RAMO CRÉDITO I: Tomar empréstimo em cooperativas é mais barato e rápido

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No momento em que os financiamentos começam a ficar raros e com juros em alta no Brasil, por causa das medidas do governo para conter a escalada da inflação, as cooperativas de crédito surgem como uma opção mais barata. Com a vantagem de tornar o cidadão ao mesmo tempo cliente, investidor e dono do negócio, além dos benefícios do contato direto e personalizado com o colega dirigente, orientação financeira especializada e distribuição de parte do lucro no fim do ano. Esse conjunto de fatores foi responsável pelo crescimento do setor, até mesmo no auge da crise global. “Em 2008, o sistema financeiro praticamente parou. Para nós, foi o melhor período. A procura por recursos cresceu 27%”, revela Márcio Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Devolução - Por determinação legal, as cooperativas não têm fins lucrativos. Assim, são obrigadas a devolver os resultados positivos a cada ano. Quando o cooperado entra, contribui com uma cota, que é a representação da sociedade, cujo valor depende de decisão do conselho. Cada vez que toma um empréstimo, seus juros capitalizam o valor inicial. Ao fim do ano, a sobra é dividida só entre quem movimentou o dinheiro. Ou pode engordar o capital. “Em acordo com os associados, uma parte pode ser dirigida para a expansão ou o desenvolvimento de novos produtos. Mas um pedaço sempre será distribuído”, diz Freitas.
 
Tarifas - As cooperativas também não cobram tarifas de manutenção de conta ou talão de cheques, enquanto os cinco maiores bancos, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), reajustaram os serviços em 124% de 2008 para cá. Para os cooperados, os juros no crédito pessoal, de acordo com a OCB, vão de 2% a 2,5% ao mês; no cheque especial, variam de 3,5% a 5%; e o cartão de crédito tem custo de 5% a 6%. Segundo levantamento do Procon-SP, a média da taxa de juros para pessoas físicas em maio, no sistema financeiro, chegou ao maior nível desde 2003. Os bancos cobram 5,74% no empréstimo pessoal e 9,47%, no cheque especial.
 
Crescimento recorde - Em 2009, as cooperativas registraram crescimento recorde de captação de recursos, que atingiu R$ 8,3 bilhões. O ano passado foi 91,5% melhor, com ativos da ordem de R$ 15,9 bilhões, o que elevou o total para R$ 68,7 bilhões. Em dezembro de 2010, a carteira de empréstimos chegou a R$ 30 bilhões. Atualmente, o cooperativismo de crédito tem 4.529 pontos, entre cooperativas e postos de atendimento, 5,1 milhões de associados e 56.178 empregados.
 
Entraves - Poderia ter mais interessados, não fosse o entrave na legislação. “Só a partir de abril de 2010 tivemos a permissão para atuar em municípios com mais de dois milhões de habitantes”, explica Silvio Giusti, gerente de Relacionamento do Cooperativismo de Crédito da OCB. Pesquisa divulgada pela entidade apontou que, “se o segmento compartilhasse suas estruturas e atendimento, seria a segunda maior rede do país, atrás apenas do Banco do Brasil (5.087) e na frente do Itaú (3.739)”.
 
Captação - As cooperativas nasceram da ideia de união de pessoas com interesses comuns. A princípio, mantiveram-se fechadas entre profissionais de segmentos específicos, como funcionários públicos, cafeicultores e advogados. “Apenas 20% são de livre associação”, assinala Marden Soares, superintendente de Desenvolvimento Organizacional do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob). Esse número tende a crescer — o Distrito Federal deverá contar com pelo menos uma entidade aberta até o fim do ano, diz Márcio Freitas. Ele explica que a forma de captação de cada uma é particular. O Sicoob Judiciário de Brasília, por exemplo, agrega servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Universidade de Brasília. O associado contribui com 1% do salário.
 
Produtos - “Temos todos os tipos de produtos. Qualquer valor é liberado com rapidez, porque nosso comitê de crédito se reúne diariamente”, destaca Miguel Ferreira Oliveira, presidente do sistema da Justiça. O técnico judiciário Viriato Gaspar, 59 anos, é sócio-fundador. Ele vivia pendurado. “Entrei na cooperativa para sair dessa roda-viva de agiotas. Foi um grande benefício, que livrou o servidor público da turma que bebia o seu sangue e roía seu osso”, afirma.
 
Entusiasta - Raimunda Maria, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), é entusiasmada com o serviço. Já comprou terreno, está construindo uma casa no Lago Sul e, sempre que a situação aperta, recorre à cooperativa. “O tratamento é humanizado, todo mundo é conhecido e, ainda por cima, recebo um dinheirinho no fim do ano, como retorno dos meus empréstimos”, celebra. Outras cooperativas, como a Cooperforte, que atende 108 mil funcionários de bancos públicos espalhados pelo país, prefere ter poucos produtos de investimento, “para não atritar com os do Banco do Brasil”, onde ela nasceu para atender os empregados, justifica José Valdir dos Reis, presidente da entidade.
 
Desenvolvimento - Márcio Port, presidente da Sicredi Pioneira, a mais antiga da América Latina, fundada no Rio Grande do Sul em 1902, ressalta que as cooperativas contribuem para o desenvolvimento econômico e social onde atuam. “O Banco Central comprovou que 77% de tudo o que os cinco maiores bancos captam são aplicados na Região Sudeste. Para eles, é mais fácil emprestar R$ 1 bilhão para uma grande empresa do que R$ 10 mil para mil pessoas. Nós fazemos o trabalho de formiguinha. Movimentamos o crédito solidário”, diz.
 
Baixo risco - O presidente da OCB sublinha que a inadimplência é baixíssima e o risco, reduzido. “Conhecemos o cliente, seus hábitos e o resultado do negócio fica dentro do próprio negócio”, descreve. Há também serviços diferenciados que atraem o consumidor. Freitas é presidente de uma cooperativa de crédito rural, no interior de São Paulo. Presenciou tristes momentos em que cafeicultores perderam as terras para agiotas. “O sistema bancário nos apunhalava.”
 
Governança - Um novo movimento tomou corpo desde 2010: a governança e a especialização dos gestores. “Os responsáveis pelas cooperativas não entendiam do negócio. Agora, os bancos cooperativos, além de oferecer uma gama imensa de produtos, têm pessoal técnico para dar cursos por todo o país”, afirma Márcio Port. (Correio Braziliense)

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