O TRIGO NOSSO DE CADA DIA
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No ano de 2001, para atender a demanda do consumo interno, o Brasil gastou aproximadamente 1 bilhão de dólares com a importação de trigo. A projeção que se faz para 2002 é de que nossas necessidades devam atingir a marca dos 10 milhões e 100 mil toneladas do produto, contra uma perspectiva de cultivo na ordem, no máximo, de 4 milhões de toneladas. Sem fazer grandes cálculos, podemos concluir que o volume de importação será grande, com a conseqüente evasão de divisas dada a esta nossa necessidade de compra externa.
No último dia 19 de fevereiro, tivemos a oportunidade de participar de uma reunião coordenada pelo Ministério da Agricultura na pessoa do secretário de Política Agrícola - Benedito Rosa do Espírito Santo e mais recentemente, no dia 22 de fevereiro, num encontro na cidade de Londrina com o próprio ministro da Agricultura, Pratini de Moraes. Nestas duas ocasiões, por unanimidade de toda cadeia de trigo presente, fomos enfáticos sobre a importância de ampliarmos a produção de trigo no país. Nesta reunião observou-se uma preocupação, a mesma já manifestada por diversas vezes pelo ministro Pratini de Moraes, que o país venha produzir mais trigo, afinal, condições de clima, solo e tecnologia existem até para superarmos a nossa demanda. Ao mesmo tempo nos foi apresentado pela equipe do Ministério da Agricultura as principais propostas de estímulo ao cereal para 2002.
Cabe destacar as perspectivas de um preço de garantia próximo ao pleito formulado por todas as entidades que compõem o agronegócio do trigo. O setor pleiteou R$ 296,00/tonelada do produto. O governo deverá fixar o preço entre R$ 280,00 a R$ 290,00/tonelada.
A pesquisa da Embrapa, na pessoa do grande defensor do trigo - profissional Benami Baltchuck, apresentou perspectivas positivas e reais possibilidades de ampliarmos significativamente a produção deste importante cereal em outras regiões, especialmente no Centro Oeste.
Os instrumentos de crédito como custeio, AGF, PEP, contratos de opção também foram motivos de debates onde o governo e o Banco do Brasil se comprometeram disponibilizar recursos para dar sustentação ao plantio e a comercialização de trigo. Só o Banco do Brasil deverá disponibilizar neste ano cerca de R$ 250 milhões para o custeio.
Em relação ao Seguro, não será nesta safra que o triticultor poderá contar com tal instrumento, pois não se tem ainda toda proposta concluída para que seja implementado de imediato. Mas existe o PROAGRO e aquelas lideranças que estiveram na reunião puderam sentir na posição expressa pelo Ministério e Banco do Brasil de que haverá PROAGRO para o trigo dentro das regras estabelecidas pelo zoneamento para o produto.
Enfim, pudemos sentir por parte do governo, especialmente do Ministério da Agricultura, a disposição de reverter a incomoda posição "estática" na política de produção de trigo no Brasil.
É óbvio e evidente que para 2002 não há condições de expandir o plantio na forma que gostaríamos, estamos limitados na disponibilidade de semente. Também é importante salientar que se as propostas apresentadas na reunião do dia 19 último forem implementadas, certamente os Estados produtores, especialmente Paraná e Rio Grande do Sul plantarão toda sua disponibilidade de semente.
Só que ainda paira sobre nós uma pergunta: porque até hoje não produzimos trigo para suprir um maior percentual de nossa demanda?
Na realidade já chegamos a produzir, no ano de 1987, cerca de 90% do nosso consumo, prova de que quando há estímulo e mecanismos de apoio a produção, o produtor planta.
Entendemos que para consolidar de vez uma política de trigo no país, precisamos em primeiro lugar de uma política que estabeleça regras de médio e longo prazo, de tal sorte que o produtor e os agentes da cadeia possam se organizar e oferecer as condições indispensáveis para uma maior segurança aos triticultores.
E ficou muito claro pelas manifestações de todos os setores na reunião, da importância e da necessidade de se dispor de uma política de médio prazo para o trigo nacional.
O setor de produção de sementes tem que se preparar para atender demandas crescentes e isto só será possível com sinalização de uma proposta de pelo menos três anos.
Outro ponto que nos cabe salientar é a questão do SEGURO RURAL. Não podemos mais ficar ao sabor da incerteza na produção de alimentos no país. Todos sabemos dos riscos da atividade rural e é necessário que tenhamos, o mais breve possível, a implementação do seguro de renda para aqueles que atuam na área.
Para finalizar, nos parece que a sensibilidade do governo para ampliar o plantio de trigo no país, é altamente positiva e elogiável, mas não podemos esquecer que o estabelecimento de uma política duradoura e estimulante para o trigo, terá que contemplar além do preço, recursos para custeio e comercialização, seguro rural e, sobretudo perspectivas futuras com sinalização clara e objetiva que teremos uma política de pelo menos médio prazo.
Só assim poderemos dizer de boca cheia que o TRIGO NOSSO DE CADA DIA, que já é produzido de forma competente pelo agricultor brasileiro, começa de fato a ser valorizado pelo Governo.
(*) Engenheiro agrônomo e presidente do Sistema Ocepar - Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná.