OPINIÃO: Inversão de ciclo na exportação de carne bovina

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 Desde 2003 a carne bovina brasileira vem sendo beneficiada pelo surgimento do Mal da Vaca Louca no rebanho dos Estados Unidos, o que levou a carne bovina norte-americana a ser excluída do mercado russo (dentre outros), comprometendo seriamente o desempenho das suas exportações. Dados da Meat Export Federation mostram que as exportações de carne bovina dos EUA para Rússia, entre janeiro e setembro deste ano, atingiram 265 toneladas, gerando pífios US$ 824 mil aos frigoríficos daquele país. Porém, em maio último, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reconheceu os EUA como "risco controlado" e seguro para exportar carne bovina, e desde então os negociadores do uncle Sam vêm trabalhando para obter pleno acesso ao mercado russo, que tem crescido bem acima da média mundial, alavancado pela disparada da cotação do petróleo. O momento para retomada das exportações mostra-se extremamente favorável para o produto norte-americano, auxiliado pelo dólar enfraquecido. E esta possibilidade não é nada auspiciosa para a exportação de carne bovina brasileira, cada dia mais dependente dos importadores russos.

Outro embargo russo que está prestes a cair é o imposto desde novembro de 2005 à carne bovina da Polônia, país integrante da União Européia, e que em represália à essa medida vem obstruindo as negociações tanto de um acordo energético entre a Rússia e o Bloco Europeu quanto da adesão russa à OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Como a solução de tais pendências é primordial para os interesses econômicos e estratégicos de Moscou, a abertura à carne polonesa deve sair a toque de caixa.

Também de olho grande no imenso mercado russo estão nossos hermanos argentinos, que terão revistas no final do mês as restrições unilaterais impostas pelo governo do Sr. Kirchner para conter a evolução dos preços internos do boi e da carne (e controlar a inflação), estabeleceram limitações aos volumes exportados de carne bovina. Tudo indica que o novo acordo a ser fechado entre o governo da Sra. Kirchner e a indústria frigorífica local, com vigência a partir de 1.º de janeiro, estabelecerá maior flexibilidade para que a cadeia da carne bovina possa desenvolver o seu potencial e assim partir para a recuperação do espaço que outros concorrentes (principalmente o Brasil) ocuparam a partir do "auto-embargo". Ao contrário do nosso rico real, a cotação do peso argentino em relação à moeda americana fechou na última sexta-feira em ARS 3,14, fazendo com que o boi gordo argentino hoje custe (em dólar) menos da metade de um animal brasileiro equivalente. Não é por outra razão que os gigantes da nossa indústria frigorífica vêm adquirindo todas as plantas exportadoras disponíveis em solo argentino.

Infelizmente, estes novos fatores, aliados ao ciclo de alta da pecuária brasileira e à nossa política cambial insana, redefiniram o panorama internacional do mercado de carne bovina, não dando margem à que se reprise, em 2008, as vigorosas taxas de crescimento das nossas exportações nos últimos anos. Muito pelo contrário...

Gustavo Fanaya é economista do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado do Paraná (Sindicarne).

(Fonte: Jornal Gazeta do Povo / Suplemento Caminhos do Campo, desta terça-feira, dia 11/12)

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