Osmar Dias afirma que só reformas colocam economia brasileira em ordem

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Em recente pronunciamento que fez aos dirigentes das cooperativas paranaenses, na sede da Ocepar, o senador Osmar Dias, candidato à reeleição, afirmou que são três as reformas necessárias para colocar a economia brasileira em ordem: tributária, previdenciária e trabalhista. Falando a mais de uma centena de dirigentes e executivos das cooperativas, afirmou que se colocava à disposição para ser representante do Cooperativismo do Paraná e do Brasil no Congresso Nacional.  O senador reconheceu que houve uma mudança muito grande do setor do agronegócio a respeito da participação política, que é a única forma viável de realizar mudanças em benefício da sociedade. O empréstimo de US$ 30 bilhões do FMI, que ainda terá que ser aprovado pelo Senado, não teria sido necessário caso o Brasil tivesse feito a reforma fiscal. O pronunciamento de Osmar aos dirigentes cooperativistas, com pequenas condensações ou adequações de texto, foi o seguinte:

 

Representatividade política do agronegócio - Vou começar fazendo uma pequena provocação: depois que as cooperativas e o agronegócio se deram conta de que as  acontecem também dentro do Congresso Nacional e esse debate fazíamos aqui quando eu era secretário que eu dizia que se queremos ter força pra defesa do nossos segmento, temos que eleger nossos representantes, debater nossas propostas, levar nossas idéias.  E ouve uma mudança profunda na cultura do Cooperativismo e dos líderes do agronegócio do PR - mais do PR - e não é a toa que o PR tem uma bancada que representa muito bem o setor. E nós poderíamos que citar vários avanços conquistados em  função dessa representatividade do setor. O Recoop não teria sido realidade ? não preciso dizer aqui o quanto ajudou o Cooperativismo brasileiro ? se não houvesse representantes na Câmara e no Senado. É incrível que no Senado, entre 27 Estados, 81 senadores, nós temos dois senadores apenas ligados ao setor agropecuário, e um deles do Paraná. E outro do Mato Grosso. Significa que não houve avanço no número de representantes, mas está havendo uma mudança no comportamento da classe política em relação aos setores produtivos nacionais, em especial este. E devo dizer que esta mudança começa a ser mais profunda na OCB,  que participa hoje muito mais efetivamente dentro do Congresso, brigando pelos direitos e de uma forma que traz resultados.

 

Candidatos com o mesmo discurso - Eu falei do Recoop, nós temos o Refis, o Pesa, a Securitização das dívidas. Nós conseguimos aprovar um projeto de lei de minha autoria que só não prosperou porque o governo não deixou, que cria o Fundo de Estabilização do Seguro Rural. E esse projeto será um dos grandes desafios que termos pela frente. Mas  se nós não tivéssemos tido essa consciência de que as coisas acontecem dentro do Congresso Nacional, e principalmente olhando a pauta do Congresso que será votada nos próximos meses e no próximo ano principalmente,  tem que haver muita atenção, neste momento, por parte dos setores produtivos e das cooperativas em especial. Porque eu estou acompanhando a elaboração da pauta para este final de ano e do ano que vem no Senado Federal, e quando vejo que os quatro principais candidatos têm o mesmo discurso em relação ao combate ao desemprego - inclusive proveniente do atual governo - o discurso é mesmo. Mas é preciso saber o que cada um pretende efetivamente fazer, quais as leis que terão que ser aprovadas, as reformas que pretendem fazer, para verificar qual tem realmente a melhor proposta de combater o desemprego promovendo o desenvolvimento.  Todo mundo fala a mesma coisa: tem que exportar mais, tem que desonerar as exportações, mas o atual governo dizia isso há sete anos e chegou a dizer: ?exportar ou morrer?.

 

A minirreforma tributária - Aí vem essa minirreforma tributária que é um item da pauta que teremos que votar ainda neste meu mandato. Quando eu olho a pauta, fico muito preocupado com aquilo que se verifica durante a campanha eleitoral, porque quando se preocupa muito com a campanha do presidente e do governador, se esquece do Congresso. E aí eu volto para o início do meu discurso: esse setor entendeu bem a  importância do Congresso, mas acho que ainda não está sendo transmitido para a sociedade, porque é até chato se ver que as pessoas não dão muita importância na eleição de um senador, de um deputado federal. E isso me preocupa em função de que, correndo solto, podemos ter cadeiras no Congresso Nacional ocupadas por pessoas sem nenhuma sintonia com as necessidades atuais do PR e do Brasil. Eu volto para a pauta: nós vamos ter que votar a mini reforma tributária já, mas todos se comprometeram a votar a reforma tributária no primeiro ano e não dá mais pra adiar.  A verdade é que quando se bate a 35% do PIB saindo de 23%, nesse crescimento enorme no setor produtivo dos impostos, é preciso fazer uma alteração profunda para que a incidência ocorra mais no consumo e menos na produção.

 

Compromisso dos governadores com a reforma - Mas este setor de exportação deve ter uma interferência muito alta no próximo governo, porque nós tínhamos  uma meta de em 2006 de já estarmos exportando 100 bilhões de dólares no Brasil. Mas nós estamos aí  enroscados entre 50 e 60, às vezes se aproxima, volta pra trás, e nós não vamos conseguir se não houver uma profunda reforma tributária. Mas ela só será feita ? e aí ela só será feita - e aí os setores produtivos devem cobrar ? se os governadores  se envolverem nesta discussão. Porque quando chegam no Congresso Nacional, o deputado e o senador, eles pensam em ser representantes do governo e se não votarem com o governo, não recebem as emendas. E aí, você que sabe que é representante do Estado e da sociedade, é que acaba, muitas vezes, sendo prejudicado, pois a sua luta muitas vezes não é a luta da maioria, que não entra com essa consciência de que está lá para representar a sociedade. Então eu digo que o governador, que tem o comando da bancada, deve ser cobrado principalmente agora que está em campanha, para assumir compromissos, para que esses compromissos que nós defendemos sejam depois cumpridos. Se os governadores  não estiverem envolvidos nessa discussão, a reforma tributária de novo não vai ser votada.

 

Reforma da Previdência x privilégios - Eu falei em reforma tributária mas tem uma reforma tão importante quanto a tributária que perdeu espaço nas discussões. E a sociedade brasileira, se souber que  está pagando esta conta, vai ver que não adianta fazer a reforma tributária se não fizermos a reforma previdenciária. Porque a reforma previdenciária é importante não apenas pra garantir um pouco mais de tranqüilidade e segurança ao final de uma vida de trabalho. Mas também prá assegurar que o governo não vai ser obrigado a aumentar tributos para cobrir o rombo da Previdência. E nós estamos vendo que essa reforma foi adiada porque muitos dos que vão votar a reforma da  têm privilégios. E se têm privilégios não querem cortar esses privilégios. É claro que aqueles que têm hoje o salário de deputado, mais duas ou três aposentadorias, eles não vão ter interesse em votar a reforma previdenciária. A  reforma da Previdência tem que ser feita porque quem está pagando a conta é o setor produtivo. Porque quando nós reclamamos que 34% do PIB está sendo consumido pelos impostos, nós devemos sempre nos lembrar que são 48 bilhões que são drenados do orçamento da União, que poderiam estar investidos nos setor produtivo ou na área social. E esses R$ 48 bilhões estão sendo transferidos para pagar o rombo da Previdência, que é construído ? e aí vem um discurso que eu considero hipócrita  - porque quando se fala em elevar o salário mínimo, sempre se ouve o argumento: ?não, não podemos aumentar o salário mínimo porque quebra a Previdência?. Porque temos 23 milhões de brasileiros aposentados que recebem de um a três salários mínimos. Se nós aumentarmos o salário mínimo nós vamos aumentar, a cada um real do salário mínimo, 23 milhões por mês  de despesa na Previdência .

 

O fim dos privilégios - Pois bem, será que é o salário mínimo que quebra a Previdência, ou nós teríamos que enfrentar os privilégios? Daqui a seis anos o número de inativos no serviço público será maior do que o número de funcionários trabalhando. Significa que a sociedade vai ter que arcar com uma conta insuportável. E esta conta está crescendo todos os anos.  Quando cheguei no Congresso me deram para relatar a Reforma na Previdência. A primeira. Eu falei: ?eu relato?. E relatei. E aí me  disseram: ?nós temos que acabar com a aposentadoria proporcional dos deputados e senadores?. Eu disse: ?eu topo. Eu faço o projeto?. Fiz o projeto. E na hora de colocar o projeto em votação eu disse: ?Bom, eu quero um compromisso: que todos os privilégios vão ser retirados para que a  tenha uma reforma efetiva?. E o governo assumiu. E não foi o governo que assumiu. Foi o Presidente Fernando Henrique Cardoso que assumiu comigo, em uma reunião no Palácio Alvorada. Eu disse: ?eu topo fazer isso, vou me desgastar, vou ficar mal?, e pedi que a Previdência cobrasse a contribuição dos inativos, dos servidores públicos inativos. O Supremo derrubou. Mas há uma outra coisa que o governo assumiu comigo e não cumpriu: verificar o rombo de R$ 8 bilhões que ocorre na aposentadoria de militares. Ninguém gosta de falar desse assunto. Mas eu falei. Eu disse: ?eu corto a aposentadoria dos parlamentares?, e eu cortei. O meu projeto foi aprovado e ninguém derrubou no Supremo. Na verdade foi extinto o Instituto dos Congressistas com um projeto meu. Então, esta conta a sociedade não está mais pagando. Eu poderia terminar o meu mandato e me aposentar, com oito anos. Era justo? Não era. Esse privilégio nós cortamos.

 

Os 54 milhões abaixo da linha da miséria - Mas há outros privilégios que não foram cortados, como o acúmulo de aposentadorias por quem detém mandato público, cargo público, e isso é privilégio. E isso não foi cortado. E esses privilégios fazem com que a base da economia não cresça porque não podemos ver a base da economia crescendo se nós não considerarmos que esses 54 milhões - que são citados em todos os discursos ? de gente que vive abaixo da linha da miséria, fazem uma população igual ao Mercosul menos o Brasil. São 54 milhões de consumidores que não estão consumindo porque nós não reformamos a Previdência para permitir um ganho salarial e um poder aquisitivo melhor pra essas pessoas, que estando no mercado consumidor poderiam proporcionar um mercado que nós não temos, ficando o mercado produtivo menos dependente do mercado internacional.

 

Redução do poder aquisitivo e reformas - Então, o que ocorre quando se pega um estudo do IBGE, de que a classe média brasileira de 1995 para 2002 reduziu o poder aquisitivo  de comida ? não é passagem pra Miami  ou de carro na garagem ?, mas de comida, houve uma redução de 25%? A classe média reduziu o consumo em 25%. Nós vamos verificar que temos limitadores do nosso crescimento econômico: um é o mercado interno, que não oferece a essas 54 milhões de pessoas condições de serem inseridas no mercado consumidor. Mas para isso nós  teríamos que fazer as reformas estruturais que não foram feitas. E agora não se adia mais essas reformas, pois eu sempre tenho na minha cabeça o seguinte: a classe política Argentina empurrou a Argentina para a beira do abismo; e a classe política brasileira também pode empurrar o Brasil para uma situação como aquela se nós não interceptarmos esse processo de empobrecimento que está construindo dois países: um que consome e outro que não consumo. E esse grande país que não consumo, com uma população maior que do Mercosul menos o Brasil, não pode, evidentemente, ser considerado um mercado consumidor potencial, porque se ficar potencial, daqui a pouco nem mais potencial vai ser. E o pior é que dentro desse espectro é que 25 milhões são crianças que ainda não completaram quinze anos.

 

Inclusão social - E aí vem toda aquela discussão sobre segurança pública, como se nós estivéssemos em condições de cobrar responsabilidade dessas crianças que, quando chegam aos dezesseis anos, sem saber quais são os seus direitos, aí são obrigadas a ter responsabilidade. O poder público não tem demonstrado competência pra oferecer opções a essas pessoas que não estão consumindo. Então, o primeiro sentimento que nos move a pensar que temos que combater a pobreza e fazer a inclusão social dessas pessoas, 54 milhões, é o sentimento cristão.  Mas não podemos ignorar que o nosso mercado não vai crescer se nós não incluirmos essas pessoas no mercado consumidor. E eu volto a falar da pauta de votação do Congresso: não será uma solução de um governo ? e aí aquele que falar que tem uma bala na agulha só já foi ? não será uma solução só. Eu acho que o presidente FHC apontou um caminho, mas se desviou do  caminho no meio do governo, quando se amedrontou  diante das pressões políticas que impediram que ele fizesse as reformas tributária e da Previdência . E aí vem a desculpa: ?ah, mas a Itália levou 30 anos para fazer a reforma da ?.  Mas nós não podemos perder 30 anos, porque pagar todos os anos 48 bilhões todos os anos, como vai ser pago este ano, vai enterrar o setor produtivo e vai causar um caos social no país irreversível.  Então nós temos que enfrentar isso já.

 

Reforma trabalhista - Depois nós temos uma outra reforma ? e o Requião me perguntou ?-você vai falar isso na campanha eleitoral? Você está louco!?  Eu falo. Eu falo pelo seguinte: a reforma da legislação trabalhista é tão importante quando da Previdência, da Reforma Tributária, ou mais, porque nós já temos 60% já dos trabalhadores que estão no emprego sem carteira registrada. E se a legislação fosse boa, moderna, isso não estaria acontecendo. Se a informalidade não garante direitos sociais nem sequer contar tempo para  a aposentadoria, o que significa essa legislação trabalhista?  Ela tem 59 anos. Não está adaptada a esse tempo de globalização e todos os países do mundo fizeram a reforma. Mas é preciso tomar cuidado quando se fala em reforma da legislação trabalhista para não agredirmos direitos, nem de um lado nem do outro, nem dos empresários nem dos trabalhadores. Eu defendo a reforma e conversei muito com o Almir Pazianotto e fiz a ele uma pergunta: ?Ministro, dá prá fazer uma reforma da legislação trabalhista mexendo no custo dos encargos na folha sem  tirar direito??  E ele me dizia: ?Dá!.? E me mostrou um estudo que é até revoltante: de cada 100 reais que se paga nos encargos sociais do trabalhador, 38 beneficia o trabalhador; 62 enroscam ou na corrupção, desvios, na máquina pública pesada,  enfim, em tudo o que vem antes no caminho que cerca, que fica entre o empregador e o trabalhador. Nós podemos  reduzir os custos, na folha, dos encargos sociais, e desta forma estimular a contratação de mais trabalhadores. Nós fizemos isto quando mexemos na legislação trabalhista rural quando aprovamos a emenda constitucional 28, que igualou os direitos, em cinco anos, para prescrição das ações trabalhistas. E  á um dado que revela que o número de carteiras assinadas aumentou 11%. E 11% no campo são 2 milhões de carteiras assinadas. Por que não será possível nós fazermos a reforma da legislação trabalhista?

 

Dívidas e empréstimo do FMI - E quando vejo também que temos na pauta de votação o empréstimo do FMI,  o Senado tem que votar. E o que mais me marcou em determinado momento, um sofrimento muito grande que eu tive no Senado Federal foi quando eu me coloquei na posição de, coerente com o discurso que o governo fazia, brigar pelo ajuste fiscal e pelo equilíbrio das contas públicas. Aí eu peguei um debate ingrato para mim, porque as pessoas diziam, como um dos candidatos que passou por aqui hoje, dizia: ?O Osmar é agrônomo, ele não entende nada de conta pública?.  Mas eu sei fazer conta de mais e de menos, e quando pega a coluna da receita e da despesa e vê que não bate, eu sei que aquilo lá vai furar e alguém vai ter que pagar a conta. E aquele debate que eu peguei de que o Paraná não pode construir uma dívida que não vai pagar, eu peguei também com a União. Por isso tive também um debate com o ex-governador Mário Covas, e depois ele passou a me respeitar. E sempre que o Covas me encontrava ele falava. ?Osmar, você estava certo?. Porque eu fui ao gabinete dele para dizer que o governo não podia colocar R$ 62 bilhões no Banespa tirando do setor produtivo. Aquele banco não tinha direito de, quebrado, levar tanto dinheiro da sociedade.

 

Conseqüência da falta de reformas - E o empréstimo que o FMI está nos concedendo foi comemorado, só que este empréstimo nós vamos ter que aprovar porque não tinha mais jeito mesmo. O rombo já estava feito e não tem mais por onde fugir, porque 75% desta dívida de 800 bilhões (de reais) que o Brasil tem é do setor privado que foi estimulado a tomar empréstimos em dólares no momento em que o câmbio era 1 para 1 e de repente o governo não conseguiu estabelecer uma política cambial estável, obrigando os empresários comprarem dólar para pagar a dívida. A lei da oferta e da procura disparou o dólar e nós temos que pôr dólar. Eu vou votar a favor do empréstimo do FMI, mas voto amargurado porque este empréstimo só está sendo feito porque as reformas de que estamos falando não foram feitas antes. Nós poderíamos estar internando dólar bom e não o que o Esperidião Amin chama dólar de motel, que chega de noite e sai de dia. Esse dólar de motel não presta, não vai gerar emprego, na verdade vai gerar desemprego. Nós estamos na verdade jogando mais lenha na fogueira, aumentando a causa pela qual nós estamos fazendo empréstimo no FMI.

 

A questão da Alca - Então eu volto pras reformas que temos que votar e falo também  de outro assunto gravíssimo que vamos ter que decidir, pois no dia 15 de janeiro os presidentes brasileiro, mexicano, americano e outros, vão se sentar para decidir o ingresso do Brasil na Alca. O Ciro esteve aqui no Paraná falou: ?eu não me sento à mesa?. Acontece que tem um acordo escrito, que obriga discutir a Alca. E eu tenho andado pelo Paraná e verificado que a igreja está participando de debate. Inclusive recebi um telefonema do movimento carismático da igreja católica dizendo, ?olha, os candidatos que estiverem a favor do Brasil na Alca não vão ter o voto?. A igreja vai orientar contra. A igreja evangélica, alguém me disse a mesma coisa. Então, eu estudei esse assunto e tenho uma conclusão, mas eu não gostaria de chegar no Senado no ano que vem sem antes ouvir aqueles que estão  me elegendo, para  saber qual a posição que devo adotar. Se fosse por mim,  neste momento, eu diria ao governo brasileiro, que eu posso até votar a favor da Alca desde que o governo brasileiro exija uma profunda revisão da política protecionista dos Estados Unidos. Os Estados Unidos têm que reduzir as alíquotas de proteção dos mercados para os produtos que estamos exportando e têm que rever a política de subsídios, porque não cumpriram o acordo assinado no Uruguai de que não aumentariam os subsídios até o dia 15 de janeiro, exatamente na data em que seria  discutida a Alca. Mas como o Bush não respeita nem o Protocolo de Kyoto, não respeitou a Rodada do Uruguai(do Gatt), e diante deste quadro, como nós vamos ter que decidir como a situação está, o meu voto é contra o ingresso do Brasil na Alca. É um voto, mas é um voto contra. Eu acho que o setor cooperativista deveria se reunir e deveria orientar aqueles que vão votar - serão apenas três senadores (do PR) - e dizer:  ?nós queremos o voto desta forma e nós vamos debater?. Mas eu digo já que o meu voto neste momento é contra o ingresso do Brasil na Alca. Se eu for convencido do contrário, eu revejo a minha posição.

 

Bancada do agronegócio x protecionismo - E diante deste quadro todo, eu coloco aqui o seguinte. Eu participei de reunião de associações comerciais, as cooperativas estão me recebendo, me dando espaço prá falar. Estou achando isso um avanço significativo. Porque quando nós reclamamos da Farm Bill, a gente fala que os EUA nos massacram com esses subsídios, com esse protecionismo. E eu fui verificar por que o Congresso americano aprova a Farm Bill. Com 3% da população americana vivendo no campo, 3%, é a segunda maior bancada, a bancada do agronegócio; a primeira é a dos advogados. Então eles aprovam! E por que nós não aprovamos aqui? Porque nós não conseguimos nos conscientizar ? aliás nós já ? mas nós não conseguimos conscientizar a sociedade brasileira da importância estratégica da  produção agrícola e agroindustrial do país. No dia que isto for acertado, nós acertarmos neste alvo, da de conscientizarmos a sociedade urbana da necessidade de se apoiar, como a francesa fez , onde  o cálculo que se faz é que o subsídio francês na agricultura custa para cada trabalhador francês 7% do salário. Você tira da conta, do salário do trabalhador para subsidiar. Mas eles aceitam porque do dia que começou o subsídio até hoje, o custo da alimentação  na vida de um francês foi reduzido em 30%. Então, 7 para 30, vale a pena! E eles pagam porque sabem que estão pagando para um setor estratégico, que é a segurança alimentar.

 

Investimentos no interior - Talvez seja esse o grande desafio que nós temos: o de demonstrar para a sociedade brasileira o que os americanos já conseguiram fazer, de que nós estamos falando de um segmento estratégico para a economia e para resolver o problema social de um país. Porque quando eu vejo um discurso do combate à violência e o desemprego, sem falar de investimentos do setor primário e na agroindústria, eu passo a não acreditar porque  acho que isso é impossível, porque para combater o êxodo você tem que manter as pessoas lá. Quando eu falo que não concordo que os 71% dos investimentos (do Estado) foram feitos na região metropolitana, não é porque eu tenho alguma coisa contra a região metropolitana, mas porque eu acho que se fizermos 100% dos investimentos aqui,  essa região seria mais prejudicada do que foi com 71%. O problema é que só apoiando uma região, você cria o desemprego e a miséria nas outras regiões do Estado e faz com que aquelas pessoas busquem só em uma região essas oportunidades. E com isso estamos multiplicando os problemas sociais aqui e é muito triste abrir os jornais e ver que tem oito estupros por dia. E as pessoas acham que vão combater isso com polícia. Eu não concordo.  Até acho que a idéia de fazer uma repressão agora, rigorosa traz algum resultado. Mas nós não podemos descuidar do que causa isso, que é o êxodo rural,  o êxodo do interior, que só será contido com a volta dos investimentos no setor agropecuário  e com uma política de desenvolvimento que leve em conta a nossa vocação, regionalizando esse desenvolvimento através de políticas que aproveitem o potencial de cada região.

 

Apoio ao empreendedorismo - Eu também vejo que é impossível falar em micro e pequena empresa se você não tiver na sua proposta de governo a integração dos serviços de vigilância. Porque hoje falar: ?vamos apoiar a pequena empresa, a micro empresa?,  tudo bem. Só não está vendo de que cada dez microempresas e pequenas empresas abertas no Paraná nos últimos  cinco anos, sete fecharam, porque não é só dar o crédito. Tem que dar o crédito, oferecer assistência técnica, tem que colocar à disposição técnicos para orientar não apenas antes da  instalação, mas pelo menos no prazo de maturação do projeto, 5 anos, 6 anos, de acordo com o  tipo de negócio. E tem que vislumbrar que quando colocou o dinheiro para um trabalhador que sonhou um dia ser um pequeno empresário,  e com esse dinheiro que ele investiu, se você não der a ele condições de continuar no negócio, ele vai voltar para uma situação muito pior do que aquela que ele estava  antes de instalar aquele negócio, porque antes não tinha dívida, e agora vai ter dívida. Então é uma responsabilidade muito grande que o Estado tem em criar  políticas que possam promover o desenvolvimento econômico e social sem distorcer aquilo que é a nossa vocação.

 

Mais empregos na agroindústria - Eu vi aqui um candidato falando sobre os investimentos na região metropolitana - está na Gazeta do Povo do dia 28 - são 2 bilhões de dólares os investimentos das três montadoras, para criar 5.500 empregos. Então é claro que se a cada 10 mil dólares você cria um emprego na agroindústria, você teria 200 mil empregos. E a prova que esse modelo não está correto é que em 1995 nos tínhamos 250 mil desempregados. Hoje nós temos 500 mil; dobrou. Se continuarmos com esse modelo nós vamos, daqui a 7 anos, dobrar novamente o número de desempregados no Estado. Aí o caos social fica irreversível. Nós vamos colocar 1 milhão de desempregados na rua, mas isso ninguém suporta, nenhuma sociedade suporta, aí já é a Argentina. E nós temos que impedir que isso aconteça fazendo o que foi feito muito tempo atrás, quando dizíamos que era possível trazer a citricultura no Paraná. A Cocamar acreditou, pôs a indústria; a Corol acreditou, pôs a sua indústria. Eu fique emocionado outro dia visitando as duas empresas: é caminhão na fila, caminhoneiro trabalhando, é gente colhendo no pomar, é gente trabalhando na indústria, gente limpando a indústria, gente transportando. Então, o que se multiplica na economia local, fazendo a roda da economia girar mais rápido, é o efeito de um projeto de desenvolvimento que leva em conta exatamente esta situação.

 

A conduta ética dos eleitos - Eu misturei um pouco o Congresso com a política de desenvolvimento do Estado de propósito para dizer que a política de desenvolvimento do Estado só será eficaz se nós aprovarmos também as  reformas do Congresso. Então, não adianta a gente se concentrar apenas na orientação do eleitor pra votar no presidente da República e no governador, se nós não tivermos, principalmente no Senado, pois o Senado é que vai ter a pauta densa. Nós é que vamos votar a Alca, nós é que vamos votar o empréstimo do FMI, nós é que vamos votar a política que o governo quer fazer de minirreforma tributária.  Vamos votar tudo isso. E quando você olhar para um candidato ao Senado, você tem que olhar, primeiro, se ele está preparado para este debate, principalmente para representar um Estado como o Paraná. Se os americanos conseguem aprovar a Farm Bill é porque eles olham para o cidadão e dizem: ?Esse aí vai votar com o setor produtivo?. Ele não vai obedecer a uma orientação que vai desrespeitar os direitos e os interesses do setor produtivo. Agora, o Senado é coisa muito séria. Não se pode discutir o Senado desprovido deste sentimento: a conduta ética tem que ser inquestionável. Eu participei de um momento muito histórico no Senado Federal: o Senado cassou, pela primeira vez, um senador por corrupção. E o clima que está hoje dentro do Senado é o seguinte: se nos cassamos o Luiz Estevan, se nós cassamos o Jader Barbalho ? e eu fui o relator do Jader Barbalho e tive que enfrentar um dos melhores advogados do Brasil, eu sendo agrônomo - é porque eu estava lá representando um Estado que não quer mais conversa com a corrupção. Eu acredito nisso, que o Estado não quer mais conversa com a corrupção. E eu votei pra cassar o Jader Barbalho e ele renunciou. Os outros dois renunciaram.

 

Choque de ética - Eu entrei com projeto de lei proibindo a renúncia e se renunciar perde o mandato. O projeto não foi votado, mas vai ser votado, porque eu acho que nós temos que dar um choque de ética no Brasil. Sem o choque de ética não saem as reformas. Agora, sem a orientação das lideranças  nesse momento fica difícil. Eu vou pedir pra vocês porque eu não tenho como brigar, eu não tenho televisão, não tenho jornal, não tenho instituto de pesquisa. Eu não posso comprar pesquisa. Eu só tenho aqueles que confiam em mim para me representar onde não estou. Pedir mesmo que me elejam se é que eu sou importante neste momento da vida brasileira, que será um momento de transição, onde o Brasil pode ter um rumo pra cima ou pra baixo, dependendo daquilo que for feito dentro do Congresso orientado pelo Presidente da República. Eu tenho convicção de que eu posso ajudar neste momento de transição, mas eu sinto que falta mais do que aquele apoio que é manifestado muitas vezes em recinto fechado, falta para que a eleição se torne um momento de debate. Vocês não estão me vendo por aí fazendo folia na campanha. Eu também quero contribuir pra mudar o comportamento da política do Estado. Eu me nego a fazer parte de determinados eventos que são, na minha opinião, um desrespeito para a população. Eu tenho feito debates como esse e minhas reuniões têm sido muito mais cansativas, é claro, do que fazer uma carreata e ir num comício falar dois minutos.

 

Conquistas para a sociedade - Eu vejo, aqui neste documento da Ocepar com as propostas aos candidatos, a referência ao Banco da Terra, de que ?o programa é altamente relevante para o país?.  Sabem de quem é o projeto Banco da Terra? É meu. Um projeto meu, junto com o senador Esperidião Amin. E pouca gente sabe disso, sabe por que? Porque você não tem rádio, não tem jornal, não tem televisão pra divulgar. Por isso você tem que contar com os amigos. Já são 60 mil famílias que foram assentadas pelo Banco da Terra. Um projeto que o Amin e eu apresentamos, lutados, o governo depois se apossou dele. Mas não tem problema, é um projeto nosso, ele está em vigor e eu fico muito feliz. Outro dia eu fui a Santo Antonio da Platina e os agricultores foram lá pra tirar fotografia comigo. Aquilo me pagou muito mais do que qualquer outra coisa, ver os agricultores com os olhos cheios de lágrimas, dizendo, ?olha, eu era desempregado, estava há cinco anos desempregado e hoje eu estou no meu pedaço de terra sustentando minha família?. Eu acho que essa sintonia me dá o direito de falar com sinceridade: eu preciso da ajuda de vocês neste momento para pedir voto, pedir apoio das outras lideranças, pra que se multiplique este efeito, porque as pessoas menos informadas não têm o dever nem a obrigação de saberem se eu estou trabalhando sério ou não.

 

Volta ao Senado - Quero voltar ao Senado. Preciso de vocês. E esse é um momento muito delicado: começou uma guerra na campanha eleitoral e eu não quero entrar nessa guerra. Eu quero continuar apresentando as minhas idéias, as minhas propostas, falando sobre aquilo que eu acho que é importante para o país e, sobretudo, com os meus gestos e minhas atitudes escrevendo a minha biografia. Porque dos discursos a gente se esquece, mas dos gestos e das atitudes a gente não esquece. Por exemplo, agora, olhando para o Inácio eu lembro que um dia eu fui lá no aniversário dele ele chorou em cima do palanque. Significa que não me esqueci do gesto, mas não lembro de uma palavra que ele falou no discurso dele.  É verdade, Inácio, mas lembro do seu gesto de ter chorado, mas você não lembra de uma palavra do que eu falei. Só que se lembra do gesto de eu ter ido lá. Então, este gesto de que eu estou dizendo, eu quero eu quero neste momento que vocês tenham um gesto efetivo de apoio à candidatura, se vocês acham que ela é importante para o setor do Cooperativismo. Recebi da Unimed as propostas, não li ainda, não vou comentar,  mas como eu conheço praticamente todas, e eu estou com a pauta do municipalismo e do Cooperativismo em dia,  me coloco à disposição. E pra encerrar, a Lei do Cooperativismo precisa ser aprovada, porque se ela tivesse sido aprovada nós não estaríamos agora dependendo dessa luta do PIS e Cofins, porque na Lei do Cooperativismo já tem isso previsto:  que o ato cooperativo isenta as cooperativas do PIS e Cofins. Nós estamos nesta luta e o João Paulo sabe que eu estou falando com  o Pedro Parente ? apesar de eu estar na oposição eu falo com os ministros, com o governo, porque eu acho que temos que ter respeito acima de tudo.

 

Os prejuízos da desunião e o ICMS da energia - Eu acho que essa mudança que o Senado me ensinou ela é positiva, porque apesar de às vezes apanhar e ser perseguido como fui, sendo expulso do partido, eu entendi que o mais importante para mim é continuar mantendo um bom relacionamento com o  governo pra ajudar o meu Estado. E faço isso pregando, inclusive, a união da classe política e vejo com muita tristeza que a desunião muitas vezes destrói conquistas, como por exemplo, o ICMS da energia. Se nós nos unirmos nós vamos trazer 600 milhões de reais para o Paraná  todos os anos. Eu vou lutar para isso no Senado e eu acho que consigo. Não conseguimos aprovar o TRF, lutando contra muita gente?  Vamos conseguir aprovar o ICMS da energia para o Paraná. Então, eu agradeço a oportunidade da Ocepar - eu sei que o fato de eu estar aqui já é um gesto, não precisa dizer porque. Estou num dia em que os candidatos a governador vieram fazer suas propostas e eu vim falar o Senado. Agradeço a todos a atenção e fico à disposição.

 

Encerramento ? O presidente da Ocepar, encerrou a apresentação do senador afirmando: ?As palavras do nosso companheiro Osmar já mostram o conhecimento e o trabalho que ele faz em relação ao Cooperativismo. Diga-se de passagem, ele não citou o trabalho que faz pelas cooperativas urbanas. Há uma promessa do ministro em resolver a questão dos 15% que nós pagamos para os tomadores de serviços. E a semana passada a Casa Civil disse: Esse assunto nós vamos resolver?. Então,  é um outro trabalho que está sendo feito que vai beneficiar as cooperativas de trabalho, as cooperativas de crédito e as cooperativas da área de saúde. Bom, Osmar, eu acho que nós aqui não precisamos manifestar o nosso posicionamento aqui porque você sabe com clareza o que representa o trabalho  importante que representa o Senador Osmar Dias para o Cooperativismo do Paraná. E a gente tem absoluta certeza que essa consciência está na cabeça de cada uma dos participantes desse evento que, certamente disseminarão essa idéia.

 

?E nós precisamos subir, não apenas em nome do setor produtivo, mas em nome daqueles 25 milhões que não completaram 15 anos e que não estão comendo, e daqueles 54 milhões de brasileiros que precisam de políticas públicas que possam oferecer cidadania, que é o que está faltando?. 

 

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