercantil.
Cooperativismo – Foi dirigente de cooperativas agrícolas e de crédito rural, com abrangência local (em Guariba), regional (em Campinas), estadual (em São Paulo) e nacional. Foi presidente da OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras por dois mandatos (1985/1991). Foi o primeiro vice-presidente da OCA – Organização das Cooperativas da América, presidente da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas da ACI e presidente do Conselho Continental para as Américas da ACI. Foi, até o ano 2001, presidente da ACI – Aliança Cooperativa Internacional, órgão centenário que congrega 800 milhões de pessoas em todo o mundo, através de 250 organizações cooperativas nacionais, representando uma centena de países. Recentemente foi eleito Presidente do COPAC – Comitê para o Progresso e Avanço de Cooperativas, organismo internacional composto pelas Nações Unidas, FAO, OIT, ACI, FIPA (Federação Internacional de Produtores Agrícolas) e WOCCU (Organização Mundial de Cooperativas de Crédito).
Condecorações - Entre suas inúmeras condecorações, tem a de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco, do governo brasileiro, e Cavaleiro de Mérito Agrícola do Governo da França. Recebeu condecorações dos governos de São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso e dos sistemas cooperativos da América, do Brasil e de vários estados brasileiros. Foi Engenheiro Agrônomo do ano de 87 em São Paulo e recebeu medalhas da Faeab, do Confea e do Crea por sua atividade profissional. Por 12 anos consecutivos tem sido eleito líder empresarial agrícola em pesquisa realizada pelo Jornal Gazeta Mercantil e já foi paraninfo de formandos de agronomia, zootecnia, veterinária e engenharia rural dezenas de vezes em inúmeras faculdades do país. Esteve em cerca de 170 países em todos os continentes e, em 1999 recebeu a Medalha Albin Johansson, do KF Sueco, pelos serviços prestados em defesa da Paz e da Democracia em todo o mundo.
Seu pensamento – Defensor intransigente do Cooperativismo, Rodrigues aproveita as conferências para as quais é convidado para propagar a filosofia do movimento e pregar as mudanças que defende para que o sistema se aperfeiçoe. Os textos, a seguir, foram extraídos de pronunciamentos feitos em eventos promovidos pela Ocepar.
Capital x geração de emprego - Está cada vez mais visível no mundo inteiro a incapacidade dos governos centrais e dos estados em resolver os problemas ordinários de pessoas comuns nas mais afastadas e distantes localidades de cada país. Cada vez mais as questões ligadas à geração de emprego, a saúde pública, a educação, laser, habitação, estão ficando longe dos Governos Centrais. Quem hoje decide investimento, se vai montar uma fábrica ou não, se vai fechar uma fábrica ou não, se vai criar emprego ou não, é o capital. É o fluxo de capitais pelo mundo afora que vai determinando as condições de vida das pessoas nas comunidades distantes. E capital, todos nós sabemos, se é nacional ou se é internacional, não tem ideologia, não tem pátria, não tem religião, não tem cor. Ele só se preocupa com uma única coisa, acumulação. Então ele irá para onde o retorno for mais positivo. E há uma discussão muito grande hoje no mundo inteiro sobre se os Estados devem ou não controlar a entrada e a saída do capital.
Integração do Cooperativismo - Nós falamos sempre que nós somos muito unidos, que o Cooperativismo é uma maravilha, mas não é bem assim. Ou nós fazemos integração para valer, num modelo consistente de integração, ou nós vamos ser rachados. O que o inimigo do cooperativismo quer? Ele quer nos dividir, quer que tenha uma confederação de agricultura, uma confederação de trabalho, uma confederação de crédito, outra de consumo, pois aí ele nos racha. Nós temos que ter um modelo único, que é o que o sistema OCB defende, do qual a Ocepar é um exemplo formidável, locomotiva do processo. Nós temos que ter unidade. Mas você defende a pluralidade sindical e defende o monolitismo cooperativista. Você é paradoxal. Como que você defende uma única organização sistêmica do cooperativismo e ‘n’ modelos sindicais?”Porque sindicalismo não é doutrina, não é religião e o Cooperativismo é doutrina, tem princípios universais, tem uma regra lógica universal: dogmas. Se nós tivermos mais de um papa é o estigma da religião, é o que quer o nosso adversário. Tem que ter uma unidade de integração fundamental, senão as coisas não acontecem.
Boicote à solidariedade - A solidariedade está sendo esmagada no mundo moderno em função do fatídico casamento - ocorrido no dia em que caiu o Muro de Berlim - entre a globalidade econômica e o liberalismo comercial. Quando estes dois vetustos conhecidos da humanidade se casaram, dez anos atrás, tiveram duas filhas gêmeas, chamadas ‘concentração da riqueza’ e ‘exclusão social’. Criou-se, no mundo, um monte de regras a partir do nada, a partir de um galope apocalíptico destas duas bestas e acabou-se. Agora não há mais o que discutir: concentra e exclui. Não é admissível este tipo de coisa.
A concentração x democracia - A concentração da riqueza perturba a Democracia? Claro. Qual é o governo em que não existe uma pressão gigantesca em cima do sistema financeiro? Não há Democracia que resista, há milhões de desempregados que podem se transformar em massas sublevadas do dia para a noite. Então a Democracia corre o risco e a Paz também, pela concentração da riqueza e a exclusão social. O que estão fazendo as cooperativas pelo mundo afora? Gerando empregos de toda a ordem possível e imaginável. E é outro assunto que eu poderia falar para vocês durante horas e horas. Portanto, estamos contribuindo para a revogação da exclusão social.
A transformação pela cooperação - A cooperativa é a única instituição capaz de juntar pessoas - que individualmente são frágeis - e transformá-las numa força, num coletivo capaz de parar a concentração da riqueza. De modo que as cooperativas são hoje entidades que no mundo inteiro reduzem a concentração da riqueza e a exclusão social. E como estas são ameaças à democracia e à paz, as cooperativas vivem um segundo momento da sua história, que é o momento de defesa da democracia e da paz, e, portanto, se transformam em aliados absolutamente perfeitos para governos democráticos que querem resolver um problema dessa natureza. Este é o cenário em que o Cooperativismo no mundo está mergulhado. Como já foi dito aqui, nós temos 800 milhões de cooperados no mundo inteiro (40% da população) unidos por uma doutrina única, uma ética básica, valores básicos e uma série de princípios universalmente aceitos.
O agribusiness e o recheio do pão - O agribusiness é um sanduíche. Um sanduíche tem dois pedaços de pão e um recheio. Quais são os dois pedaços de pão? Um pedaço do pão do sanduíche é o que vem antes da porteira da fazenda: máquinas, adubos, defensivos, sementes. O outro pedaço do pão o que é? É a indústria de transformação, é quem transforma, embala, distribui, armazena etc… Com a concentração, os dois pedaços de pão do sanduíche estão secando, estão ficando finos. Antes nós comprávamos adubos de 500 empresas, hoje em dia é cada vez menos empresas – outro dia estive na Holanda, e lá existe uma cooperativa de leite fantástica que fabrica 20% do leite da Holanda. É uma coisa enorme para uma cooperativa holandesa e eles estão prestes a fechar as portas porque o presidente, que é uma pessoa brilhante, diz o seguinte “Até cinco anos atrás eu vendia a minha produção de queijo e cabra etc para trinta, quarenta redes de supermercados, hoje não tem 3 redes de supermercados aqui. Eles não querem comprar de quem só produz 20% do leite, eles querem comprar de quem produz 80% do leite.” Está concentrando do outro lado e se eu não concentrar do lado de cá eu vou perder o trem da participação do mercado.
Então, na agricultura nós agricultores somos o recheio. Sanduíche sem recheio é sanduíche de pão com pão, e sanduíche de pão com pão não vale nada. Então, o bom do agronegócio é a agricultura, é o recheio, mas está apertando o recheio, está secando a nossa renda porque estamos perdendo condição negocial nas duas pontas do agronegócio por causa da concentração. E com isso estamos sendo excluídos. A exclusão na agricultura é mais dramática do que a do setor urbano, porque representa jogar no mercado de trabalho gente que não está preparada para assumir empregos urbanos e representa perda de patrimônio de gerações inteiras: o sujeito que perde a fazenda, perde o que tem, perde gerações inteiras de investimentos e de confiança no setor. O que está acontecendo na agricultura é isso. Portanto nós temos que concentrar também. Ou a gente se concentra na agricultura e melhora um pouco esse recheio, que é o sanduíche do agronegócio, ou nós vamos ser “secados” e excluídos do processo.