PESQUISA I: Novo presidente da Embrapa define programas e diretrizes

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Sob nova direção, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) fará um "ajuste fino" em sua atuação, mas não sofrerá alterações radicais. Principal referência mundial em agricultura tropical, a Embrapa terá orçamento de R$ 1,64 bilhão em 2010 e elegeu três programas tecnológicos como prioridade de pesquisa: combate ao fungo da ferrugem da soja, novas alternativas de matérias-primas para adubos e recuperação de áreas degradadas.

Nova etapa - No comando da nova etapa iniciada há duas semanas, o agrônomo geneticista Pedro Arraes, 56 anos, ratifica a opção preferencial da empresa pela indústria nacional, transferência de tecnologia à agricultura familiar e cooperação internacional com países da África. "Vamos fortalecer e defender a empresa nacional. Não queremos tomar mercado, mas temos papel fundamental no preço, na qualidade e no não monopólio".

Biotecnologia - Primo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o novo presidente defende a biotecnologia "como ferramenta" do processo. "O que interessa é o produto final. No caso da soja da Monsanto, por exemplo, eles iam dominar o mercado. E a Embrapa garantiu a distribuição da tecnologia a várias empresas". Pedro Arraes rejeita a disputa ideológica entre agricultura familiar e agronegócio. "Já que há uma separação em dois ministérios, temos que conviver bem" E emenda: "Temos que dar um tratamento diferente à familiar sobretudo na área de transferência de tecnologia".

Maturidade institucional - Chefe da unidade Arroz e Feijão da Embrapa até então, o pesquisador carioca defende o processo de seleção que originou sua escolha. "Isso gerou maturidade institucional. Ainda pode ser aprimorado, mas trouxe ganhos à Embrapa", resume. E defende a "desconstrução da burocracia de 35 anos" da Embrapa. "Precisamos agilizar a gestão, simplificar processos e dar mais tempo para o pesquisador dedicar-se à sua atividade-fim". A Embrapa tem hoje 8.637 empregados, dos quais 2.116 pesquisadores, e contratará outros 800 pessoas até 2010.

Política partidária - Pedro Arraes afirma que a estatal deve manter distância da política partidária e diz que as polêmicas geradas por questões ambientais devem ser tratadas com objetividade pela empresa. "Podemos gerar dados e estratégias, mas a questão política transcende o papel da Embrapa". Um estudo do chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Miranda, desagradou a ambientalistas e foi usado por ruralista no debate sobre a reforma do Código Florestal. "Uma imagem não é matemática porque tem a interpretação. Não se questiona números, mas até essa turbulência teve o mérito de virar a discussão para o lado técnico". Ele defende que a Embrapa tem que "gerar indicadores, produtos e sistemas" porque "a preservação ambiental, por si só, não é nosso papel, mas do Ibama".

Nova  Embrapa - A "nova" Embrapa consolidará seus laboratórios no exterior (Labex) e terá foco em grandes projetos de cooperação com países africanos, como Angola, Moçambique e Gana. "Novos Labex eu vou segurar. Vamos consolidar na Coreia e atender a China. Mas o projeto de Labex vai ter uma bandeira. Faremos projetos de longo prazo com agências como a JICA [cooperação do Japão] na África para recuperar as empresas locais de pesquisa, treinar gente e ajudar as empresas brasileiras que estão lá", afirma Pedro Arraes. "O Lula vai a Burkina Faso? Então, temos que ir lá. Mas vamos ter que selecionar porque tem uma hora que não teremos mais perna".

Centro Internacional - Arraes revela interesse em criar um Centro Internacional de Treinamento em Agricultura Tropical para auxiliar as centenas de pedidos do exterior recebidos pela empresa. Ele prevê a criação de "Labex no Brasil" para atender às demandas internas, alocando pesquisadores em instituições-chave para o agronegócio e a Embrapa, como FGV, Fiesp, Unicamp e PUCs do Rio e São Paulo. Mesmo com fortes instabilidades políticas, a "missão internacional" da empresa em países como a Venezuela, onde mantém um escritório, permanecerá. "Tem problema político? Tem, mas a Venezuela importa US$ 5 bilhões do Brasil, tem empresas brasileiras lá e dá para ganhar dinheiro ajudando as pessoas", afirma. (Valor Econômico)

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