Opinião:Tráfego precário aumenta preço dos produtos
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O consumidor também acaba pagando pela falta de conservação das estradas brasileiras. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), parte dos gastos gerados pelas dificuldades de escoamento da safra é repassada para o produto, deixando-o mais caro. “As más condições de conservação provocam, inicialmente, diminuição da velocidade de tráfego, acarretando um aumento no consumo de diesel. Também crescem consideravelmente os gastos com a manutenção dos veículos”, explica Marisa Tosta, gerente de Movimentação de Estoques da Conab.
As perdas começam a ser contabilizadas durante a própria colheita. “O desperdício inicia com a má regulagem dos equipamentos, passando pelo armazenamento, carregamento e transporte”, adverte Paulo Roberto Carvalho, técnico da Conab e um dos responsáveis pelo estudo “Situação das Estradas Brasileiras Importantes para o Escoamento da Safra”, realizado em 2004 pela Conab. Para mudar esse cenário de perdas – que não ocorrem somente com grãos, mas em todos os segmentos da produção agrícola –, a Conab entende que seria necessário começar com a conscientização do produtor, mostrando que o prejuízo é causado também pela má utilização dos equipamentos. “Outro ponto crucial é a necessidade de investimentos na modernização da rede armazenadora, o que possibilitaria perdas menores tanto no armazenamento, quanto no carregamento”, argumenta Carvalho.
Outra iniciativa importante, diz ele, é ter um programa contínuo de incentivo à renovação da frota de caminhões. As condições da carreta de um veículo podem influenciar na perda de produto, já que, com o decorrer do tempo e os vários tipos de carga que são transportados, há uma tendência natural de ruptura do assoalho e das laterais e corrosão da estrutura metálica, o que provoca vazamentos dos grãos no decorrer da viagem.A idade média da frota de caminhões autônomos é de 18 anos, segundo estudos do Centro de Estudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Apesar de haver uma manutenção periódica por parte das empresas, os motoristas autônomos costumam regular o veículo apenas uma vez ao ano, sempre entre o período de Natal e Ano-Novo, quando as ofertas de cargas diminuem significativamente. “Não podemos dizer que a manutenção da frota é eficaz, pelo que temos observado nas estradas. As condições atuais das rodovias demandariam um cuidado maior com relação a esses serviços por parte dos autônomos e empresas transportadoras”, orienta o técnico da Conab.
O bom transporte da safra, segundo Carvalho, depende de investimentos para a recuperação de rodovias, equipamentos nas hidrovias (um potencial natural do País) e nos portos, além da construção de novos trechos ferroviários.“Com a aprovação da lei de Parcerias Público Privadas pelo Congresso, acreditamos que haja aplicação de recursos nos setores a médio e a longo prazos, já que o agronegócio nos últimos anos é um dos principais responsáveis pelo equilíbrio da balança comercial brasileira”, salienta. Carvalho diz que, no caso específico dos portos, além de investimentos, a redução dos custos portuários é de vital importância para a revitalização do transporte de cabotagem na costa brasileira, reduzindo, também, o custo final dos grãos a serem exportados.
O ideal seria que existissem armazéns “pulmões”, para transbordo dos produtos, em um raio de, no máximo, 500 km das principais regiões produtoras.“Esse sistema deveria ser dotado de desvios ferroviários, interligado a hidrovias e portos dentro dos principais corredores de escoamento”, afirma Carvalho. De acordo com o especialista, haveria diminuição substancial nos custos dos fretes com a utilização da intermodalidade, gerando eficiência e eficácia no escoamento dos produtos e aumentando a competitividade do setor produtivo. “Segundo estudos realizados por algumas entidades do setor de logística, o transporte rodoviário seria recomendável para percursos com menos de 500 km; o ferroviário para intervalos entre 500 e 1.200 quilômetros; e o hidroviário/marítimo para pares de origem e destino acima de 1.200 quilômetros”, lembra ele.Artigo publicado na edição 674 (mês de fevereiro de 2005) da Revista A Granja